Bento Gonçalves

“Existiria Bento Gonçalves sem a Presença Negra?” é tema de pesquisa inédita do Museu do Imigrante

Imagem: Historiador Lucas de Anhaia
Imagem: Historiador Lucas de Anhaia

Existiria Bento Gonçalves sem a Presença Negra? A resposta para a pergunta é: não. A elaboração do argumento para a resposta baseia-se em análises históricas dos próprios movimentos migratórios do final do século XIX, suas motivações e estruturação social e econômica. Os dados estão sendo levantados pela equipe do Museu do Imigrante de Bento Gonçalves, com pesquisa histórica realizada pelo acadêmico do curso de História da Universidade Federal de Santa Catarina, Lucas de Anhaia, que atualmente realiza estágio na instituição.

A publicação traz extratos das análises de bibliografias consagradas sobre e imigração em conjunto com o acervo documental da imprensa da cidade que possui jornais da década de 1950, com registros históricos ainda do início século XX. Nos jornais de Bento foram encontradas fotos de famílias negras que migraram para Bento ainda em 1919. A população negra vinha para a cidade trabalhar na construção das ferrovias e abertura de estradas.

Em conversa com a reportagem do Grupo RSCOM, Lucas explicou que, como cidadão bento-gonçalvense e negro, a vontade de pesquisar foi impulsionada pela dificuldade de se sentir pertencente a um local que sempre se colocou como um espaço da imigração italiana apenas. “A história da população negra na serra gaúcha sempre foi um questionamento dentro da minha formação e da minha carreira. Nesse trabalho de organização dos jornais sempre tive um olhar um pouco mais atento sobre essas questões e comecei a entender onde apareciam esses registros sobre a população negra em Bento Gonçalves”, conta o historiador. Segundo ele, a pesquisa ajudou a entender também que a falta de registros não é devido à falta da presença da comunidade negra, e sim a um apagamento histórico dessas evidências.

As análises da pesquisa foram disponibilizadas nas redes sociais do Museu do Imigrante. De acordo com a museóloga Deise Formolo, a ação faz parte da programação da 15ª Primavera dos Museus e vem de encontro com o tema da edição que é “Museus: perdas e recomeços”. Conforme ela, a instituição vem fazendo um trabalho desafiador de desmistificar algumas questões ligadas à imigração e dialogal mais entre etnias, trabalhando com a diversidade cultural. “Conhecer nosso patrimônio histórico significa conhecer melhor a nós mesmos e a respeitar a diversidade cultural que nos representa”, complementa.

A atividade é o início de uma série de produções que serão comunicadas, permanentemente, dentro do programa de pesquisa do Museu do Imigrante. O objetivo é iniciar a consolidação de um grupo de pesquisa para ampliar a problematização das conjunturas históricas de Bento Gonçalves.

Imagem: Historiador Lucas de Anhaia
Imagem: Lucas de Anhaia e Deise Formolo
Imagem: Batalhão Ferroviário Bento Gonçalves. Década de 1960. Acervo Museu do Imigrante
Imagem: Batalhão Ferroviário Bento Gonçalves. Década de 1960. Acervo Museu do Imigrante
Imagem: Batalhão Ferroviário Bento Gonçalves. Década de 1960. Acervo Museu do Imigrante