Caxias do Sul

Menina morre e mãe reclama de diagnóstico médico do Postão 24 horas, em Caxias

Isabeli apresentava inchaço no pescoço em uma das vezes que foi levada ao Postão 24 horas. (Foto: Divulgação)
Isabeli apresentava inchaço no pescoço em uma das vezes que foi levada ao Postão 24 horas. (Foto: Divulgação)

O Pronto Atendimento 24 horas, em Caxias do Sul, volta a ser alvo de questionamento por parte da população. Desta vez, Deise Flores Ramos, mãe da menina Isabeli Ramos de Sant’anna, de sete anos, diz que houve erro de diagnóstico durante o atendimento da filha na casa de saúde. Somente na terceira vez que a mãe procurou o Postão, Isabeli foi diagnosticada com escarlatina. A menina chegou a ser encaminhada ao hospital Geral, mas não resistiu e morreu na madrugada do último domingo, dia 24.

Deise conta que a primeira vez que levou a criança até o Postão 24 horas foi no dia 9 de setembro, porque a filha estava com febre. Segundo a mãe, o atendimento foi realizado por uma médica, que constatou um quadro de asma e receitou que Isabeli fizesse uma medicação com a chamada bombinha. Após o atendimento, ela foi liberada.

Isabeli apresentava inchaço no pescoço em uma das vezes que foi levada ao Postão 24 horas. (Foto: Divulgação)

Como a febre da criança e o inchaço na garganta aumentaram no decorrer da semana, Deise voltou a buscar atendimento para a filha no Postão no dia 17 de setembro. Desta vez, Isabeli passou por alguns exames e o médico diagnosticou a menina com caxumba. “Ele constatou que era uma caxumba e disse pra mim ‘mãe, vai pra casa com tylenol e dipirona e daqui dois dias se ela continuar assim tu retorna”, conta Deise.

Segundo a mãe da menina, no entanto, os exames apresentavam uma alteração significativa. Por isso, ela acredita que tenha havido um erro de diagnóstico. “O exame de sangue dela deu muito alterado. A doutora no hospital Geral disse que eles não poderiam ter me liberado para casa com aquele exame de sangue. Eu acho que ali teve a negligência”, lamenta.

Na segunda, 22, e na terça-feira, dia 23, a febre deu uma trégua, mas a mãe notou o aparecimento de outros sintomas no corpo de Isabeli e retornou durante a madrugada da quarta-feira ao Postão. “A febre dela baixou um pouquinho na segunda. Na terça-feira de manhã ela acordou sem febre, mas a língua tava inchada e eu notei algumas manchinhas no corpo, só que achei que era uma reação da medicação. Eu não dei mais a dipirona e a febre começou a aumentar. De noite ela acordou e me disse que estava com muita dor nas pernas. Aí eu levantei, vesti ela e tive que carregar no colo de tanta dor que ela estava nas pernas. Aí a doutora examinou e na hora disse que estava com escarlatina, já nos isolou e no outro de dia de manhã já baixamos hospital”, lembra.

No Hospital Geral, Deise diz que uma equipe de cinco enfermeiras e dois pediatras chegou a ser montada para o tratamento da filha. Mesmo assim, a menina não reagiu e precisou ser encaminhada para a UTI na manhã de sexta-feira. “Na madrugada de quinta para sexta a doutora disse que não tinha mais o que fazer e que a Isabeli ia ter que ir para a UTI. Em nenhum momento ela ficava sozinha e não deixavam passar um minuto para dar os remédios para ela”, conta.

No sábado, apesar de uma grande mobilização para a doação de plaquetas para Isabeli, o quadro não foi revertido e a situação se agravou. Durante a madrugada, os familiares foram informados de que ela não havia resistido ao tratamento. “Eu peço que as mães cuidem quando levarem as crianças no Postão. As vezes a gente chega ali achando que vai ter um atendimento bom e dizem que é uma dor de garganta, não fazem um atendimento mais profundo. Eu acho que fiz de tudo, levei ela no tempo certo, mas infelizmente não foi constatado. Eu quero que as mães tenham mais cuidado com seus filhos, porque eu cuidei o máximo e em algum momento acho que teve alguma coisa que eu não percebi”, finaliza Deise.

A Secretaria de Saúde, por meio de nota, disse que “a paciente foi atendida no Pronto Atendimento 24 Horas em três diferentes datas: 11.09, 17.09 e 20.09/2017. Nas três ocasiões apresentava queixas diferentes e foi devidamente tratada conforme avaliação e prescrição médica. Por duas vezes, foi submetida a exames complementares. Em 20.09.2017, após avaliação, manejo médico e identificação da gravidade do quadro, a paciente foi encaminhada ao Hospital Geral. O atendimento prestado à paciente no PA 24H seguiu os protocolos da área da Saúde e se deu com todo o zelo necessário em relação à vida.”

A doença

Segundo especialistas, a escarlatina é uma doença infectocontagiosa aguda, provocada pela bactéria Estreptococo beta hemolítico do grupo A, que acomete especialmente as crianças em idade escolar, durante a primavera.

Essa bactéria é a mesma que causa amidalite, artrite, pneumonia, endocardite e algumas infecções cutâneas. A diferença é que, na escarlatina, ela libera toxinas que provocam pequenas manchas vermelhas e confluentes na pele.

A transmissão ocorre pelo contato direto com a saliva ou a secreção nasal de pessoas doentes ou portadoras da bactéria que não apresentam sinais da enfermidade.

O período de incubação pode variar de um a dez dias. O Diagnóstico precoce e início imediato do tratamento são fundamentais para evitar complicações graves da doença, entre outras, a meningite, o reumatismo infeccioso e a glomerulonefrite.

Mãe alerta para a importância da doação de sangue

No sábado, quando Isabeli precisou de plaquetas para o tratamento, houve uma grande mobilização para doação de sangue. A mãe da menina agradece a todos que fizeram a doação e pede que o hábito seja incentivado. “Foi muita mobilização, muita gente foi doar no sábado. E eles pediram para eu falar e ajudar outras pessoas. Esse é o momento que eu quero agradecer a todos que foram doar e peço para que continuem doando, porque não foi só a minha menina que precisou. Muita gente precisa e não tem sangue suficiente”, alerta Deise.