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Lula se torna o primeiro presidente eleito três vezes na história do Brasil

Conheça a vida de Luís Inácio Lula da Silva, presidente eleito para o 3º mandato, neste domingo (30)

(Foto: Ricardo Stucker/Instituto Lula/Flickr)
(Foto: Ricardo Stucker/Instituto Lula/Flickr)


Neste domingo (30) ocorreu às Eleições presidenciáveis em todo o Brasil. O ex-presidente e eleito novamente para estar a frente do país no próximo ano, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), superou Jair Bolsonaro (PL) nas urnas.

História de vida

Lula, como é mais conhecido, nasceu em Garanhuns, interior de Pernambuco, no dia 27 de outubro de 1945. Ele é ex-sindicalista, ex-metalúrgico e político brasileiro e foi o 35º presidente do Brasil entre janeiro de 2003 e janeiro de 2011. De origem humilde, ainda criança saiu de Pernambuco para São Paulo com sua família. Foi metalúrgico e sindicalista, época em que recebeu o apelido “Lula”. Durante a ditadura militar, liderou grandes greves de operários no ABC Paulista e ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores em 1980, durante o processo de abertura política. Lula foi uma das principais lideranças do movimento Diretas Já, no período da redemocratização, quando iniciou sua carreira política.

É o sétimo dos oito filhos de Aristides Inácio da Silva e Eurídice Ferreira de Melo, conhecida como Dona Lindu, um casal de lavradores que vivenciaram a fome e a miséria na zona mais pobre de Pernambuco. Faltando poucos dias para sua mãe dar à luz, Aristides decidiu tentar a vida como estivador em Santos, levando consigo Valdomira Ferreira de Góis, uma prima de Dona Lindu, com quem formou uma segunda família. Aristides e Valdomira tiveram dez filhos juntos.

Lula nasceu em uma casa que era uma meia-água construída com um estuque (argamassa resultante da adição de gesso, água e cal), em chão de terra. Possuía um quarto e uma sala. Não havia banheiro, por isso, os banhos ocorriam em açudes que se localizavam de seis a oito quilômetros de distância. Os filhos dormiam juntos em redes. Havia dificuldade em acessar água potável. A água que a família bebia era transportada de açudes, precisando ser coada diante da quantidade de sujeira.

Em dezembro de 1952, Dona Lindu decidiu mudar-se para o litoral do estado de São Paulo com seus filhos para se reencontrar com o marido. Ela acreditava que seu marido havia feito esse pedido, quando na verdade foi seu filho Jaime, que já morava com o pai, quem escreveu dizendo que esse era o desejo de Aristides. Após treze dias de viagem num transporte conhecido como “pau-de-arara”, chegaram a Guarujá, onde tiveram que dividir a convivência de Aristides com sua segunda família. Aristides já os havia visitado no Nordeste em 1950, quando inclusive apresentou seus novos filhos para sua primeira família.

A convivência difícil com Aristides, que era obsessivamente controlador, violento e arbitrário, levou Dona Lindu a sair de casa com os filhos, morando inicialmente em um barraco próximo de Aristides e, em 1955, se mudou para a Vila Carioca, um bairro de São Paulo. Lula e seu irmão José Ferreira de Melo — o Frei Chico — moraram algum tempo ainda com o pai, junto com sua segunda família, mudando-se para a capital em 1956. Após a separação, Lula quase não se reencontrou mais com seu pai, que morreu em 1978 e foi enterrado como indigente. Lula e seus irmãos só souberam da morte de Aristides vários dias após o enterro.

Trabalho e educação

Durante o período em que as duas famílias de seu pai conviveram, Lula foi alfabetizado no Grupo Escolar Marcílio Dias, apesar da falta de incentivo do pai, analfabeto, que entendia que seus filhos não deveriam ir à escola, mas apenas trabalhar. Ainda quando morava no Guarujá, aos oito anos, trabalhou como vendedor no cais. Tinha que ir ao mangue para retirar lenha, marisco e caranguejo, além de buscar água e trabalhar eventualmente como vendedor nas ruas.

Aos doze anos, já em São Paulo, começou a trabalhar como entregador de roupas de uma tinturaria, contribuindo na renda familiar. Durante o mesmo período também trabalhou como engraxate e auxiliar de escritório. Em 1960, conseguiu seu primeiro emprego com carteira assinada, como office boy nos Armazéns Gerais Colúmbia. Após, passou a trabalhar como aprendiz de torneiro mecânico na metalúrgica Parafusos Marte. Em 1961, foi aprovado em um curso de tornearia mecânica que era mantido por um convênio entre o SENAI e a Parafusos Marte. Nos próximos dois anos, trabalhava por meio período na Parafusos Marte e no outro meio período estudava no Senai. Em 1963, recebeu seu diploma de meio-oficial de torneiro-mecânico no Senai.

Posteriormente, refletindo sobre o impacto de sua formação como torneiro mecânico, Lula afirmou: “O Senai foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Por quê? Porque aí, eu fui o primeiro filho da minha mãe a ter uma profissão, eu fui o primeiro filho da minha mãe a ganhar mais que o salário mínimo, eu fui o primeiro a ter uma casa, eu fui o primeiro a ter um carro, eu fui o primeiro a ter uma televisão, eu fui o primeiro a ter uma geladeira. Tudo por conta dessa profissão, de torneiro mecânico, por causa do Senai.”

Na Parafusos Marte, Lula participou de movimentos grevistas pela primeira vez. Quando sua reivindicação por aumento salarial não legrou êxito, deixou a Parafusos Marte pela Metalúrgica Independência. Foi ali que, em 1964, esmagou seu dedo em um torno mecânico, tendo que esperar horas até que o dono da fábrica chegasse e o levasse ao médico, que optou por cortar o resto do dedo mínimo da mão esquerda. Nos meses iniciais, sentia muita vergonha da mutilação, buscando esconder a mão no bolso.

De 1964 a 1965, trabalhou na Fris-moldu-car como meio oficial torneiro. Após não ir trabalhar em um sábado, foi demitido. No ano de 1965, ficou muito tempo desempregado, assim como seus irmãos, época em que passaram por privações, sobrevivendo de trabalhos eventuais, os chamados “bicos.” Em 1966, foi admitido nas Indústrias Villares, uma grande empresa metalúrgica de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Lula ali trabalhou como torneiro mecânico, recebendo um salário muito mais alto que o dos seus empregos anteriores. Igualmente, as Indústrias Villares era maior e mais organizada se comparada com as metalúrgicas em que havia trabalhado. Lula se manteve ligado à empresa até 1980.

Vida política

Elegeu-se em 1986 deputado federal pelo estado de São Paulo com votação recorde. Em 1989 concorreu pela primeira vez à presidência da República, perdendo no segundo turno para Fernando Collor de Mello. Foi candidato a presidente por outras duas vezes, em 1994 e em 1998, perdendo ambas as eleições no primeiro turno para Fernando Henrique Cardoso. Venceu a eleição presidencial de 2002, derrotando José Serra no segundo turno. Na eleição de 2006, foi reeleito ao superar Geraldo Alckmin no segundo turno.

Campanha presidencial de 1989

Em 1989, realizou-se a primeira eleição direta para presidente desde o golpe militar de 1964. Lula se candidatou a presidente e ficou em segundo lugar. No segundo turno, Fernando Collor de Mello, candidato do Partido da Renovação Nacional (PRN), primeiro colocado no turno inicial das eleições, foi eleito presidente após receber o apoio dos meios de comunicação e empresários, uma vez que estes se sentiam intimidados ante a perspectiva do ex-sindicalista, radical e alinhado às teses de esquerda chegar à presidência.

Campanhas presidenciais de 1994 e 1998

Luiz Inácio Lula da Silva voltou a candidatar-se à presidência em 1994 e foi novamente derrotado, ainda no primeiro turno, pelo candidato do PSDB, Fernando Henrique Cardoso. Em 1998, Lula saiu pela terceira vez derrotado como candidato à presidência da República, em uma eleição novamente decidida no primeiro turno. No entanto, manteve papel de destaque na esquerda brasileira ao apresentar-se numa chapa que tinha como candidato à vice-presidência o seu antigo rival Leonel Brizola, que havia disputado arduamente com Lula sua ida ao segundo turno das eleições de 1989 como adversário de Collor. Lula tornou-se um dos principais opositores da política econômica do governo eleito, sobretudo da política de privatização de empresas estatais realizadas nesse período.

Primeiro mandato

Abdicando dos “erros” cometidos em campanhas anteriores, como a manifestação de posições tidas por radicais, Lula escolheu para candidato à vice-presidência o senador mineiro e empresário têxtil José Alencar, do Partido Liberal (PL), partido ao qual o PT se aliou. A campanha eleitoral de Lula optou em 2002 por um discurso moderado, prometendo a ortodoxia econômica, respeito aos contratos e reconhecimento da dívida externa do país, conquistando a confiança de parte da classe média e do empresariado. Em 27 de outubro de 2002, Lula foi eleito presidente do Brasil, derrotando o candidato apoiado pela situação, o ex-ministro da Saúde e senador paulista José Serra, do PSDB. No seu discurso de diplomação, Lula afirmou: “E eu, que durante tantas vezes fui acusado de não ter um diploma superior, ganho o meu primeiro diploma, o diploma de presidente da República do meu país”.

Na área de políticas fiscal e monetária, o governo de Lula caracterizou-se por realizar uma política econômica conservadora. O Banco Central goza de autonomia prática, embora não garantida por lei, para buscar ativamente a meta de inflação determinada pelo governo. A política fiscal garante a obtenção de superávits primários ainda maiores que os observados no governo anterior (4,5% do PIB contra 4,25% no fim do governo FHC). Em seu primeiro ano de governo, Lula empenhou-se em realizar uma reforma da previdência, por via de emenda constitucional, caracterizada pela imposição de uma contribuição sobre os rendimentos de aposentados do setor público e maior regulação do sistema previdenciário nacional. A questão econômica tornou-se consequentemente a pauta maior do governo. A minimização dos riscos e o controle das metas de inflação de longo prazo impuseram ao Brasil uma limitação no crescimento econômico, o qual porém realizou-se a taxas maiores do que foram alcançados durante o governo anterior, com um crescimento médio anual do PIB de 3,35%, contra 2,12% médios do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso mas abaixo da média republicana do país. Segundo o economista Reinaldo Gonçalves, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em uma comparação de todos os 29 mandatos presidenciais desde a proclamação da república, Lula fica na 19.ª posição.

Vida pessoal

Em 24 de maio de 1969, Lula casou-se com a operária mineira Maria de Lourdes da Silva, irmã de seu melhor amigo, Jacinto Ribeiro dos Santos, o “Lambari”. Lourdes contraiu hepatite no oitavo mês de gravidez, em junho de 1971, vindo a falecer quando os médicos decidiram fazer uma cesariana para tentar salvar mãe e filho, que também não sobreviveu.

Em 1974, teve uma filha chamada Lurian com a enfermeira Miriam Cordeiro, sua namorada na época. Mais tarde no mesmo ano, casou-se com a então viúva Marisa Letícia Casa dos Santos, vindo anos depois a adotar o filho dela, Marcos Cláudio, que nem chegara a conhecer o pai biológico. O casamento de mais de trinta anos com Marisa gerou três filhos: Fábio Luís (1975), Sandro Luís (1979), e Luís Cláudio (1985). Marisa faleceu em 2017, em decorrência de um acidente vascular cerebral (AVC).

Ainda em 2017 Lula iniciou um relacionamento com a socióloga Rosângela da Silva, conhecida como Janja, que só se tornou público em 2019, quando o ex-presidente estava preso em Curitiba. Casaram-se em 18 de maio de 2022, em São Paulo.

Câncer de laringe

Em 29 de outubro de 2011, foi diagnosticado com câncer de laringe pela equipe do médico Paulo Hoff do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Fumante durante quarenta anos, após começar a apresentar rouquidão por um tempo prolongado, foi identificado um tumor maligno de tamanho médio (dois a três centímetros) na laringe do ex-presidente. A assessoria de imprensa do Instituto Lula, sua organização não governamental, informou que o tratamento iria iniciar com sessão de quimioterapia em 31 de outubro, mas, a pedido de Lula, não foi divulgado o número de sessões que foram realizadas. No entanto, foi divulgada a duração aproximada do tratamento, que estimava-se de três meses segundo o oncologista Artur Katz, responsável pelo tratamento do ex-presidente. Lula realizou o tratamento no Hospital Sírio-Libanês.

Em nota à imprensa, no mesmo dia do anúncio do câncer, Dilma demonstrou solidariedade a Luiz Inácio e disse que “junta-se à torcida do povo brasileiro” pela melhora do ex-presidente, também se disse preocupada com ele e que acredita na recuperação rápida da sua saúde.[312] José Sarney, presidente do Senado, também divulgou em nota oficial à imprensa que espera a recuperação de Lula e disse: “Lula é um lutador, já venceu muitas batalhas e vencerá mais esta.”

Lula assumirá a presidência da República a partir de 1º de janeiro de 2023.