Matéria pública às 16h25 do dia 29/03. Atualizada às 14h50 do dia 05/04
O que parecia a descoberta de uma “mina de ouro” em Cambará do Sul vem resultando na queda da visitação turística, com consequências para toda a cadeia econômica do município. Segundo dados da Prefeitura, desde a concessão dos parques nacionais, em outubro de 2021, houve uma queda de aproximadamente 33% no número de turistas na cidade.
A causa, sobretudo, é o preço do ingresso. Por R$97 o visitante tem três acessos aos parques dos Aparados da Serra (Cânion do Itaimbezinho) e Serra Geral (Cânion Fortaleza), e para a Trilha do Boi, caminho por baixo do cânion Itaimbezinho, pelo período de até sete dias.
De acordo com o prefeito Ivan do Amaral Borges (MDB), a diminuição de visitantes já atinge o comércio local, bares, restaurantes e também as hospedagens.
“O turista que costumava fazer um bate e volta não vem mais. Uma família de quatro pessoas gasta quase R$400 em ingresso. Isso onerou e claro que gerou reflexo nos visitantes. A gente nota no dia a dia“, descreve.
A preocupação com o cenário levou o chefe do Executivo a debater o assunto com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em Brasília, durante o mês de março. A Prefeitura busca a redução dos valores das entradas ou até mesmo a desvinculação dos ingressos com os dois parques para tornar os valores mais acessíveis. Essa é a solução apontada pelo prefeito que afirma defender os pequenos empresários e toda a comunidade de Cambará. “Não adianta fazer a concessão de parques nacionais e transformar aquilo em uma ilha para uma empresa concessionária e todo o entorno ter prejuízo. Tem que interligar e todo mundo ganhar“, aponta.
Ivan conta que na reunião foi informado que até meados de abril deve ser apresentado um mapa delimitando as áreas já consolidadas dentro dos parques e as obras de infraestrutura que poderão ser feitas no local. Há muitos problemas fundiários com áreas que ainda não foram indenizadas. Segundo o prefeito, a concessionária Urbia Cânions Verdes alega que não tem condições de baixar os valores devido à falta de implantação dos projetos previstos. Ainda segundo informado pelo prefeito, a empresa também pediu o reequilíbrio do contrato com o Instituto que se mostrou receptivo. Os reajustes contratuais podem abrir a possibilidade para diminuição dos valores das entradas.
Cânion Fortaleza
Necessidade de melhoria dos acessos
Contudo, além da questão financeira, as condições das estradas que ligam os dois parques também são um empecilho para o desenvolvimento turístico. As vias não foram concedidas e não são responsabilidade da empresa. O secretário de Turismo de Cambará, Fabiano Souza, informa que a via municipal que liga ao Cânion Fortaleza (CS 012) está sendo pavimentada em convênio com o Ministério do Turismo. De acordo com ele, dos 23 km totais, faltam cerca de dois quilômetros para serem pavimentados, além de um trecho dentro do parque que precisa receber PVS.
Por outro lado, a estrada estadual ERS-427, que liga a Itaimbezinho, recebeu recursos estaduais e da bancada gaúcha para pavimentação. Com o objetivo de dar celeridade ao processo, a licença ambiental foi fragmentada para asfaltamento do trecho fora do parque nacional. Porém, o licenciamento completo foi solicitado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e travou a obra. Enquanto a situação não é resolvida, em acordo com o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (DAER), máquinas da Prefeitura estão sendo usadas para dar melhores condições na rodovia.
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“As condições das estradas está mudando o fluxo turístico do parque. O Itaimbezinho era o nosso parque mais visitado. Agora o Fortaleza, com a estrada melhor é o que está sendo mais procurado. Para se ter uma noção da importância da estrada nesse processo“, observa o secretário.
A dificuldade de acesso foi vivenciada pelo turista Jean Cirino, 25 anos, em fevereiro deste ano. Além de reclamar das condições das estradas, o propagandista foi surpreendido ao ter que pagar por guia turístico nas trilhas e cascatas. “Os acessos são muito ruins e eu não esperava por esse custo adicional. Sem os guias não é possível fazer o passeio“, pontuou o caxiense.
Procurada pela reportagem, Urbia Cânions Verdes se manifestou sobre o assunto por meio de nota à imprensa. Confira o comunicado na íntegra:
A Urbia Cânions Verdes, concessionária que administra as áreas de visitação dos Parques Nacionais de Aparados da Serra e da Serra Geral, informa que já investiu mais de R$ 55 milhões na melhoria da infraestrutura para a visitação. Priorizando a contratação de mão de obra local, a concessão gera mais de 250 empregos diretos e indiretos na região. Como parte da estratégia de atração de novos turistas, investiu em atrativos de classe mundial como a tirolesa mais alta das Américas em operação no cânion Fortaleza, além da instalação de restaurantes, cafés e lojas de conveniência para melhor atender os visitantes. Em breve será lançado novo centro de visitantes para melhoria da experiência e ações de educação ambiental.
Desde o início da concessão a Urbia tem buscado apoio de todas as esferas públicas, evidenciando o impacto da má conservação das estradas de acesso aos cânions, prejudicando o desenvolvimento local e a viabilidade do plano de investimentos. Com os recentes eventos climáticos extremos que tem acontecido na região é primordial o investimento público em obras e infraestrutura resilientes às condições climáticas características deste destino turístico
A concessionária tem participado junto à comunidade local de discussões sobre a condição das estradas, em Audiência Pública realizada pela Câmara de Vereadores de Cambará do Sul, em 21 de fevereiro, com a finalidade de debater assunto relacionado à Rodovia RS-427, evidenciando o impasse que está colocado entre União e Estado sobre a responsabilidade da recuperação do trecho. Também no dia 26 de fevereiro a Prefeitura de Cambará do Sul realizou uma audiência pública, entre comunidade, Urbia e ICMBio para esclarecer diversos pontos. A Urbia teve a oportunidade de demonstrar os incrementos na qualidade dos serviços disponíveis aos visitantes e as melhorias realizadas até o momento nos Parques Nacionais.
A concessionária tem nos planos de investimentos diversos projetos que requerem autorização do Poder Concedente (ICMBio), para atrações, tais como:, Skybike, Arvorismo, Campings, além de passarelas e mirantes, que trarão novidades e possibilidades de contemplação e melhoria da experiência compatíveis com os melhores padrões internacionais, e vem demandando celeridade na liberação de tais ações.
Em questionamento em relação ao valor de ingressos e melhorias, nos Parques Nacionais na Serra, a Urbia Cânions Verdes destaca que os valores dos ingressos praticados atualmente, são os mesmos desde agosto de 2023, ou seja R$ 97,00 para os 02 parques, permitindo com o mesmo ingresso, o acesso por 03 vezes, durante o período de 07 dias, em uma estratégia que incentiva a permanência no destino a fim de proporcionar receita para o comércio e turismo locais. Há uma política vigente de incentivo a viagens de grupos com tarifas reduzidas para viagens acima de 15 pessoas.
