Caxias do Sul

Família de refugiados venezuelanos recomeça a vida em Caxias do Sul

Família de refugiados venezuelanos recomeça a vida em Caxias do Sul


Dentre os mais de 200 refugiados venezuelanos que vieram ao Rio Grande do Sul nos últimos dias está Elvis Mercado, de 33 anos, que escolheu Caxias do Sul para recomeçar. Ele e a esposa, Mayela de Mercado, a filha, de 13 anos e o filho, de 7, moram no bairro Charqueadas e demonstram estar adaptados à cidade.

Elvis Mercado, 33, recomeça a vida com a família em Caxias (Fotos: Maicon Rech)

Oriundos de Ciudad de Guayana, município com 877.547 mil habitantes e que fica a 12 horas da capital Caracas, juntaram as economias e venderam o que tinham na residência para virem ao Brasil. A família saiu de casa dia 30 de julho.

A crise, que por vezes deixa venezuelanos sem terem o que comer, motivou a saída da família do país latino-americano. Elvis explica que a situação da Venezuela não é boa por questões econômicas e de insegurança.

“A situação da Venezuela não está boa. O salário que ganham os venezuelanos não dá para a alimentação no mês. Se é que dá para o mês, pois temos salários semanais e mensais. Esses salários não alimentam um casal. Se tem filhos, menos. A situação da Venezuela é bastante difícil, por causa do salário e a insegurança é muito grande”.

A irmã de Elvis reside em Caxias há cinco meses. A família ouviu os conselhos e, pela experiência de Elvis em uma grande siderúrgica, veio para a cidade em busca de emprego e melhor qualidade de vida. Mercado conta, ainda, que foi muito bem recebido no município e contou com ajuda de vizinhos e Testemunhas de Jeová de uma igreja que fica na frente de sua casa.

“Pessoas muito boas. Meus vizinhos são pessoas muito boas. Nos ajudaram muito e eu agradeço por isso”, reforça.

Um dos sonhos da família é trazer os parentes que ficaram na Venezuela. Por questões financeiras, isso não é possível. Todavia, Elvis salienta que irá mandar dinheiro para os pais para ajudá-los neste momento difícil.

“Meu pai, mãe e a família da minha esposa, estão passando por essa situação difícil e nós com o trabalho que temos aqui tratamos de trocar um pouco e dar a eles para que possam lidar com a situação. O contato com eles é só por Whatsapp. Nos fazem muita falta. Estão trabalhando, mas o salário não chega. Não se consegue os remédios, é difícil para todas as pessoas lá. Seria um sonho trazer minha família para cá. Mas, é muito custoso. Pra mim, custou todo meu tempo de trabalho e o que tinha em casa. Gastei R$ 4,9 mil. Como está a crise, as coisas aumentaram de valor. Há um preço estipulado pelo governo, mas não se cumpre nada. É tudo caro. Isso que eu vendi, o que consegui, mais ou menos, duraria dois meses para viver”, completa Mercado.

Nesta sexta-feira (14), o venezuelano começa a trabalhar em uma empresa de Caxias. Mayela, a esposa, faz serviços de diarista. Os filhos já estão matriculados e se adaptando a língua portuguesa. A adolescente estuda na Escola Estadual Ivonne Lúcia Triches dos Reis e o menino, na Escola Municipal Fermino Ferronatto.

Sem receber ajuda do Poder Público, saindo da Venezuela apenas com a roupa do corpo e peças para passarem os dias mais frios, a família começa uma nova vida em Caxias do Sul.

Ao menos 14 venezuelanos

O Centro de Atendimento ao Migrante (CAM) de Caxias do Sul atendeu 14 pessoas oriundas da Venezuela neste ano de 2018. Conforme o advogado da entidade, Adriano Pistorelo, o número apresenta um grande crescimento. Isso porque, até o final de 2017, apenas três venezuelanos deram entrada no município. Por outro lado, a expectativa é que mais imigrantes tenham vindo pra Caxias. Muitos deles, auxiliados por igrejas evangélicas e que não pediram auxílio ao Centro, ou, ainda, vieram por Porto Alegre.

3.000%

Este é o dado que representa o aumento da entrada de venezuelanos no Brasil. Uma estimativa divulgada no último dia 29 de agosto pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que cerca de 30,8 mil venezuelanos vivem no país atualmente. Destes, aproximadamente 10 mil cruzaram a fronteira com Roraima nos seis primeiros meses de 2018.

O levantamento usa como base os dados da Coordenação Geral de Polícia de Imigração da Polícia Federal (PF) a partir de 2015. Naquele ano, eram cerca de mil venezuelanos moravam no Brasil. Ou seja, em apenas três anos, essa população aumentou 3.000%.

Tentativa de recuperação

Para tentar aliviar a crise na Venezuela e renegociar dívidas, o presidente Nicolás Maduro está na China para assinar acordos comerciais. Ao todo, são 762 acordos vigentes, que incluem créditos pagos com petróleo.

De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), ah três semanas, Maduro adotou um plano de reformas econômicas para enfrentar a crise na Venezuela. A grave escassez de alimentos e medicamentos, aliada a hiperinflação, poderia exceder 1.000.000%.

A cúpula venezuelana deve retornar com um empréstimo 5 bilhões de dólares. Todavia, a dívida com os chineses, hoje, atinge a marca dos US$ 20 bi.

A assinatura do memorando, seria fundamental. A Venezuela possui apenas 8,3 bilhões de dólares em reservas internacionais. Ainda, está sem acesso a financiamento externo devido às sanções dos Estados Unidos.