Turbinado pela busca cada vez maior de alimentação saudável e pela preocupação com a questão ambiental, o mercado de produtos orgânicos deve pelo menos repetir em 2024 a receita de R$ 7 bilhões projetada para este ano, podendo ultrapassar esse resultado, acredita o diretor executivo da Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis), Cobi Cruz. A cifra, que considera as vendas de alimentos e insumos agroecológicos e também investimentos em certificação de produtores e marketing, ainda é modesta quando comparada ao mercado mundial desses produtos, estimado em 150 bilhões de dólares. Mas dados de pesquisas da entidade indicam um aumento de 16% no consumo de itens livres de agrotóxicos nos últimos dois anos.
Conforme o levantamento Panorama do Consumo de Orgânicos no Brasil 2023, 36% de um total de mil consumidores entrevistados em todo o país afirmaram consumir orgânicos – no Rio Grande do Sul, o percentual sobe para 38%. O estudo é realizado a cada dois anos pela Organis em parceria com a Brain Inteligência Estratégica e, nas edições de 2019 e 2021, o percentual de consumidores de itens agroecológicos havia sido de 19% e 31%, respectivamente. Essa expansão, segundo Cobi, foi motivada pela pandemia de Covid-19, que estimulou o preparo de refeições em casa. “Foi um salto enorme e, toda vez que acontece uma busca muito forte, a gente acredita que depois vem o ‘efeito rebote’. Para nossa surpresa, (o setor) continua crescendo com muita exuberância, isso foi um dado muito positivo”, avalia.
Uma das principais mudanças captadas na pesquisa foi a maior consciência sobre as empresas por trás dos produtos agroecológicos. Nos levantamentos anteriores, a grande maioria dos entrevistados não soube citar nenhuma marca de orgânicos. Na última edição do estudo, o percentual caiu para 56%, sugerindo que o consumidor passou a associar esses itens não apenas a produtos in natura, como frutas e hortaliças, mas também a alimentos industrializados. O avanço dos orgânicos também reflete um maior esforço de divulgação desse segmento de mercado, segundo a Organis. “O orgânico é uma marca que vem crescendo muito fortemente e, com ele, cresce um significado muito importante, o de que não é só um benefício individual de saúde, mas um benefício coletivo, ambiental e social. Ou seja, mesmo quem não consome orgânico está se beneficiando dele”, diz Cobi.
Apesar do crescimento, as dificuldades econômicas enfrentadas pelo Brasil ao longo de 2021 e 2022 reforçaram a percepção de que os orgânicos são mais caros, citada por 83% dos entrevistados que já consumiam esses itens e 87% dos que ainda não os consumiam. Para 54% dos consumidores de orgânicos ouvidos no levantamento, o preço é o principal motivo para não comprarem os itens em maior quantidade. Uma fatia de 57%, no entanto, afirmou que estaria disposta a pagar até 20% mais pelos orgânicos.
Entre os entrevistados no Rio Grande do Sul, o percentual dos que desembolsariam mais chega a 78%, o que, para Cobi, pode ser explicado pela maior conscientização em torno da agroecologia e pela boa oferta de assistência técnica aos produtores. “É um estado muito interessante em oferta e consumo de orgânicos. A agricultura orgânica depende muito de política pública e, quando o estado promove a extensão rural para orgânicos, isso faz uma diferença”, diz Cobi. Ele destaca ainda a atuação da rede Ecovida, que facilita o processo de certificação dos produtores por meio do modelo participativo, para que possam estampar o selo de orgânico em seus produtos.
A pesquisa
Em relação ao estudo de 2021, o número de consumidores de orgânicos avançou 16% em 2023; 36% dos entrevistados afirmaram ter comprado esses produtos nos 30 dias anteriores à pesquisa, e 46% disseram ter consumido nos seis meses anteriores.
Os produtos orgânicos mais consumidos no Brasil são: verduras (citadas por 57%), frutas (55%), legumes (44%), açúcar (11%), grãos e farinhas (11%), sementes, nozes e castanhas (4%) e sucos engarrafados (44%).
Nos segmentos de verduras, legumes e frutas, os alimentos orgânicos mais consumidos no Brasil são, respectivamente, alface, batata e banana.
Os principais locais de compra dos orgânicos são os supermercados (54%) e feiras agroecológicas (49). O restante se divide entre lojas exclusivas de orgânicos (12%), outros tipos de comércio (9%), lojas de conveniência (2%), aplicativos (2%) e sites de e-commerce (1%).
No Rio Grande do Sul, para 35% dos consumidores de orgânicos, o valor médio mensal gasto em produtos orgânicos é superior a R$ 200. O restante gasta até R$ 50,00 (13%); de R$ 50,01 a R$ 100,00 (26%); de R$ 100,01 a R$ 150,00 (10%) e de R$ 150,01 a R$ 200,00 (16%).
Com relação à frequência de compra dos orgânicos no Rio Grande do Sul, 45% disseram adquirir os produtos mais de oito vezes por mês. O restante compra sete ou oito vezes (10%); cinco ou seis vezes (19%); três ou quatro vezes (13%) e uma ou duas vezes (13%) por mês.
Fonte: Panorama do Consumo de Orgânicos no Brasil 2023 – Organis