Uma megaoperação contra a lavagem de dinheiro oriundo do tráfico de drogas estadual com conexão nacional, envolvendo duas facções gaúchas e uma paulista, foi deflagrada ao amanhecer desta quarta-feira pelo Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) da Polícia Civil. Mandados são cumpridos no Rio Grande do Sul e em outros nove estados. A investigação começou há um ano. O alvo da operação são as facções gaúchas Os Manos e V7 em associação com a facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) para a distribuição maciça de cocaína e maconha no Rio Grande do Sul, integrando-se ainda em uma rede nacional de lavagem de dinheiro do narcotráfico interestadual e a respectiva distribuição de lucros.
Em apenas um ano, a movimentação financeira das organizações no esquema resultou em quase R$ 348 milhões. Cerca de 101.800 transações bancárias ilícitas foram encontradas e analisadas. Houve a comprovação de que facções gaúchas enviam pagamentos de logística e distribuição de lucros à facção paulista.
CONFIRA AS ORDENS JUDICIAIS
Um total de 502 ordens judiciais estão sendo cumpridas por cerca de 400 agentes em dez estados durante a chamada operação Pegasus, conduzida pela Delegacia de Repressão aos Crimes de Lavagem de Dinheiro (DRLD), sob comando do delegado Adriano Nonnenmacher. Entre os mandados estão quebras de sigilos bancários, fiscais, financeiros, bursátil, telemáticos, mandados de busca, prisões, indisponibilidade de bens móveis, imóveis e ativos financeiros/mobiliários na bolsa de valores e em criptomoedas. Além de indisponibilidade de ativos em moeda corrente nacional e dólares, exchanges foram identificados com criptomoedas dos alvos e estão com bloqueios de ativos.
Estão sendo bloqueadas 93 contas bancárias, ações na bolsa de valores e em 41 exchanges/corretoras. Há o cumprimento ainda de 21 prisões preventivas e temporárias, bem como 63 mandados de busca e apreensão, em um total de 58 investigados. A operação indisponibiliza 30 veículos e quatro imóveis.
DETALHES DA INVESTIGAÇÃO
O trabalho investigativo apontou a existência de células interligadas em dez estados, entre outros sob suspeita, todas ligadas a um polo de operadores financeiros pessoas físicas e jurídicas em São Paulo. Existem indícios inclusive de ligação ao alto escalão do PCC. Conforme a DRLD, um esquema de lavagem de capitais sofisticado foi descoberto, não fixando-se em patrimônio imobiliário e veículos em nome próprio ou de laranjas, mas sim através do sistema financeiro nacional. Os policiais civis detectaram centenas de transações bancárias diárias dissimuladas, pulverização, fracionamento, smurfing, uso de cheques ao portador para saques em espécie em vários estados, fronteiras, zonas portuárias e uso de bancos digitais com dezenas de transações diárias em um mesmo CPF ou CNPJ para burla à fiscalizações administrativas.
O esquema envolvia ainda uso de financeiras, depósitos e saques em lotéricas, mescla de ativos ilícitos e lícitos em empresas reais, integralização de capital espúrio em algumas destas pessoas jurídicas, criação de transportadoras e exchanges próprias, uso de criptoativos e câmbio de dólar no Sul do Rio Grande do Sul, pagamentos a transportadores de drogas nas fronteiras do Mato Grosso do Sul, Rondônia e Amazonas, bem como junto aos portos de Paranaguá, no Paraná, e Rio Grande, no Rio Grande do Sul.
Segundo a equipe da DRLD, a circulação de dinheiro de forma dissimulada permite que os valores em espécie cheguem aos destinos finais, via sistema financeiro tradicional, com emaranhado de transações bancárias propositais, e criptomoedas. Doleiros, alvos também da ação, estão envolvidos. No período de apuração, os agentes recolheram R$ 3 milhões em dinheiro dos traficantes.
A investigação também confirmou a utilização do porto de Rio Grande, confirmando reportagem do Correio do Povo em 9 de maio deste ano. Um operador gaúcho, morando no Paraná, realizava pagamentos e transportes de valores ao porto paranaense de Paranaguá, sendo inclusive flagrado com R$ 478,7 mil em dinheiro, e com suspeita de operar também no porto na cidade gaúcha de Rio Grande.
CIDADES QUE RECEBERAM A OPERAÇÃO
A operação Pégasus ocorre em Porto Alegre, Canoas, Cachoeirinha, Alvorada, Eldorado do Sul, Santa Vitória do Palmar e Chuí, no Rio Grande do Sul; em Garopaba, em Santa Catarina; Matinhos e Palotina, no Paraná; em Franco da Rocha e Francisco Morato, em São Paulo; em Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul; em Pouso Alegre, em Minas Gerais; em Goiânia, em Goiás; em Salvador, na Bahia; em Porto Velho, em Rondônia; e em Humaitá, no Amazonas.
O diretor geral do Denarc, delegado Carlos Wendt, acompanha a megaoperação direto da Secretaria de Operações Policiais Integradas do Ministério da Justiça e Segurança Pública, em Brasília. A mobilização inclui as forças policiais de cada estado. No Rio Grande do Sul, a Brigada Militar e a Superintendência dos Serviços Penintenciários (Susepe).