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Ex-prefeito de Porto Alegre, José Fortunati lamenta corrupção em Brasília

José Fortunati em entrevista na Jovem Pan | Foto: Andreas Weber/Jovem Pan
José Fortunati em entrevista na Jovem Pan | Foto: Andreas Weber/Jovem Pan


O ex-prefeito de Porto Alegre José Fortunati foi entrevistado na manhã desta quarta-feira (08) no estúdio da Jovem Pan Grande Porto Alegre. O político comentou a difícil situação pela qual passa o município de Porto Alegre e o estado do Rio Grande do Sul. Além disso, abordou a questão da corrupção no país e projetou sua possível candidatura ao Senado no ano que vem. Confira alguns destaques da entrevista para o jornalista Fabiano Brasil no programa Live Jovem Pan.

Vida do homem público
“Não tem horário para o prefeito fazer campanha, como não tem horário para o prefeito trabalhar. Especialmente trabalhar. Se tu está em casa dormindo, começa um grande temporal e tu é prefeito, tu acaba acordando. Imediatamente liga para a Defesa Civil, vai verificar se não tem enchentes na Zona Norte, nas Ilhas. Isso é normal. O trabalho do homem público é 24 horas. Se a pessoa é homem público, aceitou essa missão de se expor publicamente e tem que estar prestando contas sempre.”

Situação atual de Porto Alegre
“Não é simples. Nós não podemos simplesmente olhar a cidade e abstrair a grande crise econômica que se abate sobre o Brasil. Muita gente olha a crise econômica, percebe que tem empresas com as portas fechando, outras continuam fechando postos de trabalho. Há uma leve recuperação, mas ainda muito pequena. O governo federal acabou tendo uma queda brutal nas suas receitas e, consequentemente, deixou de repassar recursos para os municípios. Hoje quem paga a conta dessa grande crise são as cidades. É importante dizer isso. Porque não é uma crise que começou hoje, as cidades vêm sentindo a partir de 2012. Então quando se olha Porto Alegre, nós temos que olhar dentro desse cenário. Eu imagino as dificuldades que o prefeito Nelson Marchezan está enfrentando, exatamente por causa dessa grande crise. Faço essa contextualização para que as pessoas entendam que realmente não é fácil administrar uma cidade, especialmente em época de crise. Nós estamos vivendo greve dos servidores públicos municipais e estaduais. Eu tenho uma divergência, não em termos administrativos. Quando o prefeito simplesmente dá números que não podem ser contestados, pela falta de transparência. Na minha gestão, em 2015 e 2016, o Tribunal de Contas do Estado fez um levantamento das 497 cidades gaúchas pelo nível de transparência. Porto Alegre foi considerada a cidade gaúcha mais transparente. Não só isso. O Ministério Público Federal, o mesmo que investiga a Lava-Jato, Zelotes e tantas outras operações, fez um ranking dos 5.700 municípios brasileiros, dando nota de zero a dez em termos de transparência. A única capital do Brasil que recebeu nota dez em 2015 e 2016 foi Porto Alegre. Eu faço essa referência porque essa semana foi divulgado o relatório do Tribunal de Contas do Estado, que é uma polêmica sobre se tem recursos ou não para pagar os servidores. O Tribunal de Contas do Estado diz que falta transparência nas contas da prefeitura. Então fica difícil discutir por falta de dados concretos, confiáveis.”

Parcelamentos dos salários dos servidores municipais
“Em fevereiro de 2016, eu dei uma coletiva à imprensa dizendo que, pela situação da crise nacional, nós apontávamos a possibilidade do parcelamento de salários. Não é nenhuma novidade. Felizmente, nós conseguimos levar a cabo até o último dia, 31 de dezembro de 2016, pagando de forma adequada os salários, inclusive o 13º. Mas eu não poderia dizer que, se o Melo [candidato na eleição de 2016] vencesse e eu estivesse na gestão, nós não estaríamos hoje parcelando salários. Eu não seria irresponsável a ponto de afirmar isso.”

Privatizações de estatais gaúchas
“Eu fui deputado estadual entre 1987 e 1990. Já naquele período nós discutíamos a crise financeira do Rio Grande do Sul. Só para mostrar que a crise do estado não é uma crise atual. É uma crise de pelo menos trinta anos. A crise foi, gradativamente, se aprofundando. Não é uma crise inventada pelo governador José Ivo Sartori. Eu acho que o Rio Grande do Sul, mesmo com algumas iniciativas, está usando muito pouco do seu poder de pressão sobre o que o governo federal realmente nos deve. O Rio Grande do Sul não se une para buscar o que o governo federal nos deve em termos de Lei Kandir. Aí fica muito fácil o governo federal dizer ‘temos que fazer um ajuste fiscal tremendo no Rio Grande do Sul, tem que vender empresas’. Eu acho que essa não é a solução. Nós estamos fechando empresas de pesquisa, empresas fundamentais para o estado, como a Fundação Zoobotânica, que é um modelo para a América Latina, e eu tenho minhas reservas em relação a isso. Eu acho que nós acabamos nos subordinando à lógica do governo federal, que é uma lógica tributária fiscalista muito espoliadora dos estados-membros. E deixamos de unir as forças do Rio Grande do Sul para buscar o que o governo federal nos deve.”

José Fortunati (à direita) em entrevista ao jornalista Fabiano Brasil | Foto: Andreas Weber/Jovem Pan

Corrupção no Brasil
“Infelizmente a corrupção não é invenção atual. O país, ao longo do tempo, sempre teve escândalos muito fortes, com denúncias muito fortes. Vários dos escândalos ocorreram durante a ditadura militar. Vamos parar com essa história de que durante a ditadura militar não tinha corrupção. Tinha, envolvendo inclusive militares. Ao longo do tempo nós sempre tivemos o problema da corrupção. Infelizmente a corrupção no Brasil tem crescido pelo mau exemplo de Brasília, mas permeando a sociedade como um todo. Vamos pegar a questão das cotas nas universidades. A denúncia que se faz hoje é de que alunos brancos estão se apresentando como negros para poder entrar na universidade. Corrupção aberta. Ou seja, muita gente se deixa contaminar no dia a dia por corrupção. Não adianta olhar só para Brasília e dizer ‘estou aqui sem pagar tributos, tiro vantagem nisso, naquilo’ porque também é corrupção. Existe corrupção pequena e corrupção grande, mas corrupção é corrupção. Nós realmente não podemos praticar a corrupção no dia a dia, porque ela acaba fomentando a grande corrupção. O que nós estamos assistindo hoje em Brasília é sem precedentes. O valor de recursos, a desfaçatez. Eu sou a favor da Lava-Jato. Existem alguns excessos, porque é feito por seres humanos. A punição tem que acontecer, o Mensalão existiu, a Lava-Jato está provando a corrupção de muita gente. Tem que ser punido, porque quem sabe a partir desse exemplo a gente possa virar a página.

História no PT
“Eu sou fundador do PT, em 1979 eu fazia parte da primeira comissão provisória do PT aqui no estado. Me orgulho disso. Eu fui durante 21 anos membro do PT. O Partido dos Trabalhadores surgiu com uma proposta nova, um partido que vinha para tentar mudar o país. Infelizmente o PT se perdeu, não todo ele. Mas figuras de ponta acabaram se perdendo. O Mensalão e o Lava-Jato estão provando isso. É uma decepção, porque são pessoas com as quais eu convivi. Muitas delas eu colocava a mão no fogo, e infelizmente as provas acabaram mostrando que elas tinham responsabilidade muito forte. Está na hora do PT se repensar, fazer uma auto-crítica. Enquanto não disser para a população ‘nós erramos, alguns dos nossos membros erraram’ obviamente vai ficar uma mácula muito pesada. Essa mácula o PT começa a pagar um preço muito alto e certamente pagará em 2018, no processo eleitoral.”

Candidatura ao Senado
“Eu entendo que o senador tem que ser uma pessoa que, acima de tudo, use a sua experiência para tentar unificar o maior número possível de gaúchos em torno de lutas importantes. Nós temos que defender o nosso estado, que já foi considerado um dos mais importantes da federação, do ponto de visto político, econômico e social. E nós perdemos muito isso. No meu trabalho, vou lutar pelos interesses maiores do estado. Temos que gerar emprego e renda, nós temos um setor de agricultura, um setor metalmecânico na Serra Gaúcha, um setor moveleiro e um setor leiteiro extremamente fortes. O que é importante para o senador é olhar o estado como um todo, ver o que realmente resulta em benefício para a maioria da população. Esse é o meu compromisso. Acima de tudo, olhar os interesses do Rio Grande do Sul e, obviamente, os interesses do Brasil.

Ex-prefeito José Fortunati falou sobre a corrupção no Brasil | Foto: Andreas Weber/Jovem Pan

A entrevista completa, em vídeo, pode ser acessada na página da Jovem Pan Grande Porto Alegre no Facebook, através do link https://www.facebook.com/jovempan907/videos/1515613025160400/.

Colaboração: Andreas Weber/Jovem Pan Grande POA FM 90,7