Opinião

De lavadeiras e abobrinhas

De lavadeiras e abobrinhas


O país está perplexo. Quer dizer, o trabalhador, o cidadão e até os estudantes de direito andam perplexos. Só não está assombrado, como bem lembram os jornalistas políticos de Brasília, a base do presidente no Congresso Nacional.

O discurso de Michel Temer para refutar as acusações do Procurador da República, Rodrigo Janot são, para dizer o mínimo, fracas. Parece conversa de lavadeira, sem ofender a quase extinta classe das lavadeiras. Dá argumento pra quem precisa justificar seu voto no Congresso e pra estes deputados da base, qualquer hortifrutigranjeiro serve, ou seja, abobrinhas. Eles não querem é largar as tetas.

Pode o Presidente fazer insinuações contra a probidade de Janot? Até pode.  Mas que isto não sirva para diminuir a gravidade das acusações que pesam contra ele. Aliás, esta suspeição mostra aquilo que há tempos já se desconfia:  a operação Lava Jato e todas as denúncias que pesaram contra os dirigentes do PT, só ocorreram porque instituições como a Procuradoria da República e a Polícia Federal trabalharam com liberdade e sem a pressão política que hoje se desenha em fortes tons.

Faltam provas, alega o presidente até a Deus invocando. Ora, para quem instruiu o processo há provas de sobra. E a meu ver, cada vez que Temer encara os microfones com suas mãos irritantemente grandiloquentes, parece que se afunda mais na mentira deslavada dissimulada pela fleuma de quem jamais estaria onde está pelo voto popular.

Temer não renunciará, nem cairá, exatamente porque ele precisa preservar os interesses de quem já está no poder. Foi assim com Dilma e sempre será assim a menos que esteja muito clara a possibilidade da cassação, como ocorreu com Collor de Mello.  O diabo é que tudo aquilo anteriormente preconizado para depor Dilma, já não se sustenta. É meia verdade que saímos da crise. Não há ambiente para a votação das reformas enquanto um governo perde a credibilidade a cada dia e tem índices de aprovação irrisórios.

A verdade é que o Brasil está afundado numa crise de identidade, de imobilidade e denuncismo sem precedentes. Está escancarada para quem quiser ver de que tipo de barro são feitos nossos mandatários. Eles cheiram mal e este odor não é por acaso, é cheiro de víscera apodrecida dos pés à cabeça.