Neste domingo, dia 13 de dezembro, foi celebrado o Dia do Deficiente Visual, data criada com a finalidade de diminuir o preconceito e a discriminação contra os deficientes visuais, além de lutar por melhorias na acessibilidade e na inclusão social.
A deficiência visual é definida pela perda total ou parcial da visão. Essa perda pode acontecer de forma congênita ou com o tempo, pelos mais variados motivos, sejam eles acidentes, degeneração da retina, glaucoma, retinopatia diabética, entre outros.
A vida para os deficientes visuais pode ser cheia de obstáculos e desafios, principalmente quando se trata da acessibilidade e da mobilidade em locais públicos e privados.
Apesar da Lei Brasileira de Inclusão prever uma acessibilidade plena para todas as pessoas, a realidade é muito diferente. Em projeto realizado com alunos do Centro Universitário da Serra Gaúcha – FSG, a terapeuta ocupacional Claudia Collar, que trabalha há mais de 15 anos com a reabilitação e inclusão de pessoas com deficiência, avaliou que existem muitas dificuldades de mobilidade e acessibilidade nas ruas, principalmente no Centro de Caxias do Sul.
“Não há mobilidade para as pessoas com deficiência visual e pessoas com outras dificuldades, como os idosos, os obesos, cadeirantes e deficientes físicos”, comenta. “Falando exclusivamente sobre as calçadas, nós vimos que onde tinham instalados os pisos táteis, que é o que dá conta da mobilidade para o deficiente visual, ajudando a saber onde começa e termina a calçada, onde tem o rebaixamento, onde tem a conversão para entrar a direita ou a esquerda, eles não estavam instalados adequadamente”, aponta.
A estudante de Psicologia Laís Caroline, 23 anos, é deficiente visual desde muito jovem e afirma que, atualmente, tem cerca de 98% de autonomia no dia a dia, mas que não pode afirmar ter 100% devido às dificuldades externas, principalmente referentes a mobilidade e preconceito.
“Existem algumas questões, por exemplo, os passeios públicos não são lineares, né? Tem muitos que estão com a raiz de árvores, ou tem grama no meio da calçada, buracos, pedras soltas. Quando tem o piso podotátil, ele dura alguns metros, logo acaba, ou nos direciona pra lugares onde vamos nos bater, em um poste, árvore ou até mesmo em paredes”, relata.
Além dos problemas de mobilidade, uma das maiores dificuldades para o deficiente visual é com certeza a falta de empatia dos demais. Ao tentar atravessar a rua, devido a falta de sinaleiras sonoras, Laís afirma que “as pessoas passam do lado, chutam a bengala, riem e não auxiliam”.
“Falta esse bom senso, falta empatia, falta o olhar sobre o outro na comunidade”, comenta. “Acima da deficiência somos seres humanos, somos pessoas. A minha condição de pessoa como essência, não me torna inferior aos demais ocupantes da sociedade. Eu tenho os mesmos direitos e os mesmos deveres dos demais. A constituição não é pra um ou pra outro, é pra todo mundo”, conclui.
Preconceito
Muitas vezes a maior dificuldade do deficiente visual não é sua cegueira, mas sim a forma como a sociedade o vê. No ramo da terapia ocupacional, os profissionais auxiliam o deficiente, seja ele visual, físico ou intelectual, a entender seus limites e desenvolver autonomia. O terapeuta ocupacional vai avaliar o caso de cada paciente em particular e, junto com a família, definir o que aquela pessoa é capaz de fazer dentro de suas limitações, para que assim possa viver uma vida o mais próximo do normal possível.
“Se a deficiência visual é congênita ou se desenvolve com o tempo, principalmente na infância, o principal é o apoio da família. Através da avaliação de um terapeuta ocupacional, vai ser definido o que aquela criança tem condições de fazer ou não. E a partir daí, deixar a criança se experimentar e não superprotegê-la“, explica. “Esse processo está relacionado a se vestir, se alimentar, a passear e a tudo que envolva a ocupação“, conclui.
Esse é o caso de Laís, que tem um filho de seis anos, viaja, estuda, trabalha por conta própria e vive sua vida com o maior nível de independência possível. Sua deficiência não é um empecilho, mas sim os olhares tortos, os comentários, risadas e até mesmo pessoas que duvidam da sua deficiência. A estudante procura emprego de carteira assinada há três anos, mas só recebe os olhares preconceituosos de quem pensa que um deficiente não é capaz de trabalhar.
“Meu sonho hoje é poder trabalhar, poder dizer, olha, eu trabalho, eu consegui pagar isso aqui com o meu trabalho, eu tenho rotina, eu vou, eu volto, eu atendo pessoas. Porque mexe muito com a autoestima, como pessoa, enquanto mulher, enquanto mãe”, conta. “Eu comecei, então, em maio, a trabalhar por conta própria com Natura, Boticário, Tupperware. Aí, tipo, ainda tem as pessoas que julgam, falam, ‘como que tu sabe que isso aqui é a minha entrega?‘”, relata.
Muitas pessoas com deficiência visual são bastante independentes, algumas, entretanto, podem precisar de ajuda. Não hesite em ser solidário nesses casos. Tenha empatia, pense no bem da sociedade como um todo, incluindo as pessoas com necessidades especiais. O mundo torna-se um lugar melhor a cada atitude positiva.