Dando início a uma série de reportagens do Portal Leouve intitulada “Do passado ao presente: as caras de Caxias”, vamos conhecer um pouco da história de um clássico e legítimo morador do bairro Serrano. Uma personalidade que faz parte da vida e da história do local. Há 33 anos morando no mesmo lugar, na rua Francisco Cipriani, próximo da Escola Estadual Victorio Webber, Romildo Garbin preserva a simplicidade de quem chegou em Caxias do Sul para trabalhar e dar mais conforto à família.
Pai de cinco filhos – Edinalva, Elizana, Douglas, Grégori e Gustavo – e casado com a Dona Nelsa, “seu” Garbin ainda é um dos líderes comunitários do bairro. Com a cuia em mãos e os pinhões quentinhos na panela sobre o fogão a lenha, Romildo, natural de Cacique Doble – município com pouco mais de 5 mil habitantes – conta episódios que marcaram sua trajetória no Serrano.
Logo após casar com Nelsa, Garbin residiu no Universitário por apenas três anos e, em seguida, chegou ao bairro mais populoso de Caxias do Sul.
“Me mudei pra cá em 1983. Era bem diferente. A minha rua era mato. Só tinha minha casa aqui. Alguns vizinhos por perto, o compadre Zé ali no fundo, mais uma casinha ali nem cima, outras duas na esquina. O resto era brejo”, diz seu Garbin.
Confira a entrevista:
O senhor viu o bairro crescer. Como você vê este crescimento do Serrano?
Romildo Garbin – A gente chegou aqui, começou a trabalhar na comunidade e igreja também logo em seguida. Não fazendo parte de associações, mas sempre participando dos encontros e reuniões. Tivemos muitas dificuldades por conta da administração pública. Não tínhamos ônibus, não tínhamos água, não tinha transporte de empresa porque aqui as ruas eram péssimas. Uma parte do bairro tinha luz, mas aqui não. Nada disso existia.
Porque tanta dificuldade?
Garbin – O bairro era clandestino, né. A gente já comprou sabendo. Na época da administração do prefeito Victório Três, houve um encalce para que não surgisse o bairro. Eles queriam tirar a gente daqui. Logo em seguida começaram as peleias. No tempo da campanha política eu estava construindo minha casa. E, depois, muitas casas foram barradas. Levaram material do pessoal embora. Desmancharam. Foi muito sofrido. Botaram guardas na entrada do bairro pra ninguém entrar com material de construção e mudanças. Foi uma caminhada bem complicada.
Ficou uma certa mágoa deste tempo com a prefeitura?
Garbin – Olha, mágoa não sei se fica porque a gente tinha uma ideia de que era clandestino, mas não esperava tanta resistência. A gente se propôs a pagar as coisas. A gente queria, pagava, só que eles não deixavam fazer as obras. Eles barravam. A rede de luz estávamos pagando e não deixaram. A água veio na primeira administração do Pepe Vargas.
O senhor, Garbin, tem orgulho de ser uma pessoa que fez o bairro crescer?
Garbin – Acredito que sim, né. Tem que ter. A gente sempre batalhou desde que chegou aqui e até hoje ainda não parei. Trabalho na comunidade. A gente sempre batalhou pelas coisas boas. A parte da Vila Sapo, alagava também quando dava chuvaradas, era um pantanal de água e depois já veio o encanamento. Faz parte do processo do bairro.
O Serrano é um bairro bom pra se viver com a família?
Garbin – Pra viver sim. Eu já morei no Universitário naquela época, 33 anos atrás, mas aqui pra se viver é ótimo.
O que te faz permanecer por tanto tempo no Serrano?
Garbin – Eu fiz a minha vida aqui, né. Logo que casei, comprei aqui. O que eu conquistei, consegui criar meus cinco filhos praticamente sozinho porque não tinha como a mulher trabalhar com os filhos, né… E tem minha casinha, meu terreno, consegui comprar mais dois terrenos em outro loteamento e estamos aí, né.
O que precisa melhorar no bairro Serrano?
Garbin – Tínhamos uma vez a Brigada Comunitária. Hoje, não existe mais. Tu precisas de um chamado urgente, tem que buscar uma viatura no centro e se ela estiver em ocorrências, tu não vais conseguir. Se tivesse a da região, ela seria bem mais prática.
Quando o senhor cita que o policiamento precisa melhorar, significa que o bairro é perigoso?
Garbin – Não. Atualmente, não. Antigamente esteve mais difícil. Sabe, sempre tem aqueles arrombamentos de casa, mas assim.. Está tranquilo. Eu acho bem tranquilo. Se tivesse o policiamento, inibia muita coisa.
Com a atual gestão de Daniel Guerra, alguma coisa mudou?
Garbin – Não tive nenhum contato com ele. Aqui pro bairro acho que não se chamou mais nada. Acho que ele tá sentindo dificuldades de governar. Muitas picuinhas dentro da prefeitura hoje, que não deveriam existir. Nossa associação de bairros até antes da campanha trabalhava bem, corria atrás, depois parou.
Se o senhor pudesse escolher o destino dos seus cinco filhos, gostaria que eles morassem no Serrano?
Garbin – Eu diria pra eles sim, mas nenhum deles está morando aqui. Dois moram comigo ainda, os demais não.
Gostaria de morar em outro bairro em Caxias do Sul?
Garbin – Não. Eu não trocaria o Serrano por nenhum outro bairro. Pra se morar é muito bom aqui.
Assim, o metalúrgico aposentado que há mais de três décadas vive no mesmo local, vai seguir no bairro. Romildo Garbin é um entre tantos que chegaram no Serrano quando não havia nada e, aos poucos, foram o transformando o mais populoso bairro de Caxias do Sul.