Bento Gonçalves

Emenda quer permitir construções de até oito pavimentos na Planalto, em Bento

Emenda quer permitir construções de até oito pavimentos na Planalto, em Bento


Uma nova emenda ao projeto de lei que estabelece o novo Plano Diretor de Bento Gonçalves, protocolada nesta quarta-feira, dia 29 de novembro, na Câmara de Vereadores, propõe uma mudança radical ao texto original aprovado pelo Conselho Municipal de Planejamento (Complan) e encaminhado pelo Executivo. Assinada por seis dos 17 vereadores com assento no Legislativo, a emenda pretende alterar os limites para construções na chamada Zona Gastronômica Turística (ZGT), localizada entre a rua Herny Hugo Dreher e a avenida Planalto, de 12 metros de altura para até oito andares.

A expectativa é ampliar o adensamento e a verticalização do local, diferente do que propõe o projeto aprovado pelo Complan e mais próximo ao que foi indicado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que permitia a construção de até 10 pavimentos. No texto do projeto original encaminhado ao Legislativo, o local poderia receber construções de até três pavimentos, dependendo dos fatores de ajuste. Caso a emenda seja aprovada, essa permissão será de construções de até seis pavimentos, podendo ser ampliadas para oito, conforme os fatores de ajuste.

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A proposta foi apresentada pelos vereadores Marcos Barbosa (PRB), Sidinei da Silva (PPS), Valdemir Marini (PTB), Jocelito Tonietto (PDT), Rafael Pasqualotto e Volnei Cristófoli (ambos do PP). A intenção dos vereadores contraria formalmente uma campanha desencadeada pela Associação de Moradores do Bairro São Bento (Amobento) contra a permissão para a construção de prédios altos no bairro. Os moradores queriam inclusive a retirada da permissão para a construção de edifícios com até 16 andares na rua Parnaíba. A posição da associação foi amplamente defendida durante audiência pública sobre a revisão do Plano Diretor, realizada no dia 24 de novembro.

Pasqualotto acredita que a apresentação das emendas está sendo feita de forma transparente. Para ele, a emenda não confronta com o “verdadeiro interesse” dos moradores do bairro São Bento, porque a zona residencial não será alterada.

“Cada um tem seu interesse e todos eles são legítimos. O objetivo aqui é que nessa zona gastronômica e turística haverá o fomento de atividades comerciais. essa é a ideia”, afirmou.

A emenda é considerada como uma traição aos moradores. Segundo Marcio Chiaramonte, representante da Amobento, as alterações foram resultado de uma articulação entre empresários da construção civil, interessados em vender terrenos no local e alguns vereadores.

Estamos decepcionados com os vereadores, porque conversamos com eles e apresentamos nossa demanda e recebemos inclusive o apoio de muitos que agora assinam a emenda. Nossa defesa é pelo patrimônio da comunidade. Isso é uma bolada nas costas”, denunciou.

Emenda contraria campanha realizada pela Amobento (Fotos: arquivo)

A emenda, apresentada no dia 29 de novembro, cinco dias após a realização da audiência pública, ignorou a posição da associação de moradores. Amparada por um abaixo-assinado com 19 assinaturas de moradores do bairro São Bento que pede a liberação de construções com até 10 pavimentos no bairro e se contrapõe ao posicionamento oficial da Amobento, que trabalha para impedir a verticalização do bairro, é justificada a partir da apresentação de 11 motivos, que vão desde o estudo realizado pela UFRGS, a existência de infraestrutura no bairro e supostos benefícios de mobilidade até o déficit financeiro municipal, a atração de investidores e a geração de empregos pela construção civil. Entre os moradores que assinaram o documento, aparecem funcionários comissionados da prefeitura, profissionais liberais e empresários da construção civil.

Chiaramonte afirma que a associação foi surpreendida, porque estava realizando entendimentos com o Complan e a Câmara de Vereadores para adequações.

“A gente fica pensando quem está por nós, porque contra nós a gente já sabe. A gente não consegue entender que interesses estão por trás disso”, afirmou ele, que questiona a legitimidade do abaixo-assinado.

“Deve ter umas três pessoas que moram no bairro. Cargos em comissão, donos de terreno baldio, empresários da construção civil, essa gente não mora do bairro”, garante. O empresário afirma que receia que ainda sejam apresentadas outras emendas que descaracterizem o projeto original.

Eles vão enfiar oito andares e se der eles fazem mais um puxadinho em cima. Essa gente é gananciosa”, sintetiza.

Para a presidente do Complan, Melissa Bertoletti Gauer, a emenda altera significativamente o entendimento das entidades que compõem o conselho sobre a utilização do local. Segundo ela, o Complan vai analisar todas as emendas e deverá apresentar um parecer à Câmara em que analisa o impacto das mudanças em relação ao projeto original.

“O Complan vai defender a proposta original. Essa emenda fere a essência do plano. Entendemos a legitimidade das emendas, mas o Complan se preocupou com a preservação da paisagem. O que está sendo proposto é o oposto disso”, afirmou.