Polícia

Depois de alguns meses de trégua, facções retomam guerra do tráfico na Serra

Depois de alguns meses de trégua, facções retomam guerra do tráfico na Serra


Enquanto representantes da segurança pública e comunidade debatem a baderna no entorno de casas noturnas e espaços públicos de Caxias do Sul, uma guerra avança livremente nos bairros mais afastados do centro.

Duas facções que dominam o sistema prisional gaúcho e estenderam seus tentáculos na Serra travam uma disputa banhada em sangue pelo domínio do tráfico. A presença das facções na Serra foi denunciada pela primeira vez em 2015.

Foto montagem: Mauro Teixeira

Hoje, a guerra tem de um lado, os Manos da Serra, que estariam cobrando uma espécie de mensalidade de comerciantes para que possam trabalhar sem serem incomodados.
Do outro lado a facção Balas na Cara, que tenta impedir esse pagamento para evitar o crescimento financeiro dos rivais que também brigam por espaço no comando do tráfico nas principais cidades da Serra Gaúcha.

Na últimas semanas os comerciantes de Caxias receberam mensagens de voz, via aplicativos, com conteúdos ameaçadores. Acoados por ataques dos dois lados, pois algumas mensagens dizem que se pagarem para uma facção, estariam comprando briga com a outra, alguns comerciantes preferem fechar as portas dos estabelecimentos do que correr o risco de serem vítimas de possíveis represálias.

Para agravar ainda mais o quadro, uma série de incursões de comboios criminosos passou a invadir bairros, matando rivais e ateando fogo em suas casas. Ações foram registradas em Farroupilha, Bento Gonçalves e Caxias do Sul.

Facções que têm como referência a Cadeia do Apanhador. Mas alguns integrantes estão sendo levados à Pics, um dos poucos presídios do Estado que historicamente evitou estreitar laços com as organizações. Lá, presos sem vínculos com os dois grupos temem pelo rumo da guerra e os efeitos colaterais na cadeia onde há anos não há registro de ocorrências. E são dos presídios que partem a maioria das ordens para os bandidos na rua. A comunicação por áudio se espalha rápido entre os “exércitos”.

Em um dos áudios um criminoso faz o convite para um comparsa e relata como a quadrilha estaria estruturada para fazer novos ataques. “Temo carro, temo garagem, temo gente pra levar, temos ferro. Só precisava de um piá, se tu quisé ir junto dar uns tirinhos, nós mandamos te pegá”, convida.

Ouça na íntegra:

Numa outra mensagem que supostamente também teria vindo de dentro do presídio um indivíduo que faz parte de uma das facções ordena que alguém intermedeie uma conversa dele com o proprietário de uma boate, que não estaria disposto a ceder as chantagens da quadrilha. “Vamo pedir para que alguém aí responsável pela boate, encostar no meu número dois minutinhos para nós trocar um papo, para nós tentar resolver no diálogo. Que não adianta ir na polícia, ir em lugar nenhum. A gente tem gente grande envolvida nessa caminhada aí. Todas as cidades estão pagando. O estado inteiro paga, entendeu?”, alerta.

Ouça na íntegra:

Mais tarde o mesmo criminoso diz que já teria mandado alguém fazer o serviço na boate, mas a mesma estava fechada. “Os guri foram de metralhadora para tocar fogo em tudo. A gente está tentando chegar numa conversa, mas não estamos conseguindo”, relata.

Ouça na íntegra:

Há uma solicitação judicial para a transferências dos líderes dos grupos para presídios federais longe do sul do país. Mas ainda não há definição da Justiça.