Comportamento

Mãe de farroupilhense vítima da Boate Kiss fala sobre o julgamento dos quatro réus

Mãe de farroupilhense vítima da Boate Kiss fala sobre o julgamento dos quatro réus

A professora Rosaura Paraboni convive, há quase nove anos, com a dor da perda de um filho. Ricardo Paraboni Custódio tinha 27 anos quando, em janeiro de 2013, junto de outros amigos foi à Boate Kiss, em Santa Maria. Ele é uma das 242 vítimas da tragédia que deixou um vazio no coração de milhares de pessoas.

Rosaura recebeu a reportagem do Grupo RSCOM, em sua casa, no bairro São José, em Farroupilha, e comentou sobre a saudade, o tempo desde a tragédia, o apoio dos amigos do filho e da família, e o julgamento dos quatro réus que começou nesta semana, em Porto Alegre.

Ela disse que tem acompanhado o julgamento pela imprensa e nos contatos que tem tido com os membros da Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria, já que ela não pretende ir à Porto Alegre em nenhum momento dos cerca de 15 dias previstos de duração do júri popular. Ela diz que não irá devido ao quadro de síndrome do pânico e depressão que desenvolveu após a morte de Ricardo.

Foto: Arquivo Pessoal

Neste quase nove anos desde a tragédia, a mãe comenta que tem vivido de lembranças e de não deixar a memória de Ricardo partir. Sobre o filho, Rosaura diz que ele era muito intenso e que era a vivacidade em pessoa. Ela contou que encontra nos amigos dele um motivo e um conforto para continuar.

“É uma coisa que me ajuda. Não deixar a memória dele morrer. Para que ele permaneça vivo com os amigos, que são muito queridos. Eles vem aqui de vez em quando, muitos casaram, tem filhos, e eu fico imaginando onde ele estaria. Como ele estaria hoje? Como ele era assim, eu não consigo imaginar o que ele estaria fazendo hoje”, disse. 

Ela também comentou que seu outro filho, Luiz Eduardo, era muito unido com o irmão, apesar de ser mais quieto que Ricardo, que, conforme a família, era a alegria da casa.

Sobre o julgamento, Rosaura diz esperar que os quatro réus sejam condenados. Ela questiona porém o tempo se levou para marcar a data. Para ela, os quatro tiveram quase nove anos de liberdade, sem punição, e, que apesar de eles terem perdido algo, os familiares perderam muito mais. Rosaura diz entender que o incêndio na boate não foi proposital, mas que os envolvidos criaram condições para que ele acontecesse.

Ela também comentou que nunca pensou se ela perdoa ou não os envolvidos, mas que sente a necessidade de que eles sejam responsabilizados.

Em um momento de emoção, Rosaura contou que muitos amigos de Ricardo levaram as suas cinzas para várias partes do mundo. Ela fala com muito carinho de como eles também mantém as lembranças do filho vivas.

“Tu sabe que eu recebi tantas fotos dele depois que ele morreu de muitas pessoas. E o pessoal tem levado as cinzas deles para vários lugares. Cada um que viaja leva um pacotinho para ter ele junto. Então, o Ricardo está pelo mundo. A última viagem do Ricardo foi para a Austrália, que amigos levaram ele. Porque os guris são do mundo, embora trabalhando, com filhos pequenos, eles continuam por aí né?”.

Sobre uma possível condenação dos réus, Rosaura diz que isso pode aliviar a dor, já que a justiça terá sido feita. Conforme ela, saber que os resposáveis irão pagar por seus atos pode acalmar um pouco as famílias das vítimas da tragédia de Santa Maria.