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As cretinices hereditárias

As cretinices hereditárias

Eu confesso a você que, depois de tudo que a gente tem visto acontecer nessa nossa república de bananas, a minha capacidade de ainda ser surpreendido tem sido cada vez mais reduzida a cada dia pelo choque de realidade que nos impõe o governo Temer e o Congresso Nacional.

Mas isso não vem de hoje, e não é só o governo temeroso que é pródigo em tentar nos surpreender sempre da pior maneira possível. Esta é a história desta Nação.

Por isso, não me surpreende – a e nem um pouco a nomeação da filha do presidente do PTB – ela, a deputada federal Cristiane Brasil; ele, o ex-deputado e pivô do escândalo do mensalão Roberto Jefferson – pro ministério do trabalho: e não me surpreende porque essa é a cara da política tupiniquim desde os tempos das capitanias hereditárias.

O pai influente e presidiário já tinha aberto pra ela as portas da política com um cargo generoso na Eletrobrás dos tempos de FHC e ela seguiu por lá nos tempos de Lula, porque fisiologismo por aqui não tem raça, não tem credo, não tem cor. Só tem preço.

Por isso, a escolha da deputada, ela mesma citada na Lava-jato e indicada pelo pai condenado e preso, seguiu um processo que nada tem a ver com competência ou conhecimento da pasta. Ao contrário, a escolha da ministra condenada em causa trabalhista reflete práticas e valores há muito conhecidos no meio político, esse tal fisiologismo.

Afinal, dar cargos em troca de apoio no Congresso é uma prática comum no presidencialismo de coalizão brasileiro, e ainda que pareça incrível, não tem nada de ilegal, embora seja na grande maioria dos casos totalmente imoral.

Mas não é nem o currículo da moça ou a ficha corrida da Cristiane Brasil o que mais me choca nessa nomeação, e olha só, nem o fato de que o suplente dela no Congresso é também um condenado da Justiça, vejam só, por exploração sexual de crianças e adolescentes, e irmão de outro condenado, o ex-governador carioca Garotinho, embora pra mim só isso já devia ser motivo e escárnio suficiente pra causar repulsa. Mas não é.

E o que grita ainda mais alto pra mostrar que tá tudo errado é essa ligação familiar e cartorial com o poder que revela a casa da mãe joana que é a representação política nesta nossa nação dos botocudos.

Vários partidos políticos brasileiros de todos os tamanhos são dominados por grupos familiares que se sustentam bem remunerados com a dinheirama do famigerado fundo partidário ou a base de agrados e presentes de interesses vários. Hoje, os mais ou menos 30 partidos registrados oficialmente no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contam pra lá de 150 parentes em seus cargos de direção.

Pior que isso é que, pelos plenários, corredores e gabinetes do Congresso, uma numerosa bancada de parlamentares de todos os tipos bem poderia chamar de pai, filho, tio, sobrinho, primo ou, até mesmo, de amor aqueles que tratam pela forma regimental como vossa excelência. O mesmo acontece com seus assessores e os assessores dos assessores porque aqui ninguém é bobo.

Cristiane não é a primeira e muito menos a única. Ela é peixe pequeno num mar de tubarões, sarneys, calheiros, covattis, bolsonaros.

Pelo menos 60 deputados e senadores têm familiares também exercendo mandato, na suplência ou licenciados na Câmara e no Senado pra exercer cargos de confiança nos governos país afora. A verdade é que as cristianes e outros apaniguados pelo sobrenome da família estão longe de ser uma exceção. Ontem e hoje, e de pai pra filho, a política brasileira virou um grande negócio de família. Geralmente, dos mais escusos.

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