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Indignação, injúria, intimidades, impropérios e imundícies

Indignação, injúria, intimidades, impropérios e imundícies

Lá nos idos de 1994 do século passado, um ministro brasileiro perdeu o posto porque um vazamento de áudio durante o intervalo de uma entrevista flagrou ele dizer que o que é bom a gente fatura, e o que é ruim a gente esconde.

Pois hoje, mais de 20 anos depois, a máxima daquele ministro segue atual, e ninguém mais fica envergonhado com isso, mas com gravadores e câmeras por todos os lados e em plena era das redes sociais e das mensagens instantâneas, tá cada vez mais difícil esconder qualquer coisa, quanto mais o que é ruim.

E todos os dias a gente tem a prova de que o que é ruim aparece mesmo, e quando menos se espera, ai mesmo é que aparece.

E aí a gente lembra os vazamentos da conversa entre o temerário Presidente da República e o empresário safadão, que pode acabar até derrubando o governo, ou quando aqueles dois políticos em fuga discutiam uma saída para escapar da polícia e um deles revelou que tinha que mudar o governo pra estancar a sangria e o outro respondeu que a solução mais fácil era botar o Michel. E ai todo mundo já sabe no que deu.

Quem não lembra?

Mas não é só de presidentes, ministros, políticos e empresários dessa nossa república de bananas, todos corruptos, que se faz as vítimas dos vazamentos. Tem de tudo, maridos traídos, esposas furiosas, criminosos confessos, racistas empedernidos, gente que não se controla e acaba soltando a língua sem pensar no amanhã.

Dá uma olhada na sua timeline. Garanto que agora mesmo chegou uma bem quentinha.

Por aqui, mesmo na nossa calmaria serrana, algumas gravações, autorizadas ou não, têm dado problemas aos donos das vozes nos últimos meses.

Primeiro foi o prefeito caxiense Daniel Guerra cobrando que o médico grevista voltasse ao trabalho numa indignação calculada pelos profissionais de tevê. Ficou feio e rendeu censura da associação médica do estado.

Depois, a vereadora de Farroupilha que cavou no próprio pé a vala comum da injúria racial ao usar adjetivos nada generosos com os nordestinos, e até o prefeito da cidade foi vítima das redes falando intimidades que deveriam permanecer entre quatro paredes e impropérios contra adversários políticos que nunca deveriam ganhar as ruas.

Nada diferente do presidente uruguaio Jose Mujica que foi pego reclamando da velha e do caolho, que nada mais eram que a presidente argentina Cristina Kirchner e o marido Nestor, que tinha sido presidente antes dela. E antes disso, outro presidente uruguaio disse que todos os argentinos são um bando de ladrões, do primeiro ao último.

Mais perto de casa, na semana passada, a agora ex-secretária de esportes de caxias do sul perdeu o cargo porque julgou mal aqueles que nela buscavam apoio. E disse que aquilo tudo era uma imundície.

Em todos os casos, todos falaram o que pensavam de verdade, mas que não podiam ter dito jamais. Todos eles viraram memes, alcançaram os trending topics e foram o assunto mais comentado na rede social pelo menos por uma semana.

E depois, mais cedo ou mais tarde, todos, inevitavelmente todos, viram folclore e esquecimento.