Caxias do Sul

Mães de fibra: três mulheres caxienses dedicam suas vidas como motoristas na cidade e no campo

Adriana, Patrícia e Angelita dirigem trator, caminhão, van escolar e ônibus, e também são mães exemplares

(Foto: Alice Corrêa/Grupo RSCOM)
(Foto: Alice Corrêa/Grupo RSCOM)

No próximo domingo (14) se comemora o Dia das Mães, e sabemos o grande desafio de uma mãe é ter que conviver com a preocupação com seus filhos, se estão alimentados, se estão felizes, se estão protegidos quando saem à noite, enfim. Não há como descrever como se sente uma mãe quando está longe de um filho. Além de toda essa preocupação, têm aquelas que dedicam suas vidas para o trabalho, e nem sempre são tarefas fáceis, como ter que dirigir um caminhão ou viajar quilômetros dirigindo um ônibus, e até mesmo as que precisam manter a segurança das crianças em uma van escolar. Conheceremos a história da Adriana Cristina Bonatto Cantelli, agricultora que manuseia trator e dirige caminhão em sua propriedade, Patrícia Maria Novello, motorista de ônibus e Angelita Schinatto Keiel, que dirige van escolar em Caxias do Sul.

Ser mãe é uma coisa maravilhosa…

Adriana Bonatto, de 49 anos, mãe de dois filhos e agricultora na comunidade de São Braz, não mede esforços para trabalhar em seu pomar de caquis e pêssegos. Desde muito nova sempre esteve envolvida nas atividades do campo, com seus pais. Ela e as duas irmãs começaram cedo a trabalhar com os pais na roça, quando Adriana começou a operar trator e dirigir caminhão, para auxiliar nos trabalhos. Após se casar, arrendou o pomar de caquis de seu pai, e agora atua na produção juntamente com a família do marido, que também mantém a vida dedicada ao campo.

Para ela, ser mãe é algo maravilhoso. “Claro, às vezes dão trabalho, mas os meus eu não posso me queixar, eles não me dão tanto trabalho, a gente sempre se acerta. Eu sempre digo: mãe não é para todas. Mãe não é ter os filhos e não cuidar, não dar carinho. Claro que às vezes, devido ao trabalho, a gente não tem aquele tempo para estar sempre juntos, mas o que dá para fazer”. 

A agricultora conta os desafios enfrentados com sua filha, algo que marcou muito devido à saúde da pequena Eduarda ter ficado debilitada com uma osteomielite, fato que quase ocasionou a perca. “Ela pegou uma bactéria, porque ela tinha umas feridas de picada de mosquito na perna. Fomos à praia, e devido à areia, entrou essa bactéria ali, e até descobrirmos que ela tinha uma osteomielite, pois a bactéria se alojou no pé, eu quase perdi ela. Mas, Deus coloca uns anjos na nossa vida, e deu tudo certo”.

Ela conta que mesmo grávida, em suas duas gestações, trabalhou direto em sua propriedade. Quando os filhos eram ainda bebês, ela ia trabalhar e ficava cuidando deles durante a jornada. Fato que ela conta como cuidava de Artur quando era pequeno, no meio da roça. “Eu embalava os caquis e ele chorava de cólica, e pega ele no colo, e coloca ele de volta, ele chora de novo. É uma luta. Na época de podar também. Na época tinha aqueles “Moisés” e eu levava ele na caminhonete naquilo. Eu ia podando mais para as beiradas da estrada e deixava ele dormindo dentro da caminhonete. Aí, ele chorava porque sentia cólica, eu pegava ele em um braço e ia podando com outra mão. Ele se criou sempre na roça, até ele começar a estudar, com sete anos”.

O nascimento deles foi uma surpresa…

Patrícia Maria Novello, de 46 anos, mãe de quatro filhos, sendo que dois são gêmeos, conta sua história com bastante emoção. Ela, que é motorista de ônibus em Caxias do Sul teve que conviver com a dor da perda, onde dois de seus filhos acabaram falecendo. Um deles no parto, e outro, depois de adulto. Pati, como é mais conhecida no trabalho e por todos que a cercam, destaca que não acreditou quando estava grávida de gêmeos, mas teve uma grande surpresa no dia do parto. “Até então se falava que eles eram gêmeos, mas eu não acreditava. Quando eu vi que eram realmente dois fiquei assim: Nossa, são dois! Foi uma alegria muito grande”.

Um dos maiores desafios enfrentados na vida da motorista foi perder os filhos, um durante o parto e outro, tragicamente após adulto. Patrícia teve de se manter forte devido aos outros filhos, que também precisavam dela no momento de dor. Hoje, Pati mora com a neta, que é a herdeira do filho falecido. Guilherme, filho adotivo, chegou na vida de Patrícia logo após a perda de seu primeiro bebê. O segundo filho falecido, Henrique, foi um momento marcado até hoje na vida de Patrícia. “É uma dor que eu vou carregar, para sempre. Está aqui comigo, mas eu estou seguindo a vida, tocando em frente. Mas é uma luta diária. Isso, para mim, sem dúvida, vai ser mais marcante assim como mãe.”

Pati seguiu a profissão do pai, como motorista de ônibus. Ele foi uma de suas inspirações. Na busca pelas oportunidades, iniciou como motorista de van escolar. Na cidade, foi a primeira mulher a dirigir um ônibus articulado, na qual ela destaca que não foi fácil ter que ouvir as pessoas dizendo que isso não era para ela. “Quando comecei a trabalhar nos articulados, em 2017, fui a primeira da empresa. Quando parei em uma parada, nos camelôs, eu abri a porta e disse: bom dia! Um rapaz olhou, falou assim para mim, assustado “não moça, eu vou no próximo”.

Ser presenteada com dois é maravilhoso…

Angelita Schinatto Keiel, de 50 anos, também foi agraciada com filhos gêmeos, nessa ocasião, um casal. Ela é motorista de van escolar há 20 anos em Caxias do Sul. No início, Angelita trabalhava com massas caseiras, na produção, porém, com a chegada dos filhos se tornou um trabalho dificultoso, por ter que dedicar muito tempo a isso. Então, ela decidiu iniciar a profissão como motorista, com uma tia, que também atua na área. “É um trabalho muito gratificante, é um trabalho que tu tem que gostar do que tu faz. É uma retribuição que a gente tem deles (crianças) é enorme, a gratificação de trabalhar com eles. Hoje vemos os jovens que já são formados e ainda lembram da gente. Às vezes a gente nem conhece, mas eles nos conhecem”.

Como mãe, Angelita ressalta que a notícia de que seria mãe de gêmeos foi uma sensação indescritível. “Só o fato da gente saber que é mãe, saber que é gêmeos, saber que é um casal, é uma bênção assim fora de série. Acho que é a maior bênção que uma mulher pode ter, ainda ser presenteada com dois, e é maravilhoso. Não tem palavras que possam expressar a gratidão de tê-los na nossa vida, de serem saudáveis, de serem gente do bem”.

Um dos momentos mais marcantes e preocupantes na vida de Angelita foi o período de sua gestação, onde aos três meses da gravidez, ela teve a inflamação do apêndice, tendo que ser operada. “Durante a gravidez, onde eu estava grávida de três meses deles eu tive apendicite, eu tive que operar. Não tive outra opção, e o doutor não sabia realmente se era apendicite, embora a placenta estivesse cobrindo o apêndice. Isso foi um fato que preocupou muito, no forte da emoção, da gravidez tão esperada, após oito anos de casada”.

Como motorista de van escolar, Angelita destaca que os maiores desafios são o dia a dia no trânsito. “O desafiador mesmo é o trânsito de hoje, a correria, os dias chuvosos, dias que a gente está com eles na van, mas é algo tranquilo.” Apelidada carinhosamente de Tia Ange, a motorista também falou sobre o carinho das crianças do transporte, mesmo aqueles que hoje são adultos, e sempre a reconhecem pelas ruas da cidade.

Mensagem das mães para todas as mães

“Para ser mãe tem que pensar bem, pois os filhos são para sempre. A partir do momento que tu é mãe, tu vai cuidar, ele vai ser o teu neném, teu filho sempre. Pode ter 50, 60 anos, vai ser o teu neném. Pensem antes de ter os filhos, para não colocar o filho ali no mundo e deixar o mundo criar. Dê todo o carinho que tu puder, o cuidado que tu puder dar e claro, sem fazer todas as vontades, pois depois não consegue voltar. Mas ensinar o certo para que no futuro eles não sofram”, pondera Adriana.

A mensagem de Patrícia remete à condução da vida, assim como conduzir um ônibus, que exige cuidados e amor. “Assim como elas (mães) conduzem como se fosse um ônibus para mim, que conduzam suas vidas, com muito amor, com muito carinho e dê bastante atenção a seus filhos, afeto, carinho. Por mais que a gente trabalhe fora, a gente consegue dar essa atenção e conforto, e se manter presente, pois nunca sabemos quando vai ser a última vez que vamos ver nossos filhos. E procurar falar com eles todos os dias, dizer o quanto são importantes, o quanto ama. Isso eu nunca me arrependi de falar para os meus filhos”.

“Tudo acontece no tempo certo. A gente aprende com eles a cada dia, a cada momento, a cada etapa deles a gente está aprendendo, a gente cresce junto. E tudo é um aprendizado. Ser mãe é uma dádiva. É uma carga maior, em que Deus nos deu esse dom, embora não sendo necessariamente alguns gerados, mas ser mãe de coração. Acho que isso acolhe a mulher em si, ela já é acolhedora, ela tem um coração acolhedor e um coração de mãe por ser mulher”, pontua Angelita.

Fotos: Alice Corrêa/Grupo RSCOM