Ainda que os técnicos afirmem que os tremores registrados em bairros de Caxias do Sul na madrugada de segunda-feira (13) não tenham sido graves, o susto gerado pelo evento deixou marcas em centenas de pessoas que sentiram os efeitos da movimentação das placas tectônicas. Muitas famílias deixaram suas residências, apesar da chuva fina e do frio que fazia no momento.
O Corpo de Bombeiros registrou em torno de duzentos chamados entre 3h e 4h e chegou a emitir comunicado nas redes sociais pedindo que as pessoas observassem a existência de rachaduras nas paredes e pisos, saindo de casa se esses danos fossem constatados, o que não aconteceu até o momento.
Cassia Chiaradia mora no bairro Madureira. Ela conta que foi verificar as caixas d’água do prédio quando começaram os barulhos, mas que depois a sensação foi de impotência. Mãe de dois filhos, o mais velho PCD, ela optou por deixar o prédio e só voltou para casa na parte da tarde. No entanto, ela diz não se sentir mais segura.
“É horrível, a gente não sabe o que fazer. Parece filme de dinossauro quando eles começam a pisar no chão e daí tu vê que vai abrindo aquelas crateras. Té dá uma angústia por não saber o que fazer na hora. Nós achamos melhor não passar a noite aqui, fomos para casa de parentes. Retornei agora á tarde para dar uma olhada aqui e orientar os vizinhos. Mas te digo que não é mais a mesma coisa entrar em casa”, relatou.
Ouça o relato completo:
A técnica de enfermagem Jenifer Roberta Pereira é moradora do bairro Universitário. Ela disse que, no momento dos tremores, todos dormiam na residência que divide com filhos e outras famílias nos andares inferiores. Mesmo assim, todos saíram de casa, inclusive levando animais de estimação, com medo de desabamento.
“Saímos porque ficamos apavorados. No princípio, nós achamos que eram carros batendo. Até achei que tivessem batido carros dentro do prédio do lado da nossa casa. Só que a sensação é de pânico, é de pavor. Foi assustador. Eu estou sem dormir desde às 3h da manhã. Eu, meus dois filhos, ninguém dormiu, a gente saiu. As famílias da frente também saíram de casa”, contou Jenifer.
Ela conta que os vizinhos tiveram a mesma atitude e que familiares de outros locais também sentiram os tremores. “Uma colega minha de trabalho disse que o marido dela, que trabalha no Hospital do Círculo, também sentiu. O pessoal do hospital também sentiu e também saíram para a rua”, relata.
Ouça a entrevista da moradora:
Marí Elen Merlotti, moradora do bairro Madureira, repete o relato de que a primeira impressão é de uma batida de caminhão no prédio.
“Eu acordei com uma pancada, como se um caminhão tivesse batido no quarto. Era um barulho estranho e ele continuou. Aí quando veio a segunda pancada eu me assustei muito. Fui para a sala, acordei meu esposo, abri a sacada e as pessoas estavam todas na rua, tirando os carros. Estavam assustadas. Aí falei com um vizinho e ele me disse que tinha acontecendo um tremor de terra”, relatou.
Marí disse que os moradores foram orientados pelos Bombeiros e que se percebessem rachaduras deveriam deixar as residências de forma definitiva. Eles voltaram para casa duas horas depois.
“É muito assustador. Nos vestimos, pegamos nossos bichinhos, colocamos no carro e saímos. Depois que a gente voltou eu não me senti nem um pouco segura. Não consegui dormir. O que mais me assustou disso tudo é que estão acontecendo coisas incríveis. Muitas coisas ruins e isso está deixando todo mundo muito preocupado”, finaliza.
Ouça a entrevista:
A presidente da Associação de Moradores do Bairro Madureira, Rosmari Rotta, disse que recebeu mais de 80 relatos do tremor no bairro, mas que não há nenhum registo de danos. Ela disse que a maior preocupação na região é mesmo com deslizamentos.
Especialistas concordam que não há riscos
O geólogo e ex-secretário do Meio Ambiente de Caxias, Nerio Susin, garante que o fenômeno, que se repete na cidade, tendo o primeiro registo na década de 80, não tem potencial para causar danos estruturais.
“O histórico e a situação geológica em que nos encontramos não permitem que haja um tremor de terra de grande magnitude, ou seja, de cinco para cima (máximo 10), na Escala Richter. De quatro para baixo não vai causar nenhum transtorno estrutural”, explica.
O diretor de Gestão Ambiental da SEMMA, geólogo Caio Torques, vai na mesma linha. “Eventos desse tipo não têm poder de destruição, os moradores podem ficar tranquilos. Até agora não detectamos nenhum grande deslizamento de terra nas proximidades de onde foram sentidos”, garantiu.
No ano passado foram registrados outros dois tremores em Caxias do Sul: em julho, no bairro Castelo, e em novembro, no Jardim América. Em 2008 e 2010 o Jardim América também teve registros.
Por meio de nota, a prefeitura de Caxias do Sul descartou “riscos para a população” em decorrência do fenômeno:
“Em relação aos tremores registrados na madrugada desta segunda-feira (13/05) em pelo menos quatro bairros de Caxias do Sul, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SEMMA) informa que não há riscos para a população. Conforme o diretor de Gestão Ambiental da SEMMA, geólogo Caio Torques, o que está ocorrendo é a acomodação de camadas rochosas subterrâneas, o que já ocorreu no município em outras oportunidades.
Também devido ao excesso de chuva nas últimas duas semanas, pode ocorrer a aceleração dessas acomodações devido à lubrificação causada pela água. “Eventos desse tipo não têm poder de destruição, os moradores podem ficar tranquilos. Até agora não detectamos nenhum grande deslizamento de terra nas proximidades de onde foram sentidos”, explica o geólogo.
Conforme o Observatório de Sismologia da Universidade de Brasília (UNB), houve três tremores na Serra Gaúcha. O primeiro, de 2,4 graus, à 1h48 em Bento Gonçalves; o segundo, às 2h58, em Caxias do Sul, de 2,3 graus; e o terceiro às 3h03, com a mesma intensidade, em Caxias, tremores sentidos por habitantes dos bairros Jardim América, Universitário, Madureira e Pio X. No ano passado, duas ocorrências semelhantes ocorreram em Caxias do Sul, em julho (bairro Castelo) e novembro (Jardim América). Em 2008 e 2010 o Jardim América também teve tremores de terra”.
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