Caxias do Sul

Neurocientista defende o uso terapêutico da cannabis em palestra na UCS

Neurocientista defende o uso terapêutico da cannabis em palestra na UCS

Uma palestra com o objetivo de desmistificar a cannabis e apresentar os efeitos terapêuticos e farmacológicos da planta ocorreu na última terça-feira, dia 24, na Universidade de Caxias do Sul. O tema foi abordado pelo professor Lucas Fürstenau de Oliveira, que tem doutorado em Ciências Biológicas/Neurociências pela UFRGS.

O assunto iniciou com uma explanação do docente sobre a história do consumo da planta, que já vem de 4 mil anos atrás. Também explicou que a cannabis possui três espécies, que são a Sativa, a Indica e a Ruderalis, além de indicar que a planta tem como composição o tetrahidrocanabinol (THC) e o Canabidiol (CBD).

De acordo com Lucas, são muitas as evidências de efeitos terapêuticos da cannabis, que se dão pelo fato de há receptores canabinoides presentes em todo o cérebro. Entre os efeitos terapêuticos documentados, o professor elenca a diminuição de náuseas, redução de pressão intraocular (pressão dentro do olho), liberação de citocina (proteína que coordena a resposta imunológica), analgésico local, orexígeno (que produz o apetite), calmante, anticonvulsivo e antipsicótico.

Lucas apresentou em gráficos os níveis de dependência de cada substância. (Foto: Caroline Lima)

Durante a apresentação, o docente esclareceu alguns mitos da cannabis, separados em uma seção de ‘tópicos polêmicos’. O primeiro item foi de encontro da dependência química da substância. Lucas apresentou dados apontando que 91% das pessoas que consomem não se tornam dependentes. Já na abordagem sobre a legalização e efeitos sobre o consumo, o professor abordou a história da criminalização e também ressaltou que países que legalizaram tiveram como resultado menor consumo, além de redução de mortes, como em acidentes de trânsito. O neurocientista também desmistificou a teoria de que a cannabis é “porta de entrada” para substâncias mais pesadas. Para Lucas, o conceito é um mito, e que a porta de entrada está localizada no álcool e o tabaco.

 

Ao completar o raciocínio, lucas falou sobre o Risco Compartilhado para Transtorno, onde afirma que o hábito de consumir vem do sistema de busca de recompensa cerebral. “Existe um neurotransmissor, chamado Dopamina, que faz com que a gente deseje as coisas. Quem produz Dopamina no nosso cérebro é a Área Tegmental Ventral. Não tem porta de entrada e sim um sujeito que vai querer consumir tudo que essa área produzir”, explica.

Lucas relata que a política proibicionista é baseada em motivos históricos e sociais. “É um status de origem histórica. A política de guerra às drogas permite que se financie todo um aparato de segurança para lutar contra o tráfico e é do interesse de muitos governos manter essa estratégia, que não está funcionando. Se legalizar, policiais vão perder o emprego, o país vai ter uma diminuição significativa de influência geopolítica, além de eliminar boa parte do dinheiro do tráfico, oportunizando uma diminuição de criminalidade. Ao mesmo tempo, pode-se começar a cobrar impostos em cima disso, como por exemplo ocorreu no estado do Colorado, nos Estados Unidos, após liberar recreativamente o uso. Havendo um aumento de arredação, tem mais dinheiro para a saúde pública”, observa.

A atividade integrou a programação da semana Acadêmica Integrada das Humanidades, promovida pelos Diretórios e Centros Acadêmicos dos Cursos de Humanidades. Entre os objetivos do projeto está fomentar o debate entre os estudantes e a comunidade acadêmica e revelar as potencialidades de docentes e discentes da instituição.