Entenda o porquê de mesmo com pouca chuva a safra da uva em 2022 ser considerada boa - Leouve

O final de 2021 e o início do ano foi de grande preocupação para os produtores de uva em Bento Gonçalves e toda Serra Gaúcha. A falta de chuvas começou ainda no segundo semestre do último ano e desde então a apreensão escalonava. As poucas precipitações fizeram algumas variedades, colhidas em janeiro, sofrerem os maiores prejuízos. Já os frutos tardios ainda conseguiram alguma recuperação por conta do retorno das chuvas.

Apesar do cenário ter causado grande dor de cabeça a muitos produtores, as uvas chegaram às cooperativas e vinícolas com um alto grau de qualidade. O enólogo Ricardo Morari, da Cooperativa Vinícola Garibaldi, explicou a razão para falta de chuva ter sido benéfica para maturação dos frutos.

“Na verdade, é uma série de fatores que fez com que essa safra de 2022 tivesse sido diferenciada em termos de qualidade. Não foi só a escassez de chuva. Principalmente, sempre falamos em meses de colheita, de vindima, com pouca chuva. É importante para a sanidade da fruta. Lá, quanto mais umidade e quanto mais a água livre tanto na folha quanto na fruta, maior a incidência de doenças fúngicas.”

“Não tendo essa condição de umidade, a maturação é favorecida. Temperaturas mais altas como tivemos, gera uma aceleração na concentração do açúcar. Então, tivemos uma maturação maior das uvas. Também tivemos uma degradação maior de ácidos, e então foram uvas que tiveram a condição de acidez mais baixa e mais concentração de açúcar. Por um lado, para vinhos tintos, isso é muito favorável.“

Desta forma, os vinhos tintos de guarda, segundo Morari, foram beneficiados pela situação climática. Já aquelas frutas que seriam utilizadas para fazer espumantes, pela degradação dos ácidos, poderiam preocupar. Para solucionar a situação, adiantou-se a colheita e, assim, foi possível preservar a acidez e ainda sim produzir as bebidas.

Como os enólogos avaliam a maturação da uva?

Para fazer uma avaliação em relação a maturação da uva, os especialistas utilizam uma unidade de medida chamada Brix. Esta avaliação permite aos enólogos saber a concentração de sólidos solúveis que estão presentes nas frutas, principalmente o açúcar, ainda na fase que os cachos estão nos vinhedos.

“O grau Brix nos indica a concentração de açúcar, principalmente, que tem nessa uva. Então se começa sempre a evolução da maturação com um brix mais baixo e ele vai aumentando conforme as uvas vão ficando maduras. Até chegar a um ponto onde ele não evolui mais, porque a uva já atingiu a sua concentração máxima.”

O suco de uva, por exemplo, deve atingir um mínimo de 14 graus Brix e, conforme o enólogo, os frutos da safra 2022 proverão uma avaliação bastante acima deste valor.

Afinal, qualidade ou quantidade?

Os produtores de uva temeram a estiagem pelas prováveis (e depois confirmadas) perdas na quantidade de frutos que seriam colhidos nos vinhedos. Entretanto, a safra ainda sim expôs cachos com alta qualidade, como citado. Um fruto com uma classificação superior tem, em teoria, um preço equivalente. Por isso, Ricardo Morari foi questionado: Afinal, qualidade ou quantidade?

“A gente sempre pensa no equilíbrio. Não adianta nós termos uma produção muito baixa, que vai encarecer muito o produto, por outro lado, também uma produção que extrapola ao máximo o que o vinhedo pode produzir, consequentemente, vai se perdendo qualidade. Então sempre se pensa no equilíbrio. Extrair da planta a melhor produção possível, sem perder a qualidade.”

“Esse ano, naturalmente, a condição de ter menos chuva, de estresse hídrico fez com que a planta tivesse uma produção mais controlada. Não foi um exagero da produção. Foi uma produção equilibrada, onde a gente conseguiu ter uma qualidade maior. Então, a produção menor, porém com qualidade, é muito boa. Não foi uma safra de quebra muito grande, então isso também foi importante, para que tenha uma sustentabilidade no campo, do produtor não produzir tão pouco que não vai ter a rentabilidade que precisa. E a qualidade ela realmente foi excelente em termos de qualidade da fruta, que reflete também na qualidade dos vinhos.“

Os preparativos para safra 2023 já iniciaram. Conforme Cedenir Postal, presidente do Sindicado dos Trabalhadores Rurais de Bento Gonçalves e região, “já iniciou, no dia seguinte quando o agricultor termina a safra, já inicia a do ano que vem por que não pode parar”.

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