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"Futuramente quero treinar o Inter", revela ex-zagueiro Bolívar

Ex-jogador Bolívar em entrevista a Fabiano Brasil | Foto: Matheus Bastos/Jovem Pan
Ex-jogador Bolívar em entrevista a Fabiano Brasil | Foto: Matheus Bastos/Jovem Pan

Campeão da Libertadores pelo Internacional em 2006 e 2010, o ex-zagueiro Bolívar concedeu entrevista exclusiva à Rádio Jovem Pan Grande Porto Alegre na manhã desta quarta-feira (18).

O ídolo colorado conversou com o jornalista Fabiano Brasil e falou sobre o seu passado vitorioso no Inter e os planos para seu futuro como treinador. Confira os principais trechos da entrevista:

Mudanças no futebol

“Hoje o futebol perdeu um pouco a graça porque o jogador é tratado uma criança. Para tudo tem que ser falado com alguma pessoa. A gente falava com a imprensa numa boa. Hoje é uma coisa muito restrita, o jogador é muito blindado. Mas são coisas que vão mudando e a gente tem que respeitar esse momento.”

Redes sociais atrapalham ou agregam?

“Tem os dois lados. Tem o lado em que você pode mostrar seu trabalho, seu dia a dia. Mas tem o lado em que você fica exposto à cobrança. Se o atleta ou treinador está nesse meio, você tem que arcar com algumas situações indesejadas. Ali o torcedor pode te cobrar, se você não for bem você vai ser chamado atenção.”

Inter de 2006

“Aquela geração ficou marcada pela amizade, pela sinceridade. Na época não tinha o celular, o Instagram, essas coisas que deixam o jogador muito ocupado. Naquela época a gente ficava do início ao fim do treinamento juntos, participando, falando sobre as partidas, vivendo o dia a dia.”

“Foi uma geração vitoriosa. A gente se fala até hoje, eram jogadores buscando seu espaço, pegando o Inter num momento de seca de títulos. Com trabalho árduo e cada um dando sua contribuição, se tornou uma geração vitoriosa.”

Característica de liderança

“O líder é o cara que é respeitado pelos companheiros. Você pode definir uma liderança como uma liderança técnica. É o que o D’Alessandro é hoje no Inter, um cara que motiva muito. Desde a minha chegada ao Inter, eu procurei sempre ser um cara que observava aqueles jogadores que eu já admirava antes, como o Clemer e o Fernandão. Esses jogadores eram jogadores espelho nessa característica de liderança. Depois do meu retorno do Monaco, eu assumi essa liderança definitiva. Isso parte do respeito dos atletas, do seu dia a dia, da maneira como você trata seus companheiros com muito respeito. O capitão é aquela cara que detecta as coisas muito rápido, no dia a dia. Não só em jogos, mas no dia a dia, para poder já matar o nó pela raiz.”

Paixão colorada

“Eu sempre fui colorado. Mesmo o pai jogando no Grêmio. Comecei a acompanhar a carreira do meu pai na Inter de Limeira, quando ele foi campeão paulista em 1986. O pai no Grêmio disputou a Olimpíada de 1972, em Munique, e teve uma história muito bonita no clube. Mas teve o azar de pegar o Inter com uma geração de Falcão, Valdomiro, Claudiomiro, que conquistaram o tricampeonato brasileiro. É um cara que sempre foi espelho para mim, e eu desde novo sempre acompanhava meu pai.”

Melhor time do Inter em que jogou

“Acho que foi o de 2009, da Sul-Americana. Era um baita de um time, jogava com uma linha de quatro zagueiros atrás e foi campeão da Copa Sul-Americana. Foi um super time, mas cada time que eu participei do Inter teve seu mérito e suas conquistas.”

Melhor treinador com quem trabalhou

“O Tite foi um dos melhores. O Inter teve uma equipe em 2009 que era uma das grandes equipes. Acabou não conquistando os títulos que disputou, mas foi uma equipe de muita qualidade. Se eu falar só do Tite acaba ficando meio chato, porque eu trabalhei com vários treinadores de qualidade e cada um deles tinha o seu método de trabalho. Vou procurar lembrar de tudo e colocar em prática onde eu for trabalhar.”

Experiência na França

“Eu tive o privilégio de morar dois anos e meio em Mônaco. A minha filha nasceu lá. É um lugar incrível, um dos lugares mais lindos do mundo. Tem muito turista e é um lugar que te dá gosto de viver. Lá você não paga imposto e ainda é reembolsado em 40% ao final do mês em tudo que paga de medicamento e escola. São coisas que Mônaco te proporciona.”

Preparação para ser treinador

“Estou fazendo os estágios e cursos para treinador. No primeiro semestre, estive com o Mancini na Chapecoense, com o Roger no Atlético Mineiro e com o Mano Menezes no Cruzeiro. Em novembro, vou a Salvador fazer o curso da licença B da CBF para me credenciar a técnico de futebol.”

Como vai ser o Bolívar treinador?

“Depende muito da situação em que se encontra a partida. Depende do adversário também. Se jogar em casa é uma maneira de atuar. O sistema que você tem que ter é um sistema de marcação muito forte. Isso quem falava muito era o Tite. Quanto mais tempo você tiver com a posse de bola, você tira do adversário a oportunidade dele estar perto do seu gol. Você tendo uma marcação muito forte e tendo a posse de bola, isso te mantém mais próximo de fazer o gol. Eu vou tentar procurar lembrar de todos os treinadores que eu trabalhei, pegar essa prática que eu tive com eles para colocar nas equipes onde eu trabalhar.”

Sonha em treinar o Inter?

“Futuramente sim. Eu quero primeiramente me preparar bem, continuar fazendo estágios e cursos com treinadores. E futuramente pretendo sim, pelo perfil, por ser um cara que conhece o clube muito bem, sabe lidar muito bem com os jogadores. Mas quero começar numa equipe menor, uma equipe do interior do estado, para fazer um grande trabalho e quem sabe um dia treinar o Internacional.”

Importância de começar em equipes menores

“A preparação é fundamental. Não adianta fazer como o Rogério Ceni fez. É um cara que não se preparou, por mais que você conheça muito bem o clube, é um ídolo, mas a preparação é fundamental.”

Paciência com o treinador no Brasil

“Uma coisa que eu espero que vá acontecer e que o Mancini e o Tite estão encabeçando é uma lei a ser sacramentada, em que todos clubes brasileiros vão poder ter no máximo dois treinadores por temporada. Isso já dá uma garantia do treinador ficar seis meses no clube. O respeito com o profissional é importante, porque ele se preparou para isso. O torcedor tem que entender, porque na Europa a gente vê muito isso. Os treinadores trabalham dois ou três anos com muita naturalidade, e os resultados acabam aparecendo. A paciência no Brasil é diferente, mas acredito que isso com o passar do tempo deve mudar.”

Rebaixamento do Inter

“O Inter caiu pelo mau trabalho extracampo e pelos jogadores que foram contratados. Foram jogadores que não vestiram a camisa do Inter, foram ver que a situação estava complicada já quando não havia mais solução nenhuma para fazer. Quando você veste a camisa de um grande clube como o Inter, a responsabilidade é muito grande. As pessoas que trabalham extracampo também têm que ter um trabalho muito profissional, senão acaba não dando certo. O Inter acabou pagando esse preço.”

“Para quem viveu idas e vindas no clube, durante 8 anos, é sempre complicado. Fica uma mancha no clube. A gente sempre fala que todas equipes vão passar por uma situação como essa. O Inter acabou acordando muito tarde ano passado no Brasileiro e acredito que faltou uma liderança. Não tinha uma liderança como hoje tem o D Alessandro, como na nossa época tinha eu, o Fernandão, o Índio, o Guinãzú, o Clemer. A liderança dentro de campo faltou. Às vezes, o treinador não consegue tomar algumas decisões e você dentro de campo precisa ser decisivo.”

Inter já subiu?

“Já. Começou muito mal. Fiquei preocupado, porque acho que não tinha adotado ainda o espírito de jogar essa competição. É uma competição totalmente diferente da Série A. É mais pegada e os adversários vão jogar contra o Inter como se fosse uma final de Copa do Mundo. Isso acabou pesando muito. As viagens são muito complicadas também. No início, o torcedor ia para o Beira-Rio e não sabia quem eram os 11 titulares. A partir do momento em que o Guto definiu esses 11 titulares e deu credibilidade para esses jogadores, aí fez o Inter ser gigante novamente. Fez liderar e sem dúvida nenhuma vai conquistar essa Série B.”

A entrevista, em vídeo, pode ser acessada na íntegra na página da Jovem Pan FM Grande Porto Alegre, através do link https://www.facebook.com/jovempan907/videos/1495407547180948/.

Colaboração: Andreas Weber/Jovem Pan Grande POA FM 90,7