Bento Gonçalves

Falta de médicos e dificuldades para contratar prejudicam atendimento nas UBSs

Falta de médicos e dificuldades para contratar prejudicam atendimento nas UBSs

Suspensão das atividades da unidade móvel de saúde, o ônibus equipado com um consultório volante que atende às comunidades que não têm unidades básicas de saúde (UBS). Postos sem atendimento médico no interior do município. Faltam médicos especialistas e clínicos gerais em vários bairros da cidade.

Em síntese, este é o retrato da nova crise no atendimento à saúde pública em Bento Gonçalves. Hoje, faltam cerca de sete médicos para garantir o atendimento mínimo à população. Mas, diferente de anos anteriores, em que não havia dinheiro para a contratação de novos profissionais, e do ano passado, quando uma reformulação da gestão causou a diminuição dos atendimentos e o fechamento temporário de unidades, hoje o problema é outro, garante o secretário de Saúde, Diogo Siqueira.

Secretário de Saúde, Diogo Siqueira

Segundo ele, o maior obstáculo é que está cada vez mais difícil encontrar médicos ou mesmo manter os contratados. O perfil dos profissionais, em sua maioria jovens recém-formados, aumenta a inconstância. Somente em 2018, por exemplo, pelo menos três médicos que atendiam na cidade deixaram o trabalho porque conseguiram vagas em residência médica em hospitais de outras cidades.

Siqueira garante que há dinheiro e autorização para contratar. Ele considera a falta de médicos como pontual e acredita que “repor as peças que estão faltando é uma questão de tempo”. “Pode ser que em uma semana a gente consiga repor estas peças, como pode ser que demore duas, três semanas. Depende de conseguir achar médicos que queiram vir para Bento Gonçalves”, avalia.

População reclama da falta de médicos nas UBSs (Fotos: arquivo)

Enquanto isso, a população sofre as consequências da falta de profissionais. Bairros como Maria Goretti, Cohab e Eucaliptos simplesmente não têm médicos nas unidades. Moradores de bairros que não têm unidades de saúde, como Glória e São João, precisam se deslocar a outros bairros ou enfrentar as filas na unidade central ou nos pronto-atendimentos para tentar um atendimento ou mesmo uma consulta com um especialista, porque a unidade móvel de saúde deixou de circular há mais ou menos duas semanas, depois que a médica que atendia no consultório volante deixou o serviço público para fazer residência.

A situação é ainda mais difícil em localidades do interior do município, também sem médicos nas UBSs. As unidades das localidades de São Pedro, São Valentin, 15 da Graciema, Tuiuty e Faria Lemos voltaram a ficar sem atendimento médico menos de um ano depois de sofrer com a falta de profissionais. Em 2017, o serviço não foi oferecido desde o início do ano até o final do primeiro semestre. Depois, um profissional atendia escalonadamente em todas as unidades, mas a medida funcionou por pouco tempo.

O secretário de Saúde reconhece a situação difícil, mas compara que o cenário de Bento Gonçalves é positivo em relação à maioria das cidades gaúchas e garante que existem avanços. Segundo o secretário, não faltam médicos na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) 24h e no postão do bairro São Roque. É preciso trabalhar com prioridades, avalia.

Nós não vamos resolver o problema de todos. Com os recursos que a gente tem hoje, a gente não vai conseguir resolver todos os problemas. Mas vamos tentar amenizar os problemas e achar soluções viáveis”, afirmou Siqueira.

Ao mesmo tempo em que admite dificuldades em contratar médicos, a prefeitura vem tentando implementar mecanismos para ampliar as formas de contratação para diminuir o que o secretário considera uma “dependência de uma forma de contratação”, em referência ao contrato com a Fundação Araucária para a oferta de mão de obra na saúde.

Em um ano, a prefeitura reduziu o número de contratados pela fundação, tanto médicos como ouras funções ligadas à saúde. Hoje, cerca de 270 profissionais são contratados pela fundação, e a intenção do governo é reduzir o número de contratados para 70, com exceção dos médicos.

A medida faz parte de uma reorganização na secretaria com o objetivo de equilibrar as contas, que vem sendo implementada desde o início de 2017, quando Diogo Siqueira assumiu a pasta.