Opinião

À espera de Moro

À espera de Moro


Pra quem esperava que a acusação apresentasse novas provas, ou que a defesa indicasse novos argumentos, as cinco horas do depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela primeira vez como réu da Lava-jato dado ontem ao juiz Sérgio Moro em Curitiba não trouxeram novidades.

E mesmo que Moro tenha dito que Lula seria tratado com respeito e que não seria preso, o que efetivamente ocorreu, e que o encontro não seria um confronto, ainda assim tanto o juiz quanto o réu trocaram acusações pelos ataques que têm recebido de todos os lados.

Seguindo a linha da defesa que quer pintar Lula como vítima de perseguição, o ex-presidente acusou a força-tarefa do Ministério Público Federal de querer criminalizar a sua presidência sem provas no processo que o acusa de ter aceitado uma reforma num triplex de luxo na praia paulista do Guarujá em troca de vantagens na Petrobrás.

E, de fato, não há provas que materiais que cristalizem essa certeza, e é aí que se apegam aqueles que acreditam na inocência do réu.

Do seu lado, Sérgio Moro seguiu o roteiro da denúncia dos procuradores e tentou mostrar que Lula é o cabeça de todo o esquema de desvios da Petrobrás. O juiz questionou o ex-presidente sobre as nomeações na estatal e principalmente sobre sua relação com renato duque, que na semana passada acusou Lula de conhecer e comandar o esquema da corrupção.

E, de fato, há indícios com a força suficiente para deduzir que seria muito difícil que o Lula presidente não soubesse o que acontecia debaixo de seu nariz.

Lula negou todas as acusações, repassou responsabilidades à esposa morta e se declarou vítima da maior caçada jurídica que um político brasileiro já sofreu. Moro disse que não é nada disso, afirmou que não tem desavença pessoal com o petista e prometeu decidir exclusivamente com base na lei.

Nenhuma novidade. Afinal de contas, os mortos não falam.

O certo é que, com o depoimento de ontem, Lula fica mais perto de receber sua primeira sentença na lava-jato sobre as acusações de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Mas não vai ser a única: além do processo do triplex, ele responde a outras três ações penais e outros inquéritos da operação ainda podem gerar novas denúncias contra ele.

Agora, todos esperam a decisão de Moro, que antas vai definir as datas pras considerações finais da acusação e da defesa pra, somente depois disso, publicar seu veredito, o que deve sair no máximo em poucos meses.

Mas, seja qual for essa decisão, ela não vai ser definitiva, porque outras virão.

E se é verdade que é difícil acreditar que Lula vai ser absolvido em todos os processos da Lava-jato, então a questão fundamental é saber quanto tempo isso tudo vai durar, e, claro, se ele vai conseguir evitar uma condenação em segunda instância, talvez a única coisa que o tiraria definitivamente da eleição de 2018.

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