
Animal símbolo da cultura gaúcha e patrimônio genético do Rio Grande do Sul, o gado franqueiro permanece como um dos marcos históricos da ocupação dos Campos de Cima da Serra. No entanto, restam hoje poucos exemplares, concentrados sobretudo em São José dos Ausentes e São Francisco de Paula, o que acende o alerta para o risco de desaparecimento da raça.
Entre os defensores dessa herança está Sebastião Fonseca de Oliveira, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Bovinos Franqueiros (ABCBF). Em sua propriedade, mantém cerca de 30 animais e atua pela preservação da raça. Para ele, a perda de conhecimento tradicional é uma das principais ameaças.
“Existe todo um saber daqueles tempos sobre a raça franqueira que não foi registrado — dos tropeiros, dos pretos velhos — que está se perdendo, pois não há registros”, afirma.
Ele lembra que, com o tempo, outras raças mais produtivas comercialmente substituíram o franqueiro, embora o valor cultural e histórico deste seja incomparável.
“O gado franqueiro tem um valor maior, histórico, e ele é igual aos demais em produção. Com o leite, antigamente, se fazia o queijo serrano e a coalhada, por exemplo.”
Painel e Lançamento de Livro
Na segunda-feira (1º/12), Oliveira recebeu um painel com a fotografia de um exemplar de gado franqueiro registrada no livro Queijo Artesanal Serrano: identidade cultural nos Campos de Cima da Serra. A entrega foi feita por Fernando Kluwe Dias, fotógrafo da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), na Fazenda do Faxinal, em São Francisco de Paula.
Participaram do encontro a professora Saionara Wagner, da UFRGS, autora da obra sobre o queijo artesanal serrano, e os extensionistas da Emater/RS-Ascar João Carlos Santos da Luz — também autor do livro — e Lilian Ceolin.
“Toda a nossa formação, nossa história, nossa cultura é ligada ao campo, à terra e a este gado franqueiro”, destacou Sebastião ao receber o material.
Memória e Identidade Serrana
Ainda na tarde de segunda-feira, foi lançado o livro O gado franqueiro do Rio Grande do Sul: cartografia afetiva. A obra reúne relatos, memórias, práticas e saberes de criadores e estudiosos, compondo um registro fundamental sobre uma raça que, apesar de rara, permanece profundamente ligada à identidade serrana.