Caxias do Sul

Estudantes e professores do IFRS Caxias buscam levar conhecimentos para além das salas de aula

A reportagem foi conhecer três projetos, com finalidades sustentáveis nas áreas de química, biologia e plástico, que estão sendo desenvolvidos desde o início do ano

Estudantes e professores do IFRS Caxias buscam levar conhecimentos para além das salas de aula
Fotos: Luca Roth/Grupo RSCOM


Uma ideia que surgiu no recesso letivo já está em ação e pode render frutos a comunidade em breve. Isso por que alunos e professores do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) Campus Caxias do Sul estão unindo conhecimentos teóricos de química, biologia e plástico para desenvolver atividades práticas que impactam na vida das pessoas, especialmente quanto às questões ambientais.

Uma planta que monitora os índices de poluição, análises de terreno para a simulação da construção de uma empresa de forma sustentável e a importância do plástico são os projetos que norteiam estes pesquisadores ao longo deste ano. A reportagem do Portal Leouve foi até a instituição conhece-los.

Uma das coordenadoras da iniciativa, a professora de Química, Ana Cláudia Faria, destaca que integrar as disciplinas e levar para além dos muros do IFRS os conhecimentos produzidos são os objetivos principais.

“A ideia é justamente essa, fazer um link entre as disciplinas que a gente vê em sala de aula, de forma teórica, cada vez de forma mais prática, e que os alunos conheçam e se reconheçam no ambiente em que estão inseridos. Muito interessante você conhecer o que está acontecendo lá fora, em outros países, mas também, é importantíssimo você saber o que está acontecendo na sua vizinhança”, constatou a docente.

Nossa primeira parada, neste tour pelas produções no IFRS, foi o projeto que tem à frente o estudante do 3° ano do curso técnico em química e bolsista, Ruan Cruz, 18. O que parece, em um primeiro olhar, apenas uma planta roxa, trata-se de uma vegetação com potencial bioindicador, chamada Tradescantia Pallida/Trapoeraba Roxa. O jovem explica que ela pode indicar, através de mutação da própria célula, os níveis, por exemplo, do lodo de esgoto e da poluição do ar atmosférico de onde está situada. Ao todo, eles cultivam 60 exemplares da Tradescantia Pallida.

“A gente faz uma análise dela [planta] no laboratório, e verificamos as células. Ela tendo uma mutação genética, vai aparecendo nas células dela mais de um núcleo. Quantificamos esses micronúcleos a mais e com isso a gente consegue ver níveis de poluição e também as possíveis causas”, detalhou o estudante.

Coordenadoras da iniciativa, a professora de Química, Ana Cláudia Faria
Ruan Cruz, 18, estudante do 3° ano do curso técnico em química e bolsista
Professor de biologia, Gustavo Marques da Costa
Ao todo, os alunos e professores cultivam 60 exemplares da Tradescantia Pallida

 

O professor de Biologia, Gustavo Marques da Costa, que conduz os projetos junto com a Ana, contou que os resultados apontados pelo estudo poderão ser disponibilizados a órgãos interessados, como o poder público, para que possam ser efetivamente aproveitados.

“Além de artigos científicos que são publicados, resumos em eventos, sim [a ideia] é levar para órgãos interessados principalmente na área ambiental, e a gente possa divulgar isso. Cada vez mais a gente precisa não deixar isso preso enquanto instituição de ensino e que outras pessoas tenham acesso a essas informações”, observou Costa, ressaltando a importância de instigar a gurizada com metodologias científicas.

Avaliação de impactos ambientais

Próxima etapa: conhecer o projeto dos alunos do 4° ano do curso técnico de química do IFRS, que estão empenhados no estudo e análise do terreno, flora e fauna de uma área verde no bairro Interlagos. O intuito desse projeto é avaliar os impactos ambientais gerados pela construção de uma empresa fictícia, e simular este processo da maneira adequada, ou seja, sustentável.

Representantes de cada grupo apresentaram os impactos ambientais da intervenção humana em terreno no Interlagos

Com uma apresentação detalhada em slides, os estudantes explanaram, com profundidade e propriedade, os avanços que já foram possíveis conhecer desde a primeira visita ao local, no final de março. A turma foi dividida em equipes, que puderam se aprofundar em tópicos como as espécies de animais e vegetais que habitam a área, a circulação de veículos nos arredores e poluição gerada, o clima, além de entrevistas de moradores das imediações para colher opiniões sobre o uso do terreno. O projeto segue até o fim do ano.

“O plástico não é vilão”

Já a galera do técnico em Plástico pensou em como poderiam levar conscientização e acabar com mitos sobre o material. Assim, juntando estudos de biologia e gestão ambiental, os estudantes estão produzindo cartazes e painéis que reúnem características dos tipos mais utilizados no cotidiano, como o PET, o PVC e o PS. As turmas foram divididas em grupos, cada com um tipo de plástico.

A aluna do 3° ano, Eduarda Motter, 17, que apresentou à reportagem o PVC e o PS, defende que o “problema do plástico” está, na verdade, na forma de descarte, e que os polímeros, além de presentes no dia a dia, são essenciais para o mundo moderno.

“O projeto tem esse objetivo de desmistificar de que o plástico, em si, é o vilão. Levantamos essa ideia de mostrar, conscientizar as pessoas [sobre] as características, as aplicações, a síntese, a formula química de cada plástico, para a gente conhecer e trazer essa ideia de que o plástico não é o vilão, [mas sim] a forma como a gente utiliza ele. Desde a reciclagem, até a forma como a gente compra os produtos”, argumentou a jovem.

Apesar de serem derivados, principalmente, do petróleo, um recurso natural finito, o plástico pode (e deve) ser reciclado. A reutilização do PET, por exemplo, é dividida em três etapas, segundo o projeto da galera do IFRS: A coleta e separação de outros resíduos; a trituração e lavagem para remoção de impurezas e resíduos de alimentos e bebidas e, por fim, o material triturado é moldado em diferentes formas, como garrafas, embalagens e fibras.

As estudantes de Plástico, Eduarda Motter, 17 (D), e Taline Maciel contam as características do PVC e PS

 

Desenvolvido ao longo deste primeiro trimestre, o projeto será exposto, durante a Semana do Meio Ambiente, no saguão da Prefeitura de Caxias do Sul, em junho, para toda a comunidade prestigiar. A Eduarda, em nome dos colegas, resume em gratidão as iniciativas promovidas em conjunto com os professores e o Instituto Federal.

“Me sinto muito gratificada. Realmente me identifico com o curso, e acredito que podendo trazer essa conscientização para as pessoas se torna algo gratificante. A gente pode sair dessa bolha que muitas vezes a gente vive e ir para fora, mostrar para outras pessoas”, disse.

A professora Ana Claudia ressalta, ainda, a importância do empenho dos estudantes em atividades que vão além das salas de aula.

“Que bom que os alunos acabam comprando essas ideias, esses nossos sonhos. Um projeto que a gente acha que vai desenvolver de forma rápida e curta, acaba tomando proporções maiores”, completou Ana.

O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) é uma instituição federal de ensino público e gratuito que se propõe a oferecer ensino humanizado, crítico e cidadão. Tem cursos gratuitos em 16 municípios gaúchos. Entre as ofertas estão cursos de ensino médio junto com o técnico, para quem tem o ensino fundamental completo.