Caxias do Sul

Covid-19: “Chegamos ao limite”, diz diretor de hospital em Caxias do Sul

Caxias do Sul, hoje, tem apenas oito leitos de UTI livres

Covid-19: “Chegamos ao limite”, diz diretor de hospital em Caxias do Sul

O alto índice de contaminação registrado há, pelo menos, duas semanas seguidas em Caxias do Sul, pode gerar o tão temido colapso no sistema de saúde da região. Com mais de 94% de ocupação das Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs), tanto no Sistema Único de Saúde (SUS) quanto no particular, é difícil se imaginar uma expansão ainda maior nos hospitais que já sofrem com falta de estrutura, equipes médicas e clínicas e o cansaço acumulado. Hoje, em Caxias, há apenas oito leitos de UTI livres somando privados e públicos.

Os dados apresentados no Painel Covid-19 da Secretaria Municipal da Saúde apontam para um final de ano perigoso, ainda mais levando em consideração a linha de corte do distanciamento controlado. A região de Caxias só não foi para a bandeira preta por 0,01 nos dados estaduais. A macrorregião acumulou índice 2,49, enquanto a entrada em lockdown é prevista em 2,50. A previsão das festas de final de ano (Natal e Ano Novo) e das possíveis aglomerações entre amigos e familiares, hoje é a maior preocupação da área da saúde. Assim como foram as eleições. Afinal, 14 dias após a realização do segundo turno do pleito, as UTIs chegaram no limite.

De acordo com o Dr. Vinícius Lain, diretor técnico do Complexo Hospitalar da Unimed Nordeste, em entrevista ao Jornal da Manhã Edição Serra Gaúcha da Jovem Pan 92.5 FM, um dos fatores que preocupa neste momento é a alta taxa de pessoas positivando para coronavírus, a maior desde o início da pandemia, há nove meses. Além disso, o tempo de ocupação das Unidades de Tratamento Intensivo, aliado a novas infecções, está deixando os estabelecimentos de saúde na beira do colapso.

“Um ponto que nos preocupa é o índice de positividade. O índice em todo tempo de pandemia era de 18% a 20%. De duas semanas pra cá é 48%. Ou seja, a cada dois pacientes que procuram o hospital com sintomas gripais, um é positivo para coronavírus. No final de semana esse número aumentou muito. No sábado (12) muitos entraram com sintomas respiratórios graves e não puderam ser liberados para cuidados domiciliares, levando quase à totalidade os leitos hospitalares e UTIs, apesar das medidas da semana passada com aumento de 10 leitos UTIs. Temos seis novos abertos desta quinta UTI dentro do hospital e hoje temos mais de 95% de ocupação desdes leitos todos do Hospital Unimed. Nesse momento temos dois leitos reservados para insuficiências respiratória aguda livres, nossas duas últimas contingências”, diz Lain.

O médico é claro ao dizer que os últimos dias mostraram que o colapso que se tinha medo, praticamente bateu à porta dos estabelecimentos de saúde em Caxias do Sul.

“A gente chegou basicamente ao colapso que se tinha medo. Claro, sempre vamos buscar sempre fazer o melhor atendimento. Mas precisamos que as pessoas se conscientizem e preservem o hospital para os casos mais graves nas próximas 24h, 48 horas, para as coisas se reestruturarem, para não deixarmos as pessoas desassistidas”, reforça o diretor.

Segundo Vinícius Lain, um dos principais problematizadores é o tempo necessário de internação intensiva para cura do coronavírus em pacientes que chegam ao estado grave da doença. Conforme explica o médico, a taxa de mortalidade no Hospital Unimed é baixa, a de cura alta, mas a demora do giro nos leitos é o que pode gerar o tão temido colapso.

“Esse é o grande problema do coronavírus. O paciente demanda muito tempo de cuidado intensivo. O Hospital Unimed tem lidado com taxas muito baixas de mortalidade, nossa mortalidade é 1,2%, considerada excelente de salvamento de pacientes, mas todos pacientes permanecem mais que duas semanas na UTI. Os pacientes que vão a óbito fazem giro de UTI de 18 dias, os que são salvos, o número já sobe para 25 a 35 dias. Então tu colocas um paciente, não tem alta em 20 dias, se colocarem mais um por dia, ainda não tirou o primeiro. Esse baixo giro de UTI que gera o colapso. A quantidade de dias, de tecnologia e quantidade de funcionários. Esse é outro problema que o hospital enfrenta hoje. A gente tem equipes exaustas, funcionários afastados ou porque contratiram, ou com familiares contaminados, então a gente não tem funcionários dentro do hospital para abrir todos os leitos de UTI que a gente gostaria”, complementa.

Após nove meses do primeiro caso confirmado de Covid-19 em Caxias do Sul, agora há o pior pico da doença. O diretor técnico do Completo Hospitalar da Unimed Nordeste salienta que os profissionais estão exaustos, trabalhando mais que o aconselhado, para conseguir dar conta da alta demanda de hospitalizações clínicas e intensivas.

Lá no começo, quando preparamos o hospital, preparamos para 90 dias. E isso foi se alongando. A gente percebe na face dos funcionários, dos médicos, tem profissionais trabalhando 72 horas ininterruptas. O pessoal tá exausto. Eu sempre digo: são heróis saírem de casa todos os dias, cuidar das pessoas, sabendo que eles podem estar naquele leito no dia seguinte. Precisamos do controle social, das aglomerações. Os médicos trabalham mais do que poderiam em condições ideais. É um momento de guerra, precisamos manter as pessoas vivas. Chegamos ao limite, desenhar planos de expansão é simples, mas uma equipe cansada faz vários auxiliares se afastarem por depressão e outras doenças”, diz Lain.

Período mais crítico
“Eu falaria que estamos passando pelo período mais crítico dos últimos meses, a proximidade do colapso do sistema de saúde. O distanciamento social, uso de máscara, álcool em gel, lavagem de mãos, nunca foram tão importantes. A medida que diminuímos o número de infectados, isso reflete no hospital. A gente ainda não sabe quando vamos voltar a vida normal, mas fingir que a vida está normal enquanto os hospitais estão lotados, não é uma vida normal. Precisamos nos unir, evitar aglomerações, e a medida que as pessoas vão melhorando, mais os dias vão passando. Duas semanas passam rápido, e é isso que precisamos para reestruturar a rede hospitalar”, conclui o Dr. Vinícius Lain.

Ouça a entrevista completa:

Casos, dados e óbitos
Caxias do Sul, de acordo com a última atualização às 9h38min desta segunda-feira (14), possui 1.210 casos ativos de coronavírus. A ocupação dos leitos de UTI é de 96,55% do sistema particular (três leitos livres) e de 93,83% no SUS (cinco leitos livres), conforme tabela abaixo:

Evolução de ocupação de UTIs por semana em Caxias do Sul

Óbitos: 244 até a manhã desta segunda-feira (14). Mais de 16 mil casos confirmados, sendo a enorme maioria já de recuperados.