O sistema público de saúde de Bento Gonçalves vive um momento de grandes preocupações, marcado por denúncias de pacientes, familiares e até mesmo de servidores da área. O que era uma reclamação pontual sobre espera por consultas tornou-se um coro de insatisfação generalizada na cidade.
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A reportagem do Portal Leouve ouviu moradores que dependem exclusivamente de atendimentos da saúde pública municipal. As histórias se repetem: meses, e até anos, de espera por exames de imagem, consultas com especialistas e cirurgias consideradas de média e alta complexidade.
O calendário que virou pesadelo
Em entrevista para o Portal Leouve, a paciente Maria Correa, de 61 anos, aguarda há cinco anos por uma cirurgia no quadril. Os problemas começaram em 2019, e, desde então, sua vida foi drasticamente transformada pela dor. “Ela vive com dor dia e noite e caminha com a ajuda de um andador. A demora afeta tudo, porque ela depende dos filhos para tudo”, relata a filha.
A espera tornou-se ainda mais angustiante quando a família descobriu, em determinado momento, que o nome de Maria havia saído da fila de espera, obrigando-a a reiniciar todo o processo do zero. Apesar de as informações da Secretaria de Saúde serem fornecidas quando solicitadas, a morosidade persiste, levando a família a registrar reclamações na Defensoria Pública. “Precisamos de mais agilidade, porque são pessoas”, cobra a filha, que deixa um apelo às autoridades: “Que tenham mais empatia e se coloquem no lugar do paciente. Minha mãe se sente abandonada pelo poder que deveria cuidar dela”.
Em outro caso, Maria Aparecida, moradora do bairro Botafogo, aguarda há anos por atendimentos. Ela denuncia o descaso e uma série de cirurgias essenciais pendentes. A história da moradora de Bento Gonçalves reflete a crise profunda na saúde pública do município. Mãe de duas filhas com deficiência, ela está disposta a se identificar para denunciar a negligência que sua família enfrenta há anos.
Maria relata a sua triste realidade: “É complicado, sabe? E o prefeito não faz nada. Tu vai atrás, eles não dizem nada. Ah, tem que esperar. Ah, não tem vaga. Ah, vamos ter que esperar. Ah, isso, aquilo, sabe? Então, tu cansa. Tu cansa…”
Sua filha Laura, de 19 anos, aguarda há cinco anos por procedimentos urgentes, como a correção do céu da boca, que a impediria de respirar com dificuldade, e cirurgias no nariz e nos pés. Seu marido, doente e diabético, também aguarda na fila por uma nova cirurgia no pé, após uma intervenção malsucedida em 2023 que o deixou incapacitado para o trabalho. Com quase 60 anos e sobrecarregada pela batalha contra a burocracia e a falta de respostas, a paciente faz um apelo: que a mídia pressione o prefeito para que a situação, que só se agrava, seja finalmente enfrentada.
Respostas da Prefeitura
O Portal Leouve enviou uma série de questionamentos à Prefeitura de Bento Gonçalves e à Secretaria Municipal de Saúde, cobrando respostas:
Portal Leouve: Qual o número atual de pessoas na fila de espera para exames e cirurgias?
Prefeitura: “Hoje, nossa maior demanda reprimida é na cirurgia de ortopedia, com 3368 pessoas aguardando. Seguido de cirurgia geral 1538. O número de exames é variável.”
Portal Leouve: Quais os prazos médios de espera para os procedimentos mais demandados?
Prefeitura: “Sobre os exames, temos procedimentos de Ressonância Magnética e Ultrassonografia, em média 8 meses. Exames de análises clínicas, o prazo médio de liberação é de 2 meses. Ressaltamos que todo exame solicitado com indicação de urgência, após avaliação pela regulação médica, é autorizado de forma prioritária, não permanecendo em fila de espera. O mesmo ocorre com as cirurgias de urgência e emergência liberadas para realização imediata. Temos 85 pacientes, por exemplo, de cirurgias eletivas de alta complexidade já reguladas pelo estado, aguardando agendamento.”
Portal Leouve: Quais as políticas públicas em andamento para reduzir essas filas?
Prefeitura: “Quanto às políticas públicas em andamento, o Município vem atuando para reduzir os prazos de espera por meio de:
- Ampliação da contratação de serviços via chamamento público, com previsão de aumento do teto de exames disponibilizados.
- Capacitações contínuas junto às equipes da Atenção Primária, para qualificação dos encaminhamentos e uso adequado da regulação.
- Monitoramento periódico das filas e definição de prioridades para exames com maior tempo de espera.
Reconhecemos que há muitas reclamações referentes à demora, e estamos trabalhando de forma contínua para reduzir o tempo de acesso da população aos exames.
Sobre as cirurgias, estamos realizando credenciamento com o hospital São Pedro para ampliar a compra de cirurgias eletivas.”