COLUNA

Futuros Possíveis: Construindo o Amanhã, Hoje

Para mim, uma das formas mais potentes de construirmos futuros possíveis é incorporar o desconforto

Mãos de pedreiro colocando tijolo em obra de alvenaria.
Imagem: Freepik

Feche os olhos por um instante. Não para fugir da realidade, mas para imaginá-la. Quais são os futuros possíveis que anseia construir? O que pulsa em seu coração quando sonha com uma sociedade mais justa, um planeta mais sustentável? Permita-se sentir essa realidade, essa harmonia, essa ausência de competição onde cada voz ecoa sua inspiração e seus sonhos.

Vamos sonhar juntos: como seria viver em um amanhã onde as cidades são extensões dos nossos quintais? Espaços de convívio genuíno, onde a produção local de alimentos floresce e os encontros sociais não giram em torno do consumo, mas da conexão. Cidades respirando com florestas urbanas que purificam o ar, a água e o solo, ao mesmo tempo em que fortalecem os laços entre vizinhos e promovem a saúde de todos.

Imagine a soberania alimentar como uma realidade palpável: alimentos frescos e nutritivos acessíveis a toda a comunidade. Nossos lares próximos aos locais de trabalho, conectados por redes de ciclovias seguras e bem planejadas, transformando o cotidiano em uma jornada ativa e tranquila. O transporte público, eficiente e leve, seria tão natural que a lembrança de um mundo engasgado em trânsito e poluição se tornaria apenas uma anedota distante.

E a jornada de trabalho? Um tempo em que cada pessoa tem liberdade para escolher atividades que vão além da mera utilidade ao capital, realizadas sem pressa, com apreciação e presença plena.

Viver em uma comunidade onde o pertencimento e o acolhimento são o alicerce, onde podemos compartilhar desconfortos e sonhos, construir juntos em um espaço de diversidade e equidade. Uma sociedade onde a competição cede lugar à cooperação, onde as moradias incentivam a interação e o cuidado é, de fato, coletivo – como deveria ser.

A Urgência do Agora: A Terra Grita por Socorro

Por muito tempo, falamos em sustentabilidade como um ideal distante, quase um luxo. Mas a urgência de agir nunca foi tão clara. A Terra tem gritado por socorro, e seus avisos chegam em forma de chuvas cada vez mais intensas, secas implacáveis, ondas de calor, terremotos, furacões. É como se a nossa própria morada estivesse nos avisando sobre a profundidade do desequilíbrio. Como estamos cuidando do nosso lar? Como você está cuidando dessa casa comum que é o nosso planeta?

Percebemos que preservar é o mínimo que podemos fazer. E é nesse cenário que surge a Economia Regenerativa. A palavra, por si só, já é um convite à ação. Ela vai além da sustentabilidade, buscando não apenas minimizar os impactos negativos, mas também restaurar e regenerar ecossistemas e comunidades. Em vez de simplesmente manter o equilíbrio, ela visa curar os danos causados pelas atividades humanas.

Imagine sua empresa investindo em projetos que restauram a biodiversidade local ou que capacitam sua cadeia de fornecimento a adotar práticas circulares. Imagine seu bairro não apenas gerindo resíduos, mas transformando-os em novos produtos ou energia, com o engajamento de todos. Isso é a economia regenerativa em ação: a vida se transformando em um laboratório vivo de aprendizagem e co-criação, onde cada ação, cada projeto, é uma semente para um futuro mais próspero e equilibrado.

Essa é a sociedade que muitos de nós sonhamos em viver. Mas ela não brotará do nada. Exige uma natureza saudável, sim. Mas também uma sociedade disposta a fazer as mudanças necessárias, a sair do “eu” e ir para o “nós”. Demanda líderes – em todas as esferas – capazes de olhar muito além de métricas frias e de seus próprios interesses. Líderes que, como bons jardineiros, cultivem o todo.

Não quero me aprofundar na dicotomia entre o ideal e o que vemos. Meu convite é outro, и é diretamente para você: o que você, individualmente, tem feito para construir essa sociedade sustentável no futuro? Garanto que a maioria de nós quer viver em uma sociedade melhor, e essa mudança, essa construção, começa por você.

E quando falo em sustentabilidade, não me refiro apenas ao ambiental. Falo do social, do econômico, e, fundamentalmente, da governança – da nossa capacidade de liderar e de sermos liderados de forma consciente.

Para mim, uma das formas mais potentes de construirmos futuros possíveis é incorporar o desconforto. Sim, o desconforto de reconhecer que certas práticas e modelos não cabem mais na sociedade que almejamos. É nesse espaço de tensão e incerteza que a criatividade explode, revelando novas ideias e caminhos para um amanhã mais promissor.

Acredito em futuros possíveis. Acredito que eles são feitos da harmonia entre pessoas e negócios, de vínculos que geram valor para o todo. Porque, no fim das contas, o futuro não é um destino. É uma construção diária, e o seu tijolo é essencial.

E então, qual o primeiro tijolo que você vai assentar hoje?