Seguidas denúncias de problemas estruturais, de alimentação e de falta de professores em determinados horários, motivaram uma vistoria organizada pelo Sindicato dos Empregados em Entidades Culturais, Recreativas, de Assistência Social, Orientação e Formação Profissional, o Senalba, de Caxias do Sul, em escolas de educação infantil.
A reportagem do Portal Leouve acompanhou as visitas em quatro instituições: Escola Dr. Renan Falcão de Azevedo, no bairro Reolon; Frei Ambrósio, no Esplanada; Consolação, no bairro Consolação; e Tio Danilo, no Salgado Filho. Ato todo, são 45 instituições municipais que são controladas por centros terceirizados.
Na primeira tentativa, portas trancadas. Através da entidade filantrópica que administra a escolinha do bairro Reolon, a entrada não foi permitida. A denúncia referente ao estabelecimento de ensino é sobre um esgoto a céu aberto que não permitiria que as crianças pudessem aproveitar parte do pátio externo para atividades. O fato, inclusive, motivou a ida do vereador Rafael Bueno (PDT) integrante da Comissão de Educação da Câmara e Claiton Melo, diretor do Senalba, a registrarem um boletim de ocorrência.
Logo na sequência, a vistoria foi realizada na Escola Frei Ambrósio. Lá, há relatos de problemas estruturais como infiltrações, vidros quebrados, brinquedos do parque danificados e condições de trabalho prejudicadas na cozinha da instituição. No final do mês de março foi feita uma avaliação predial com prefeitura, administradores, direção e responsáveis. A partir daí, o centro filantrópico teria contratado uma empresa que presta serviços de manutenção. Por conta de problemas financeiros, será realizada uma festa junina na escola para arrecadação de fundos. Atualmente, cerca de 300 crianças frequentam a escola, conforme a coordenação.
Após, a visita foi na escolinha do bairro Consolação. Aparentemente, não foram constatados graves danos estruturais. O problema do local seria a falta de educadores. Para 70 crianças que passam o dia na instituição, há nove professoras e uma cuidadora.
A última escola visitada foi a Tio Danilo, no bairro Salgado Filho. Esta instituição está sem a presença de uma coordenadora fixa desde a última sexta-feira, dia 27, de acordo com familiares de alunos(as). Algumas mães esperavam a saída das crianças e relataram uma série de problemas enfrentados nos últimos meses, como é o caso de Elisângela Teixeira Antunes. Segundo ela, falta alimentação, higiene pessoal e houve uma denúncia de maus-tratos contra uma professora.
“A gente tem um grupo de mães, sendo que duas são do conselho da escolinha. Foi relatado neste grupo que tem falta de comida, falta de higiene pessoal, crianças sem fazer escovação, e também foi relatado por várias mães maus-tratos por parte de uma professora do maternal 1. Denunciamos no Ministério Público (MP) e vai ser aberta uma investigação. Relatamos para o convênio e para a Smed (Secretaria Municipal de Educação) que vai abrir investigação para o desligamento desta professora. Ela bate nas crianças, relatos das próprias crianças, de dois anos”, salienta.
Para Claiton Melo, um dos grandes problemas está na quantidade reduzida de profissionais em determinados horários.
“Nós recebemos relatos de tudo que é maneira que as vezes foge do alcance sindical. É importante ressaltar a precariedade, ou seja, um número grande de horários para um número reduzido de profissionais. Isso ocasiona o mau atendimento e as crianças acabam sendo, em alguns momentos, desleixadas, e isso vem ocasionando até uma revolta dos pais. De fevereiro a abril, mais de 100 pessoas perderam o emprego por não concordarem com a estrutura e com as condições que se encontram os espaços”, complemente o diretor do Senalba.
Já o vereador Rafael Bueno destaca os relatos feitos por profissionais sobre as atuais condições enfrentadas nas escolinhas e o impasse entre as entidades filantrópicas e prefeitura.
“A secretaria de educação jogou a responsabilidade para as conveniadas e as condições já estavam precárias nas escolas de educação infantil. Agora, há um impasse entre as conveniadas e a Smed sobre quem é responsável pela manutenção daquelas que já tinham ofício e melhorias a serem feitas. Em 15 de março deste ano fizemos uma denúncia no Ministério Público (MP) onde denunciamos a precariedade das escolas, na estrutura. O que a gente ouve das professoras, que não se identificam por medo de represálias, é a questão da falta de alimentos que a Smed não manda. Dividir uma maçã em quatro e não poder repetir. As professoras têm que fazer vaquinha para comprar materiais didáticos e outra coisa gravíssima: o acúmulo de crianças em certos horários, porque eles não tem o número de professores suficiente”, reforça.
De acordo com o Senalba, outro problema apresentado pelas profissionais é relativo ao prêmio mensal de assiduidade de R$ 200,00. Conforme denúncia, mesmo com a apresentação de atestado médico comprovando a falta em determinado horário ou dia, as administradoras não repassam ele valor, que sai dos cofres do município.
O sindicato deve fazer nova denúncia junto ao Ministério Público nos próximos dias.