Caxias do Sul

Dia de combater o preconceito ao nanismo: 'Ainda tem gente que nos vê como uma atração de circo'

Dia dedicado a combater o preconceito e lembrar das dificuldades do portador de nanismo no Brasil.

Foto: Mauro Teixeira
Foto: Mauro Teixeira

Sancionada em 2017, o dia 25 de outubro é reconhecido como o Dia Nacional de Combate ao Preconceito contra as Pessoas com Nanismo . A data simboliza um passo importante na conscientização das diferenças, mas o caminho da aceitação social e desmistificação do nanismo ainda é longo.

O estudante de filosofia e direito, Baidir Daniel Bianchi, 40 anos, morador do bairro Marechal Floriano é um dos exemplos das dificuldade e preconceito sofridos pelos portadores de nanismo em Caxias do Sul.

Nascido em uma família com pai e mãe de estaturas consideradas normais, e com dois irmãos de 1,80m e 1,85m, Baidir mede 1,28m de altura era o único caso da família até o nascimento do filho, João Emanuel de Oliveira Bianchi, de seis anos, que também nasceu com nanismo.

Baidir enfrentou uma série de dificuldades e preconceitos relacionados ao tamanho. Durante a infância era protegido dentro de casa pelos pais e pelos, ele lembra que na época tinha o muro da residência em que morava no bairro Cristo Redentor como limite do que iria encontrar fora de casa ao longo da vida.

Saia apenas para encontrar parentes, e aos seis anos comecei na pré-escola, nos anos 80 e 90 tive a minha infância foi neste período em que todos sofriam preconceitos. Eram os negros, deficientes e nós com nanismo. Ninguém era poupado nessa época de sofrer segregação ou buyling”, conta.

Na adolescência as dificuldades não diminuíram, muito pelo contrário a chegada da puberdade associado aos dilemas desta fase ficaram mais evidentes e os conflitos emocionais relacionado a vida afetiva, mesmo com os percalços assim não desistiu de encontrar o grande amor. “Hoje sou casado com a Angelita Conte de Oliveira, uma mulher de estatura normal, mede 1,65, mãe do meu filho. Hoje são eles que me fazem querer continuar conquistando o mundo”, relata.

Em família: Baidir Daniel Bianchi com a esposa Angelita Conte de Oliveira e o filho João Emanuel de Oliveira Bianchi. Foto: Mauro Teixeira

Em relação ao preconceito, Baidir revela que hoje em dia a situação deu uma amenizada, e está bem diferente do que enfrentou nas décadas de 80 e 90, quando frequentemente era alvo de constrangimentos. “Certa vez eu estava em um restaurante e chegou uma família, assim que me viram foram logo apontando para mim e falando ‘olha o anão! Olha o anão! como se eu fosse uma atração circense. Graças a Deus isso passou e hoje eu recebo ajuda e compreensão por onde passo”.

Na área profissional, Baidir conta que sempre buscou aprender sempre a mais com a intenção de se destacar em uma época que não existia a Contratação de PCD: processo seletivo, inclusão e conscientização de pessoas com deficiência .

Aos 18 anos arranjou o primeiro emprego em uma casa de jogos, no período em que os bingos eram liberados no país. “O então proprietário do bingo, Luís Carlos Festugatto, foi quem assinou minha carteira profissional pela primeira vez. Eu tinha muita facilidade de fazer amigos e conversar com as pessoas, e foi isso essa minha característica que chamou a atenção e fez com ele me contratasse”, revela.

Nossa vida não é fácil. É uma batalha desde a hora que acorda até a hora que a gente vai dormir”

Foi durante o período entre a adolescência e a vida adulta que Baidir percebeu que para conquistar algo a mais na vida, teria que fazer diferente ou até mesmo se esforçar mais do que as outras pessoas consideradas normais. Assim como sofreu muito com as piadas, buylling e preconceito, ele também conheceu o lado bom das pessoas.

Pessoas que conheci na década de 80 ou no final da década de 90, são meus amigos até hoje. Muitos me viram passando pelas dificuldades e se sensibilizaram comigo e seguem até hoje fazendo parte da minha vida”.

A falta de ambientes adaptados são dificuldades diárias para quem sofre de nanismo. Foto: Mauro Teixeira

Quanto a acessibilidade, quem sofre de nanismo enfrenta a dificuldade em viver em um mundo de gigantes. Não há adaptações para esse tipo de deficiência. Tarefas básicas como ir ao banheiro, lavar uma louça e até pegar um ônibus passa a ser uma batalha diária para os anões.

As calçadas não são adaptadas para nós. Nos banheiros públicos temos que utilizar os vasos destinados aos cadeirantes. Nos mercados o problema é alcançar as prateleiras mais altas. Uma vez perdi uma promoção de café, pelo simples fato de que não conseguia pegar o produto e não havia ninguém para me ajudar”.

De acordo com a cartilha médica existem cerca de 200 tipos de nanismo em todo o mundo: O mais comum é a acondroplasia. Ela é uma anomalia genética, não necessariamente hereditária. A estatura dos anões varia de 70 cm e 1,40 m, e sua capacidade intelectual é normal.

Acompanhe o vídeo da entrevista completa com Baidir Daniel Bianchi: