Unindo o samba ao universo dos livros, a Escola de Samba Nação Verde e Branco promete realizar um grande retorno à avenida no próximo sábado (08), na rua Plácido de Castro, em Caxias do Sul. Com uma trajetória que já soma 26 anos, a agremiação do bairro Cinquentenário carrega uma trajetória de paixão e resistência, marcada por desfiles memoráveis e um forte vínculo com a comunidade.
Neste ano, seu desfile irá destacar a trajetória da livraria Do Arco da Velha e do Bloco da Velha. Enquanto finaliza os preparativos, a Nação Verde e Branco enfrenta desafios para consolidar o carnaval na cidade e reafirma seu compromisso com a valorização da cultura popular.
Rosaura Moreira Pinto não esconde o orgulho que carrega pela sua escola de samba do coração. A presidente da Nação Verde e Branco, agremiação que idealizou no fundo do seu quintal em 1999, relembra com carinho o início das atividades. O primeiro desfile, ainda como bloco, ocorreu no carnaval de 2000, e teve como enredo a história do descobrimento do Brasil. O empenho rendeu ao grupo o prêmio de Bloco Revelação, garantindo a subida à categoria de escola de samba para a Nação Verde e Branco.
Um dos desfiles mais marcantes da escola ocorreu logo no ano seguinte. Em 2001, dona Rosaura escolheu o tema “Sítio do Picapau Amarelo”, obra de Monteiro Lobato, e lembra com detalhes da reação do público ao colocar a escola na avenida:
“Foi um tema muito bonito e um samba muito bom de cantar. Um samba que o povo assumiu na arquibancada. Inclusive, naquele ano, Pepe Vargas era o prefeito, e ele saiu aonde ele estava e foi para o meio da escola cantar o samba, junto com nós. Para mim, foi muito emocionante”, recorda.
Enredo
Olhando para este ano, o carnavalesco Pedro Ubirajara Rosa resolveu manter o histórico da escola de realizar abordagens culturais em seus desfiles. Com um samba-enredo que tinha pronto na gaveta há 6 anos, Pedro aguardava uma oportunidade para colocar sua ideia na avenida.
Neste ano, a Nação Verde e Branco celebra a história da livraria Do Arco da Velha e o Bloco da Velha, com o título “Se na Do Arco da Velha for uma vez, do Bloco da Velha será sempre freguês”. O carnavalesco ressalta o poético envolvido na transformação de uma livraria, algo que vê como mais erudito e restrito, em algo popular por meio de um bloco de rua, tornando a livraria um “segmento cultural mais elástico na cidade”, em suas palavras.
Ao lado de Germano Weirich e Guilherme Martinato, fundadores do bloco e da livraria, Pedro resolveu juntar as comemorações dos aniversários de 20 anos da Do Arco da Velha e de 25 anos da escola em uma grande festa com o samba-enredo deste ano. Além de Germano e Pedro, a obra também foi composta por Beiçola do Cavaco e Júnior Gaúcho. Ele ainda relembra que foi justamente a Nação Verde e Branco que emprestou os instrumentos musicais para que o Bloco da Velha realizasse o seu primeiro desfile.
“Isso acabou se tornando algo interessante para que a gente pudesse expressar essa narrativa que fala sobre a construção do conhecimento e elevação à rua com os blocos e a cultura popular”, comenta Pedro, que assina a autoria do enredo, da sinopse e do texto, bem como de todas as expressões visuais e musicais do que será exibido na avenida.
Preparativos e desafios
É a partir deste texto-mestre que a escola organiza a produção de suas alas e alegorias, entre planejamento, adaptações, readaptações e arrecadação de recursos, em um processo que leva por volta de 6 meses até o dia do desfile.
Com cerca de 150 integrantes confirmados para desfilar na rua Plácido de Castro, no próximo sábado (08), dona Rosaura e Pedro mantém segredo sobre os detalhes da apresentação da Nação Verde e Branco. Os preparativos da ala das baianas e das demais fantasias estão em fase final.
Oito anos após o último desfile oficial, a escola encara desafios para retomar suas atividades assim como elas eram antes da pausa. Um deles é a reconstrução dos laços entre os membros:
“Oito anos parado acaba criando um desvinculamento com a dinâmica de uma escola de samba. Porque o desfile na verdade é o resultado. Mas o convívio, a sociabilidade de uma escola de samba é que é muito significativo”, ressalta Pedro.
O engajamento com a comunidade é apontado por Dona Rosaura como um pilar, desde o início das atividades da escola. Tanto em dias úteis quanto aos finais de semana, membros da Nação Verde e Branca comparecem aos ensaios, seja para se preparar para o desfile ou para simplesmente assistir aos preparativos.
Perspectivas para o futuro
E é justamente esse vínculo com a comunidade que a Nação Verde e Branco pretende ampliar no futuro. Com um time de futebol infantil já em funcionamento, dona Rosaura planeja também ofertar aulas de percussão e de computação ao mais novos, além de ter uma estrutura adequada para receber os alunos.
“O sonho da Nação é arrumar uma cozinha e um espaço para tirar essas crianças da rua. Estuda de manhã, sai do colégio, vem, almoça e fica fazendo alguma atividade aqui. Tira da rua, tira da droga, e educa. É meu sonho, só que eu vou precisar de uma estrutura para poder manter essas crianças aqui”, comenta.
Preconceito com o carnaval
Sobre a relação de Caxias do Sul com o carnaval, Rosaura destaca a discriminação que percebe em relação ao evento, principalmente em comparação a grandes festividades que celebram a cultura italiana no município. Além disso, rebate os comentários que sugerem que o dinheiro destinado aos carnavalescos poderia ser melhor aplicado em outras áreas:
“Pode criticar, pode falar. As escolas não vão ficar sem desfile por críticas. A gente vai cada vez mais procurar fazer melhor o carnaval de Caxias. Até que um dia ele seja respeitado como ele merece”, conclui.
Serviço
O quê: Desfile da Escola de Samba Nação Verde e Branco
Tema: “Se na Do Arco da Velha for uma vez, do Bloco da Velha será sempre freguês”
Quando: Sábado, 08 de fevereiro de 2025, às 20h
Onde: Rua Plácido de Castro, Caxias do Sul
Entrada: Gratuita