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Dólar alto: "música para uns, ruído para outros"

Dólar alto: "música para uns, ruído para outros"

É difícil de dizer em que patamar a moeda americana irá estacionar. Nem alguém como o consultor financeiro e diretor do CIC de Bento Gonçalves, Adelgides Stefenon, que durante 15 anos vendeu para o mercado externo e especialmente para os Estados Unidos consegue prever. “Este é um dos indicadores mais difíceis. PIB, inflação, são de difícil previsão, mas ainda a gente pode chegar mais perto um índice”, explica. Ainda assim acha que até o final do ano, a moeda americana se estabilize em torno dos R$3,50. Ele lembra que no primeiro mandato de Lula, lá em 2003 a moeda americana esteve em R$ 4,05, se passaram 15 anos e só agora o dólar chega perto dos R$ 4,00 novamente.

Adelgides Stefenon

Para dois dos setores industriais mais importantes na matriz bento-gonçalvense a alta da moeda é positiva. “A indústria moveleira só importa máquinas, todo o resto é matéria-prima nacional. Com o real desvalorizado nossas exportações ganham competitividade. Ao mesmo tempo a indústria vinícola deve comemorar, pois o vinho estrangeiro se torna mais caro e devolve preço atrativo aos nacionais”.

Aquilo que se costuma chamar de valorização do dólar, na verdade é desvalorização do real, lembra Stefenon, isto porque com a subida das taxas de juros nos Estados Unidos os investimentos especulativos buscam países mais seguros e somem dos mercados emergentes, caso do Brasil.

Recuperação interna

É de Reomar Slaviero presidente do Simecs – Caxias do Sul – uma definição bem clara e que ele trouxe de encontro na Fiergs esta semana: “Para quem exporta a valorização do dólar soa como música, mas quem precisa importar insumos escuta ruído”.

Slaviero: questão de ponto de vista

O próprio setor metalmecânico tem no aço seu principal insumo e este preço é estabelecido no mercado internacional, mesmo aquele comprado internamente. “Ainda não aconteceu repasse, mas isto pode acontecer já no próximo mês, isso se o preço da moeda não voltar a cair, já que o Governo tem mecanismos para intervir no mercado”, observa.

Slaviero faz notar um dado interessante, pontual e que traz uma boa notícia. O primeiro trimestre de 2018 representou queda de sete por cento nas exportações, mas isto não é um dado de todo negativo. “Houve recuperação do mercado interno na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, aqui as vendas cresceram 25%. Então o pessoal deu mais atenção às vendas no mercado interno que reagiram bem do que às exportações”, explica

Dólar e frio

Oscar Ló é presidente do Ibravin

Não é o caso de empolgação, mas sim, o presidente do Ibravin, Oscar Ló, diz que a alta do dólar, colocados na balança prós e contras, é benéfica, uma vez que o mercado de vinhos finos detém mais de 85% do mercado brasileiro. “Ganhamos em competitividade, mas é preciso lembrar que muitos insumos são importados. É o caso do vidro, papelão, produtos enológicos. Ainda assim precisamos avaliar como boa para o setor a alta da moeda americana”.

Ló ainda aponta para um momento de otimismo tendo em vista as comemorações do dia do vinho, que começam nesta sexta-feira e a chegada, ainda que tardia, do frio. “O varejo sempre espera pelos dias mais frios para repor estoques, então isto deve começar a acontecer”, prevê, ainda assim trazendo um dado positivo: “estamos felizes com o desempenho de espumantes e sucos que no primeiro semestre deste ano tiveram venda bem superior às do mesmo período em 2017”.