É raro encontrar alguém com mais de 30 anos que não teve ou não conheceu o dono de um Fusca. Ele foi o carro mais vendido do Brasil por 24 anos – de 1962 a 1985 – chegando a 3,1 milhões de unidades emplacadas no Brasil. Carinhosamente chamado de “besouro” ou “corcunda” da Volkswagem, o veículo completa neste mês 60 anos desde a sua chegada no país. Como prova dessa paixão do brasileiro com o carro, ele tem um dia só dele: 20 de janeiro, Dia Nacional do Fusca.
Para alguns, as lembranças desse campeão de vendas fica apenas na memória. Contudo, muitas pessoas ainda mantêm um exemplar na garagem de casa e rodam pelas ruas com motor de barulho inconfundível, como é o caso do comunicador da Rádio Serrana, Adriano Valduga.
Um antimobilista assumido, Adriano cultiva o amor pelos clássicos desde a infância, acompanhando a família que sempre trabalhou no ramo de carros antigos e peças. O radialista conta, com muito alegria, que dentre tantos carros que passaram pela garagem dos Valduga, nunca faltou um Fusca.
“Os que mais marcaram a minha vida, foi um VW Fusca 1975 motor 1300 branco, que fez parte de toda minha infância, com meu pai Adílson Valduga me levando pra cima pra baixo com ele e um VW Fusca 1985 motor 1600 carburação dupla a álcool, que fez parte da minha adolescência até os dias de hoje, carro este que aprendi a dirigir”, relembra.
A paixão pelo Fusca passou de geração em geração e hoje, corre nas veias do seu sobrinho, João Miguel, que é apaixonado tanto pelo seu mini Fusca, quanto pelo branco 1985 do vovô Adílson.
O amor pelo Fusca passando de geração para geração (Fotos: Arquivo Pessoal)
“Meu pai sempre teve um Fusca, eu sempre tive um Fusca para dirigir, e assim seguirá a tradição. O Fusca é um carro ‘à prova de tudo’, o famoso topa tudo, e de fácil e barata manutenção, que proporciona uma sensação única ao ser guiado”, garante o locutor.
A história da criação do Fusca
Ferdinand Porsche era um austríaco obcecado pela ideia de criar um carro para o povo. Foi um dos maiores engenheiros automotivos da história. Criou um escritório de design automotivo e um de seus clientes era Auto Union Werk, conhecida hoje como Audi, e a fabricante de motores Zündapp.
Apesar de ter sido o homem que transformou o nome Porsche em sinônimo de velocidade e esportividade, Ferdinand Porsche nunca projetou um modelo Porsche.
Tempos mais tarde, um famoso ditador alemão ascendia no poder. Os dois discutiam o projeto do Volks Wagen, que em alemão significa carro do povo. A história desse pequeno combina com a modernização da Alemanha e de sua recuperação econômica. O governo alemão se interessou pelo projeto e efetuou um investimento de 200 mil marcos para a fabricação de três protótipos para mostrar ao mundo a superioridade tecnológica do país.
O ditador exigiu algumas alterações no projeto original, que deveriam atender as necessidades do povo alemão. O carro deveria carregar dois adultos e três crianças (uma tradicional família alemã da época). Deveria alcançar e manter a velocidade média de 100 km/h, consumo maior que 13 km/l, refrigerado a ar e preço inferior a mil marcos imperiais.
É lançado o Fusca
Foi lançado em 1935, com todas exigências cumpridas. Podia ser comprado por quase todos, ao preço de 990 marcos. Equipado com motor refrigerado a ar, sistema elétrico de seis volts, câmbio seco de quatro marchas, que até então só se fabricavam carros com caixa de câmbio até 3 marchas.
A partir daí houve constantes evoluções. Começou a ser equipado com sistema de freios a tambor, caixa de direção tipo “rosca sem fim”, modificações estéticas como quebra vidro, saída única de escapamento, entre outras.
No ano de 1936, o modelo já havia sido reformulado, o Volkswagen era equipado com duas pequenas janelas traseiras. Já em 1938, a fabricação começou a ser feita em série.
A série 38 foi apresentada em três variações: sedã, sedã com teto solar e conversível. O motor já era boxer, com 24 CV, pesando 750 quilos.
Fusca na guerra
Com o início da Segunda Guerra Mundial, o modelo teve que se apresentar nas Forças Armadas Alemãs, virando veículo militar, e teve até modelo anfíbio. Nasceu então Kübelwagen, Schwimmwagen e Kommandeurwagen, que eram utilizados nos campos batalha. A mecânica mudou para atender as necessidades dos combatentes.
Com o término da Segunda Guerra Mundial, a fábrica que estava sendo construída em Hannover (alguns afirmam que a fábrica estava sendo construída em Fallersleben), foi quase destruída completamente. A fabricação retomou lentamente pelas mãos do major inglês Ivan Hirst, que decidiu “adotar” o modelo.
Hirst se manteve à frente da fábrica até 1949, àquela altura a Volkswagen já tinha uma rede de concessionárias e exportava seu carro para diversos países, incluindo Inglaterra, e mais tarde, Estados Unidos. Logo em seguida, o governo recuperou o projeto, deixando no comando de Heinrich Nordhoff.
Retomando sua produção, o Volkswagen passou a ser utilizado em serviços de primeira necessidade, escassos naquela época, como Correios, atendimento médico, entre outros.
Vendas galopantes
Em 1946, já existia cerca de 10 mil Volkswagen sedans em circulação. Em 48, o número subiu para 25 mil, sendo 4.400 para exportação. Foi em 1949 que o modelo conquistou seu próprio mercado nos Estados Unidos. Neste ano já era 50 mil modelos fabricados.
Em 1950 passou a ser oferecido sedã com teto solar dobrável e em 1951 o modelo já era exportado para 29 países, atingindo a produção de 50 mil unidades. Em 1952 recebeu quebra-vento, transmissão sincronizada e rodas de 15 polegadas.
O modelo já era exportado para 86 países e chegou a 500 mil unidades produzidas. Foi em 1955 que o modelo recebeu lanternas traseiras, e alcançou 1 milhão de unidades. Em 1957 ganhou vidro traseiro maior e novo painel de instrumentos. Dois anos mais tarde, o modelo já tinha motor 1.2 CC de 34 CV, cambio de 4 marchas, luzes de direção no lugar das setas e porta-malas maior.
Melhoras ao passar dos anos
Foi em 1956 que o modelo Standard trouxe o motor 1.2 e o de exportação ganhou motor de 1.3 e 40 CV. No ano seguinte, já era oferecido para o Volkswagen padrão, quando foi lançado a opção de motor de 1.5 e 44 CV.
Passou a ser mais seguro a partir de 1967, com coluna de direção que não invadia o habitáculo em caso de acidente e cinto e três pontos, passando a ser oferecido com câmbio automático. Em 72, o Volkswagen alcançou a marca de 15 milhões de modelos produzidos, superando o Ford T.
Só na Alemanha havia cinco fábricas produzindo o modelo: Wolfsburg, Hannover, Kassel, Braunschweig e Emden. Com a chegada de novos concorrentes, a marca já vinha considerando a introdução de novos modelos.
Deixou de ser fabricado em sua fábrica matriz (Wolfsburg) e quatro anos mais tarde, a última fábrica da Volkswagen na Alemanha (Edmen), deixa de produzir o modelo. Para atender a grande demanda europeia, restava a fábrica na Bélgica.
Os novos números do modelo foram alcançados no México, em 1981, com a marca de 20 milhões de unidades produzidas. Foi no mesmo país que encerrou sua produção.
Fusca no Brasil
Começou a ser fabricado em solo nacional pela Brasmotor, em 1950. Em 1953, a Volkswagen se estabeleceu no Brasil e assumiu a montagem do modelo. Em novembro de 1957 estavam prontas suas instalações no município paulista de São Bernardo do Campo.
O primeiro modelo apresentava o mesmo motor da Kombi. Recebeu lavadores automáticos no para-brisa, onde a água saía por uma peça cromada, apelidada de “brucutu”, frequentemente furtada pelos jovens e transformando em anel.
Em 1974 foi seu ano de sucesso. No Brasil nunca se vendeu tanto. Apelidado popularmente de “Bizorrão”, ganhou mais esportividade. Sua produção nesse ano foi de aproximadamente 239.393 unidades.
As lanternas traseiras ganharam nova forma, em 1979, (em uma época onde ele brigava com o Fiat 147) que renderam ao Fusca um novo apelido, “Fafá” (de Belém).
Fusca nos anos 80
O primeiro Fusca à álcool chegou em 1980. O “Super-Fuscão” some em 1983, quando foi adotado oficialmente o nome Fusca. Mas em 1986 (temporariamente) acaba-se a carreira do Fusca.
Ainda que o México continuasse a produzi-lo, sua produção no Brasil teve um fim. O retorno do Fusca aconteceu em 1993, chamado popularmente de Fusca Itamar, sua produção durou até 1996 quando foram fabricados os últimos 1.500 modelos, batizados de “Fusca Série Ouro”. Os últimos proprietários dos Fuscas “novos” tem seus nomes guardados em um “Livro de Ouro da Volkswagen”.
Em 1994 a Volkswagen já estava realizando estudos sobre o novo design junto com sua filial norte-americana.
New Beetle
Em 1997, o Fusca já ganhava nova atualização no visual e mudava de novo, sendo batizado de New Beetle – inclusive no Brasil. O modelo mais popular do Fusca foi produzido no México até 2003, onde ficou conhecido como “Vocho”.
Uma proposta moderna e inovadora, com design ainda mais próximo do Fusca chegou ao Brasil em 2012. A primeira versão do Fusca concebida inteiramente no século 21. Adotou linhas esportivas e tendo a dirigibilidade seu ponto alto, o Novo Fusca se destacou pela segurança, eficiência no consumo e baixo índice de emissões.