Foi divulgado nas últimas semanas um ofício sobre análise das imagens na pensão de Bento Gonçalves, investigada por trabalho análogo à escravidão. Conforme o documento, 16 câmeras do circuito interno foram analisadas pela Polícia Federal, em Caxias do Sul, e não foram visualizados indícios de violência ou maus-tratos dos moradores e trabalhadores. O órgão reitera que somente as imagens dos corredores, fachada da pousada, cozinha e área externa que tinham as câmeras, e não nos dormitórios dos trabalhadores.
Em contato da reportagem do Portal Leouve com o Delegado da Polícia Federal em Caxias, Adriano Amaral, o documento é uma resposta à Justiça do Trabalho após a apreensão do equipamento de circuito interno do estabelecimento investigado. As imagens analisadas são da área interna, registrando corredores, área externa da pousada e cozinha, e nestas imagens não havia indícios de violência ou maus-tratos. “As imagens foram analisadas pelo nosso setor de perícia e não tinha, naquelas imagens, nenhum maus-tratos. Isso não quer dizer que não tenham ocorrido os maus-tratos, apenas que naquelas imagens não aparecem”.
Conforme ainda a autoridade, o caso segue em investigação, sendo que ainda há materiais sendo analisados e posteriormente, o caso será devidamente esclarecido.
Relembrando o caso
Na noite do dia 22 de fevereiro deste ano, uma operação conjunta do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Polícia Federal (PF) e Polícia Rodoviária Federal (PRF) resgataram pessoas que atuavam na colheita da uva e abate de frangos em Bento Gonçalves. A investigação aponta para trabalho análogo à escravidão e tráfico de pessoas.
O caso foi denunciado por trabalhadores que fugiram e procuraram a PRF na Região Metropolitana. Eles relataram que foram cooptados na Bahia e trazidos para a Serra gaúcha para atuarem em uma empresa que presta serviços à vinícolas. Os aliciadores de mão de obra prometiam salários acima da média e direitos trabalhistas, o que não se cumpriu.
Os relatos eram que os trabalhadores precisavam atuar das 5h às 20h, com folgas apenas aos sábados, e recebiam comida estragada. As denúncias apontam que os trabalhadores só podiam comprar produtos em um mercado no próprio local, com preços superfaturados e que o valor gasto era descontado no salário. Desta forma, eles terminavam o mês devendo, pois o consumo superava o valor da remuneração.
Os trabalhadores também relatam serem impedidos de deixar o trabalho, justamente em razão da tal dívida. Outras denúncias afirmam que os empregadores ameaçavam as famílias dos homens que ficaram na Bahia.