Uma ideia que surgiu no recesso letivo já está em ação e pode render frutos a comunidade em breve. Isso por que alunos e professores do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) Campus Caxias do Sul estão unindo conhecimentos teóricos de química, biologia e plástico para desenvolver atividades práticas que impactam na vida das pessoas, especialmente quanto às questões ambientais.
Uma planta que monitora os índices de poluição, análises de terreno para a simulação da construção de uma empresa de forma sustentável e a importância do plástico são os projetos que norteiam estes pesquisadores ao longo deste ano. A reportagem do Portal Leouve foi até a instituição conhece-los.
Uma das coordenadoras da iniciativa, a professora de Química, Ana Cláudia Faria, destaca que integrar as disciplinas e levar para além dos muros do IFRS os conhecimentos produzidos são os objetivos principais.
“A ideia é justamente essa, fazer um link entre as disciplinas que a gente vê em sala de aula, de forma teórica, cada vez de forma mais prática, e que os alunos conheçam e se reconheçam no ambiente em que estão inseridos. Muito interessante você conhecer o que está acontecendo lá fora, em outros países, mas também, é importantíssimo você saber o que está acontecendo na sua vizinhança”, constatou a docente.
Nossa primeira parada, neste tour pelas produções no IFRS, foi o projeto que tem à frente o estudante do 3° ano do curso técnico em química e bolsista, Ruan Cruz, 18. O que parece, em um primeiro olhar, apenas uma planta roxa, trata-se de uma vegetação com potencial bioindicador, chamada Tradescantia Pallida/Trapoeraba Roxa. O jovem explica que ela pode indicar, através de mutação da própria célula, os níveis, por exemplo, do lodo de esgoto e da poluição do ar atmosférico de onde está situada. Ao todo, eles cultivam 60 exemplares da Tradescantia Pallida.
“A gente faz uma análise dela [planta] no laboratório, e verificamos as células. Ela tendo uma mutação genética, vai aparecendo nas células dela mais de um núcleo. Quantificamos esses micronúcleos a mais e com isso a gente consegue ver níveis de poluição e também as possíveis causas”, detalhou o estudante.
O professor de Biologia, Gustavo Marques da Costa, que conduz os projetos junto com a Ana, contou que os resultados apontados pelo estudo poderão ser disponibilizados a órgãos interessados, como o poder público, para que possam ser efetivamente aproveitados.
“Além de artigos científicos que são publicados, resumos em eventos, sim [a ideia] é levar para órgãos interessados principalmente na área ambiental, e a gente possa divulgar isso. Cada vez mais a gente precisa não deixar isso preso enquanto instituição de ensino e que outras pessoas tenham acesso a essas informações”, observou Costa, ressaltando a importância de instigar a gurizada com metodologias científicas.
Avaliação de impactos ambientais
Próxima etapa: conhecer o projeto dos alunos do 4° ano do curso técnico de química do IFRS, que estão empenhados no estudo e análise do terreno, flora e fauna de uma área verde no bairro Interlagos. O intuito desse projeto é avaliar os impactos ambientais gerados pela construção de uma empresa fictícia, e simular este processo da maneira adequada, ou seja, sustentável.
Com uma apresentação detalhada em slides, os estudantes explanaram, com profundidade e propriedade, os avanços que já foram possíveis conhecer desde a primeira visita ao local, no final de março. A turma foi dividida em equipes, que puderam se aprofundar em tópicos como as espécies de animais e vegetais que habitam a área, a circulação de veículos nos arredores e poluição gerada, o clima, além de entrevistas de moradores das imediações para colher opiniões sobre o uso do terreno. O projeto segue até o fim do ano.
“O plástico não é vilão”
Já a galera do técnico em Plástico pensou em como poderiam levar conscientização e acabar com mitos sobre o material. Assim, juntando estudos de biologia e gestão ambiental, os estudantes estão produzindo cartazes e painéis que reúnem características dos tipos mais utilizados no cotidiano, como o PET, o PVC e o PS. As turmas foram divididas em grupos, cada com um tipo de plástico.
A aluna do 3° ano, Eduarda Motter, 17, que apresentou à reportagem o PVC e o PS, defende que o “problema do plástico” está, na verdade, na forma de descarte, e que os polímeros, além de presentes no dia a dia, são essenciais para o mundo moderno.
“O projeto tem esse objetivo de desmistificar de que o plástico, em si, é o vilão. Levantamos essa ideia de mostrar, conscientizar as pessoas [sobre] as características, as aplicações, a síntese, a formula química de cada plástico, para a gente conhecer e trazer essa ideia de que o plástico não é o vilão, [mas sim] a forma como a gente utiliza ele. Desde a reciclagem, até a forma como a gente compra os produtos”, argumentou a jovem.
Apesar de serem derivados, principalmente, do petróleo, um recurso natural finito, o plástico pode (e deve) ser reciclado. A reutilização do PET, por exemplo, é dividida em três etapas, segundo o projeto da galera do IFRS: A coleta e separação de outros resíduos; a trituração e lavagem para remoção de impurezas e resíduos de alimentos e bebidas e, por fim, o material triturado é moldado em diferentes formas, como garrafas, embalagens e fibras.
Desenvolvido ao longo deste primeiro trimestre, o projeto será exposto, durante a Semana do Meio Ambiente, no saguão da Prefeitura de Caxias do Sul, em junho, para toda a comunidade prestigiar. A Eduarda, em nome dos colegas, resume em gratidão as iniciativas promovidas em conjunto com os professores e o Instituto Federal.
“Me sinto muito gratificada. Realmente me identifico com o curso, e acredito que podendo trazer essa conscientização para as pessoas se torna algo gratificante. A gente pode sair dessa bolha que muitas vezes a gente vive e ir para fora, mostrar para outras pessoas”, disse.
A professora Ana Claudia ressalta, ainda, a importância do empenho dos estudantes em atividades que vão além das salas de aula.
“Que bom que os alunos acabam comprando essas ideias, esses nossos sonhos. Um projeto que a gente acha que vai desenvolver de forma rápida e curta, acaba tomando proporções maiores”, completou Ana.
O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) é uma instituição federal de ensino público e gratuito que se propõe a oferecer ensino humanizado, crítico e cidadão. Tem cursos gratuitos em 16 municípios gaúchos. Entre as ofertas estão cursos de ensino médio junto com o técnico, para quem tem o ensino fundamental completo.