Das 10 principais causas de morte no Brasil, apenas duas não estão ligadas ao estilo de vida da pessoa – as agressões físicas e os acidentes de trânsito. Todas as demais, chamadas de doenças crônicas não transmissíveis, são passíveis de serem prevenidas a partir de uma mudança nos hábitos, principalmente relacionados à alimentação e à atividade física, defende o médico Gabriel Ferreira Rozin, autoridade brasileira em medicina do estilo de vida.
Convidado pela Liga de Combate ao Câncer de Bento Gonçalves para falar sobre o tema, o médico disse, durante sua palestra no Centro da Indústria, Comércio e Serviços (CIC-BG), na manhã de segunda-feira (04), que grande parte da medicina está focada no tratamento da doença, e não da causa.
Em parte, esse pensamento está ligado à própria evolução da medicina que, ao longo das décadas, erradicou vários tipos de doenças, inicialmente as ligadas à falta de higiene e, depois, as transmissíveis e as infecciosas. “Temos esse paradigma na medicina: espero a doença acontecer para o médico me consertar. Só que, hoje, a gente não morre mais só de pneumonia ou de varíola, e sim de infarto, de derrame cerebral, de diabete, de câncer, doenças crônicas não transmissíveis que lideram o número de mortes no país”, disse o médico, um dos fundadores do Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida.
O clínico e pneumologista elogiou o avanço curativo da medicina, mas disse que embora eles salvem vidas, a grande maioria não atua na causa. Em 2018, um estudo que avaliou uma grande população a partir dos 50 anos por um longo período nos Estados Unidos verificou uma diferença na expectativa de vida. Aqueles que mantinham uma rotina de 150 minutos de atividade física por semana, se alimentavam e mantinham um IMC saudável, não fumavam e consumiam álcool moderadamente viviam, em média, 13 anos a mais do que aqueles que não tinham esses comportamentos.
A dieta que não prioriza os vegetais, aliada a um comportamento sedentário – trabalhar sentado e lazer em frente à TV, por exemplo – e ao estresse e ao sono problemático contribuem para incidência de doenças. Já há estudos, disse Rozin, ligando o consumo de alimentos de origem animal – carnes processadas e lácteos – no desenvolvimento de câncer de próstata e de mama. “A Organização Mundial de Saúde colocou as carnes processadas (mortadela, salsicha, salame, presunto, bacon, etc) como cancerígenas, no mesmo grupo onde está o tabaco”, alertou. “O consumo excessivo de carne, de ovos e de leite está relacionado ao aumento de frequência de câncer e ao menor índice de sucesso no tratamento”, prosseguiu.
Mudança de hábitos
Para mudar esse cenário, é necessário incorporar novos hábitos ao dia a dia. A partir de estudos científicos, a medicina de estilo de vida busca quebrar paradigmas a fim de aumentar a saúde das pessoas e, consequentemente, reduzir os índices de doenças. “A ideia não é só prevenir, mas melhorar o tratamento e, em muitos casos, reverter a doença, atuando na causa”, comentou Rozin, que também atua na equipe de medicina preventiva do prestigiado Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
A medicina do estilo de vida atua sem seis frentes – nutrição, exercício e movimento, tabaco e álcool, manejo de estresse, sono e relacionamentos – e faz uso da ciência do comportamento para ajudar a mudar os hábitos e torná-los naturais no nosso cotidiano. “O médico precisa estar junto com o paciente, de prescritor ele passa também a ser um parceiro, empoderando o paciente. Quebrar o paradigma de esperar a doença acontecer para potencializar a saúde, é assim que vamos ter uma longevidade sustentável, e não criando órgãos em laboratórios”.
Além dos ganhos para os pacientes, a medicina do estilo de vida também traria, segundo Rozin, economia à saúde pública do país. “Uma dieta centrada nos vegetais como principal base da alimentação não só previne câncer de todos os tipos como potencializa a saúde de todas as maneiras, gastrointestinal, cardiovascular, hepática”.