Todo esporte tem a sua própria “Copa do Mundo”, e com o ciclismo de longa distância não seria diferente. A prova Paris-Brest-Paris, com percurso total de 1.200km, é disputada a cada quatro anos na França, sendo considerada uma das mais importantes e antigas da modalidade. Sua primeira edição foi em 1891, e foi fundamental para a criação de outras competições, como o próprio Tour de France, tradicional evento que reúne ciclistas de todo o mundo.
Para que um atleta se habilite a participar da Paris-Brest-Paris, é preciso algumas homologações em seus respectivos países, com competições que iniciam em distâncias de 200km. E neste ano, a prova organizada pelo Audax Club Parisien contou com representantes da Serra Gaúcha. Entre os oito mil atletas amadores estavam Wilson Moro, 38 anos, e Antônio Zaffari, 42, ambos moradores de Bento Gonçalves. No caso de Moro, que é analista de sistemas, foi sua primeira vez no percurso franceses, já para Zaffari, empresário, a segunda.
Esse desafio, como a própria dupla de Bento Gonçalves destacou em entrevista exclusiva ao Portal Leouve, não tem o cunho de “competição”, e atualmente é dedica apenas a atletas amadores, sendo proibida a participação de profissionais. A largada da Paris-Brest-Paris é dada no sudoeste da capital francesa, percorre 600 km até Brest e depois retorna para Paris. Ao todo, os atletas tem 90 horas para concluir o trajeto. Zaffari fez em 86h, enquanto Moro terminou em 87h.
O início no ciclismo de longa distância
No caso de Moro, após anos longe das bicicletas, em 2013 voltou a pedalar e, no ano passado, fez sua primeira grande travessia, os 200km de Florianópolis, influenciado por um vizinho. Para ele, essa ligação com o esporte também tem relação com a saúde.
“Em 2010, 2011, eu estive no auge do meu peso com 115kg e, ao longo da jornada, eu vim regrando a alimentação, mas o ciclismo foi algo que me ajudou muito a estabelecer o peso e fazer uma definição de composição corporal. O ciclismo me ajudou a chegar em uma marca de 78kg, e foi fundamental nesse processo”, relembrou Wilson o analista de sistemas.
Zaffari, por sua vez, brinca que não tem uma relação tão regrada de alimentação quanto o amigo. Mesmo assim, o empresário afirma que semanalmente são muitas horas de treinamento para se sentir apto a participar dessas provas. Ele, que era presidente do aeroclube de Bento Gonçalves, viu de um período sem as aeronaves nascer o amor pelo ciclismo de longa distância.
“Eu dizia: ‘nunca que vou pedalar 20km’. Mas, fui lá e comprei uma bicicleta. Ai eu fiz 14km e deixei ela de lado por um ano, não quis mais saber. E depois um amigo me convidou [em 2018] para pedalar e ai foram 200, 300, 400 [km] e dali por diante”, brincou Zaffari.
Paris-Brest-Paris e o aspecto psicológico
Moro e Zaffari destacam que no ciclismo de longa distância o aspecto psicológico é fundamental para a conclusão das provas. Segundo a dupla, até mesmo as lesões são administráveis em percursos como a Paris-Brest-Paris.
“O que tem que ter em uma prova dessas é o psicológico, 99% das desistências são psicológicas, isso está embasado”, destaca Antônio Zaffari, tendo o raciocínio complementado pelo amigo. “A competição é contigo mesmo, tu tem que competir com o teu sono, tua fadiga, com o teu colapso mental que muitas vezes entra, esse é o jogo”.
Tanto Moro como Zaffari destacaram o respeito dos franceses com os ciclistas, citando que as próprias rodovias são feitas para esses esportes. Eles também afirmam que no Brasil o esporte ainda é pouco difundido pela falta de segurança no trânsito.
Os amigos já planejam o futuro. Wilson Moro fará mais duas provas em 2023 que vão lhe homologar a distância de 10 mil quilômetros, além disso, em novembro, percorrerá 650km no deserto do Atacama, no Chile. Já Zaffari tem em mente participar, no ano que vem, de uma prova de ciclismo de longa distância na Região Norte da Itália com percurso de 1.600km. Ainda assim, a dupla participará do GFNY Bento Gonçalves, em outubro.