O relógio marca 23h30min. É uma terça-feira. Eu só estava fora da cama porque faziam poucos minutos que terminara o jogo/sofrimento/alívio do Inter. Estava desligando o rádio quando ouço uma batidinha suave na porta da cozinha da casa. Pergunto “quem é?” e a resposta vem em tom tranquilo: “sou o Raul (não, não é aquece do ´toca Raul´) estou chegando de Passo Fundo”. Ora, nem ouvi o resto da peroração. Mandei o cara passear. Isto lá é hora de um estranho bater na sua porta? Embora nesta casa, sem cerca ou portão externo esta é uma rotina. A todo momento pedintes e aproveitadores batendo pra pedir algo ou conferindo se a casa está trancada. Legítima situação em que o ladrão busca a ocasião.
Pois é, o relato é da noite de ontem. Minutos antes, mais uma loja no centro da cidade teve vitrine quebrada e objetos expostos foram levados. Outro dia um lojista das redondezas chegou a colocar um cartaz na sua porta dizendo que compreendia a situação difícil do momento, mas que ele não era o culpado e não devia pagar por isso sofrendo com os arrombamentos ao seu estabelecimento
Esta é a realidade do nosso dia a dia. E até o momento só sabemos que repressão é a saída imediata, de curto prazo, para tentar conter esta violência. É desta forma que a região da serra celebra a chegada de 96 novos policiais militares para trabalhar nas ruas. São 50 em Caxias, 20 em Bento, 10 em Farroupilha e assim por diante.
Mas também sabemos que este número é muito baixo tendo em vista a carência existente. O Governador Sartori já autorizou concurso público para a contratação de mais de seis mil homens para a segurança, destes, mais de quatro mil apenas para a Brigada Militar. Vai resolver? Não, mas ameniza.
A verdade é que vivemos um triste momento em que a lei do mais forte é o que prevalece. E, hoje, o mais forte, o mais numeroso, é o lado do mal. O cidadão precisa saber que não está protegido. Está à mercê de quem não respeita a lei e possui arma. O cidadão sabe que se olhar para o lado pra pedir socorro, muito provavelmente não encontrará um policial para socorrê-lo.
Tudo isto é fruto de uma sociedade injusta que a cada dia aprofunda o abismo social entre seus cidadãos, responsabilidade de governos irresponsáveis, imprudentes, ineptos e que só pensam na sua auto preservação mesmo que ao custo do bem estar de seus cidadãos.
Como sequer existem recursos para a construção de novos presídios, o negócio é reforçar vitrines com cortinas de ferro e cercar suas casas com altos muros. Eles lá fora agindo como quiserem, nós aqui dentro encolhidos e com medo.