Penicillium ucsense é uma nova espécie de fungo, cuja linhagem foi isolada na UCS e, recentemente, classificada por pesquisadores da Universidade de Caxias do Sul, da Holanda e da Coreia do Sul. Como a biodiversidade fúngica ainda é pouco conhecida, estima-se que somente cerca de 10% dos fungos existentes estejam identificados taxonomicamente, e o Penicillium ucsense é mais uma espécie que foi nomeada devido ao desenvolvimento e à evolução de técnicas de Biologia Molecular e Bioinformática.
Isolado em 1979, o fungo foi extraído do trato intestinal de larvas que se alimentavam da estrutura de madeira do revestimento do então laboratório de Parasitologia, no Bloco A da Universidade. O isolamento foi realizado pelo fundador do Instituto de Biotecnologia da UCS, professor Juan Luis Carrau, e pela professora Rute Terezinha da Silva Ribeiro. As larvas e indivíduos adultos foram identificados por especialistas da USP, como pertencentes ao coleóptero Anobium puntactum.
O microrganismo isolado mostrou-se capaz de crescer em placas de Petri – recipiente cilíndrico, achatado e utilizado para cultivos de microrganismos – contendo meio de crescimento, acrescido de tiras de papel (celulose). Inicialmente, verificou-se assim a capacidade deste fungo de produzir enzimas celulases. A quantidade de enzimas produzidas pelo isolado foi melhorada, com pesquisas orientadas pelo professor Aldo Dillon, que há mais de quatro décadas dedica-se ao tema. Ele e sua equipe, entre outras ações, pesquisam a atuação das enzimas na degradação do bagaço e palha da cana-de-açúcar e do capim-elefante, para, posteriormente, poder gerar etanol por fermentação dos açúcares liberados.
Na época do descobrimento do fungo, com identificação por morfologia, o microrganismo foi classificado como Penicillium sp. Após, foi encaminhado a um centro de pesquisa no Sudeste do país para que fosse realizada a identificação taxonômica da espécie. Com as técnicas disponíveis na época, identificou-se como Penicillium echinulatum. Desde então, o fungo foi estudado tanto em programas de melhoramento genético, como em processos de produção de enzimas e hidrólise de biomassa lignocelulósicas e outras aplicações. No âmbito acadêmico, serviu para a formação de incontáveis estudantes de iniciação científica, duas dezenas de mestres e uma dezena de doutores, além de gerar 50 publicações em periódicos científicos internacionais e várias solicitações de patentes.
Entre os doutores formados está Alexandre Rafael Lenz, que durante seu doutoramento, orientado pelos Professores Aldo Dillon e Sheila de Avila e Silva, foi responsável pelos estudos de Bioinformática, a partir das sequências de DNA do fungo. Entre outros artigos, provenientes de sua Tese, Alexandre é o primeiro autor do trabalho “Taxonomy, comparative genomics and evolutionary insights of Penicillium ucsense: a novel species in series Oxalica“ https://doi.org/10.1007/s10482-022-01746-4, que possibilitou a identificação do fungo, como pertencente a uma nova espécie.
“Quando percebemos a possibilidade de um fungo tão estudado ser uma nova espécie, buscamos colaborações com pesquisadores do Westerdijk Fungal Biodiversity Institute, Universidade de Utrecht, na Holanda, que é o principal centro de referência em identificação e estudos com fungos do mundo. Lá, com a colaboração do professor Dr. Jos Houbraken e sua equipe, chegou-se à conclusão que realmente tínhamos uma nova espécie e que precisaríamos ‘batizá-la’. Então surgiu o novo nome científico Penicillium ucsense, em homenagem à nossa universidade”, destaca a professora Marli Camassola, também pesquisadora da equipe.