Caxias do Sul

CPI da Saúde de Caxias do Sul responsabiliza 41 entes e pessoas e pede apuração do Ministério Público

Nove irregularidades foram apontadas, entre elas, fraude no registro do ponto de médicos pediatras na UPA Central

CPI da Saúde de Caxias do Sul responsabiliza 41 entes e pessoas e pede apuração do Ministério Público
Foto: Wellington Frizon / Grupo RSCOM

A responsabilização de 41 entes e pessoas e o pedido de apuração do Ministério Público são as principais conclusões, contidas no relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Saúde, que investigou supostas irregularidades no setor. O documento foi aprovado pela unanimidade dos 10 integrantes da CPI às 11h19 desta segunda-feira (04). Também, na Sala das Comissões Vereadora Geni Peteffi, no início da tarde, em entrevista coletiva à imprensa local, houve o detalhamento do processo de mais de 9 mil páginas, organizadas em 18 volumes, contendo anexos (atas, clipagem e documentos diversos).

De acordo com a relatora da CPI, vereadora Estela Balardin/PT, depois dos nove fatos analisados, ficaram claras as fragilidades no Sistema Único de Saúde (SUS). Estela acredita que a gestão precisa ser reformulada, ao focar na atenção básica e não deixar com que a média e alta complexidade fique sobrecarregada.

A gente só precisa, de fato, que haja o comprometimento da gestão do executivo de repensar alguns formatos de modelo de saúde. Principalmente no que diz respeito a priorizar a questão da atenção básica. Isso é primordial, porque atualmente a gente tem um modelo hospitalocêntrico instituído no nosso município. Isso faz com que as nossas UBS’s muitas vezes fiquem sem médicos e sintam dificuldade na hora de marcar consultas. Isso superlota as nossas UPA’s. Faz com que as pessoas adoecem muito mais e precisem, às vezes, de um leito de hospital. O que é, inclusive, muito mais caro para os cofres do município. Porque se a pessoa tem uma gripe, uma gripe é muito mais barata do que uma pneumonia para tratar. Se a gente trata na prevenção, ao invés de tratar a doença mais grave, a gente consegue, inclusive, economizar”.

A relatora salientou que, além das 41 responsabilizações, a CPI apresentou caminhos para a superação das falhas averiguadas. Ela acredita que, se houver uma fiscalização adequada dos órgãos competentes, será possível garantir o cumprimento de metas.

“O principal, para mim, eu acho que um dos mais graves é a questão da fraude nas horas dos médicos pediatras da UPA Central. A fraude ocorreu durante dois anos, aqui no nosso município, de fevereiro de 2020 a julho de 2022. Ela ocorreu justamente no período de pandemia, onde todos os recursos da saúd, salvavam vidas. E, em outro ponto, haviam recursos da saúde sendo desviados. Foram praticamente 1 milhão e 300 reais de dinheiro público desviados da saúde. E isso é algo muito grave, porque foi por uma empresa subcontratada, a subcontratação na UPA Central é também vedada no contrato. Então, também envolve outra ilegalidade. Houve a demora da notificação da secretária, para notificar o InSaúde demorou mais de 8 meses, para notificar a PGM ela demorou mais de 1 ano. Em relação a fraude, existem 36 médicos envolvidos, existe uma empresa subcontratada envolvida, foram 7.766 horas não trabalhadas, foi muito oneroso para os cofres públicos em um momento de pandemia. Então, para mim, esse é um dos pontos mais graves”.

O presidente da CPI, vereador Rafael Bueno/PDT, classificou a saúde municipal como caótica e situada no que chamou de UTI (unidade de tratamento intensivo). “Faz seis anos que o município passa por equívocos de gestão, no setor. Acreditamos que o desfecho das atividades da comissão contribuirá com o novo rumo, em procedimentos e contratos”, observou.

Em 160 dias de atividades, encerradas hoje, a CPI protocolou 41 requerimentos de diligências, somados a 19 requerimentos de convocações para depoimentos, que resultaram em 17 oitivas com 16 depoentes. As audições totalizaram mais de 53 horas de duração. Aconteceram 18 reuniões ordinárias e cinco extraordinárias, além das sessões de oitivas.

Além do vereador-presidente Rafael Bueno/PDT, fazem parte da CPI o vice-presidente dela, vereador Maurício Scalco/NOVO, e a relatora, vereadora Estela Balardin/PT. Completam a formação de dez integrantes os parlamentares Adriano Bressan/PTB, Alberto Meneguzzi/PSB, Alexandre Bortoluz/PP, Olmir Cadore/PSDB, Renato Oliveira/PCdoB, Rose Frigeri/PT e Velocino Uez/PTB.

9 fatos analisados na investigação de 160 dias

1) Fraude no registro do ponto de médicos pediatras na UPA Central;

2) Ilegalidade da subcontratação nas unidades de pronto atendimento;

3) Alta rotatividade no quadro de pessoal na UPA Central;

4) Ausência de procedimento licitatório para gestão na UPA Zona Norte;

5) Não cumprimento integral do plano de metas da UPA Central e fragilidade de fiscalização, por parte do Poder Executivo;

6) Indicadores de saúde divergentes dos parâmetros estabelecidos pelo Ministério da Saúde;

7) Inauguração da nova ala do Hospital Geral (HG), sem condições de uso, e descumprimento da lei municipal 8.888/2022;

8) Possível conflito de interesses no fornecimento de materiais para a Fundação Universidade de Caxias do Sul (FUCS) e para as obras do HG;

9) Atendimento materno-infantil na Rede de Saúde Pública Municipal.

Saiba quem são os 41 entes e pessoas responsabilizados pela CPI

1) Ana Lucia Mendes Nobre, médica pediatra da UPA Central, citada por recebimento indevido de horas extras não trabalhadas;

2) Ana Paula Jacobs, médica pediatra da UPA Central, citada por recebimento indevido de horas não trabalhadas;

3) Camila Corá, médica pediatra da UPA Central, citada por recebimento indevido de horas médicas não trabalhadas;

4) Carina Bisotto, médica pediatra da UPA Central, citada por recebimento indevido de horas não trabalhadas;

5) Carlos Rockenback, médico pediatra da UPA Central, citado por recebimento indevido de horas não trabalhadas;

6) Diane Arbusti, médica pediatra da UPA Central, citada por recebimento indevido de horas não trabalhadas;

7) Dino Sani Cardoso, médico pediatra da UPA Central, citado por recebimento indevido de horas não trabalhadas;

8) Eduardo Fracasso, médico pediatra da UPA Central, citado por recebimento indevido de horas não trabalhadas;

9) Emerson Ramos, médico pediatra da UPA Central, citado por recebimento indevido de horas não trabalhadas;

10) Fernando Mendes Rocha, médico pediatra da UPA Central, citado por recebimento indevido de horas não trabalhadas;

11) Gabriela Beltzki, médica pediatra da UPA Central, citada por recebimento indevido de horas não trabalhadas;

12) Giorgia Picoli, médica pediatra da UPA Central, citada por recebimento indevido de horas não trabalhadas;

13) Giuliana Brando, médica pediatra da UPA Central, citada por recebimento indevido de horas não trabalhadas;

14) Iorrana Rodrigues, médica pediatra da UPA Central, citada por recebimento indevido de horas não trabalhadas;

15) Jéssica Muller, médica pediatra da UPA Central, citada por recebimento indevido de horas não trabalhadas;

16) Jéssica Ribeiro, médica pediatra da UPA Central, citada por recebimento indevido de horas não trabalhadas;

17) Jorge Mazzochi, médico pediatra da UPA Central, citado por recebimento indevido de horas não trabalhadas;

18) Julia Lehr Sisto, médica pediatra da UPA Central, citada por recebimento indevido de horas não trabalhadas;

19) Julia Tomazzoni, médica pediatra da UPA Central, citada por recebimento indevido de horas médicas não trabalhadas;

20) Larissa Maia, médica pediatra da UPA Central, citada por recebimento indevido de horas não trabalhadas;

21) Leo G. Franco, médico pediatra da UPA Central, citado por recebimento indevido de horas não trabalhadas;

22) Marcos Masci, médico pediatra da UPA Central, citado por recebimento indevido de horas não trabalhadas;

23) Margarita Britz, médica pediatra da UPA Central, citada por recebimento indevido de horas não trabalhadas;

24) Maria Jiulia, médica pediatra da UPA Central, citada por recebimento indevido de horas não trabalhadas;

25) Mariane Menegon de Souza, pediatra da UPA Central, citada por recebimento indevido de horas não trabalhadas;

26) Mariana Turra, médica pediatra da UPA Central, citada por recebimento indevido de horas não trabalhadas;

27) Michele Toscan, médica pediatra da UPA Central, citada por recebimento indevido de horas não trabalhadas;

28) Natalia Gazzola Viana, média pediatra da UPA Central, citada por recebimento indevido de horas não trabalhadas;

29) Pablo Rocha, médico pediatra da UPA Central, citado por recebimento indevido de horas não trabalhadas;

30) Paola Abreu, médica pediatra da UPA Central, citada por recebimento indevido de horas não trabalhadas;

31) Patrícia M. B. Suzin, médica pediatra da UPA Central, citada por recebimento indevido de horas não trabalhadas;

32) Roberta F. Santa Catarina, médica pediatra da UPA Central, citada por recebimento indevido de horas não trabalhadas;

33) Roger de Souza Costa, médico pediatra da UPA Central, citado por recebimento indevido de horas não trabalhadas;

34) Sara Storti, médica pediatra da UPA Central, citada por recebimento indevido de horas não trabalhadas;

35) Thomaz Heringer, médico pediatra da UPA Central, citado por recebimento indevido de horas não trabalhadas;

36) Vanessa Ten Cate, médica pediatra da UPA Central, citada por recebimento indevido de horas não trabalhadas;

37) Ivete Borges, ex-diretora da UPA Central;

38) Nelson Alves de Lima, presidente do InSaúde, responsável pela realização do contrato entre o InSaúde (empresa licitada da UPA Central) e a JC Serviços Médicos, nada de 1º de fevereiro de 2020;

39) José Quadros dos Santos, ex-presidente da Fundação Universidade de Caxias do Sul (FUCS);

40) Sandro Junqueira, diretor-geral do Hospital Geral (HG);

41) Poder Executivo Municipal.

Os 16 depoentes das 17 oitivas

1) Então diretor da UPA Central, Alessandro Ximenes (28/08), já substituído por Marcel Bertini;

2) Diretora da UPA da Zona Norte, Renata Demori (31/08);

3) Secretária municipal da Saúde, Daniele Meneguzzi (05/09 e 10/11);

4) Presidente do Sindisaúde Caxias (sindicato dos trabalhadores do setor), Bernadete Giacomini (15/09);

5) Presidente do Conselho Municipal de Saúde, Alexandre Silva (25/09);

6) Ex-supervisora da UPA Central, Margarete Zietolie (05/10);

7) Procurador-geral da Fundação Universidade de Caxias do Sul (FUCS), Maurício Salomoni Gravina (16/10);

8) Ddiretor-geral do Hospital Geral (HG), Sandro Junqueira (16/10);

9) Ex-presidente da FUCS José Quadros dos Santos (18/10);

10) Superintendente do Hospital Pompéia, Lara Sales Vieira (30/10);

11) Presidente do Pio Sodalício das Damas de Caridade de Caxias do Sul – órgão mantenedor do Pompéia, Sandra Maria Paim Della Giustina Barp (30/10);

12) Vice-presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Rio Grande do Sul (SERGS), Denize Gabriela Teixeira da Cruz (31/10);

13) Diretora executiva do Hospital Virvi Ramos, Cleciane Doncatto Simsen (06/11);

14) Ex-diretora-geral da UPA Central Ivete Borges (13/11);

15) Presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Caxias do Sul (Sindiserv), Silvana Piroli (14/11);

16) Presidente do Sindicato dos Médicos de Caxias do Sul, Marlonei dos Santos (16/11).

*Informações com apoio da assessoria de imprensa da Câmara de Vereadores Caxiense