Dividido entre a esquerda e a ultradireita, o Chile vai às urnas neste domingo, 19, escolher o próximo presidente do país em um segundo turno disputado entre Gabriel Boric, deputado de 35 anos vindo do movimento estudantil, e José Antonio Kast, advogado e ex-deputado de 55 anos. As certezas internacionais são de que aquele que sair vitorioso fará um governo mais fora do centro do que qualquer outro presidente desde o fim da ditadura no país, o que fez os candidatos, ao longo dos poucos dias de campanha, adotarem um tom mais moderado para tentar angariar eleitores. A última pesquisa Cadem de intenção de votos feita antes do segundo turno mostrou uma disputa apertada, com 52% dos votos válidos para Boric e 48% para Kast, o que sinaliza uma redução da vantagem do candidato da esquerda, que tinha 54% das intenções em análise feita no dia 26 de novembro.
Enquanto Boric tem a ex-presidente Michelle Bachelet ao seu lado, que revelou na última terça-feira, 14, o apoio a ele em prol do respeito aos direitos humanos e à criação de uma nova Constituição no país, Kast tem dificuldades de se livrar da imagem de saudosista do período da ditadura militar, já que por mais de uma vez fez menções a Pinochet. No meio da campanha do segundo turno, ele também precisou fazer declarações públicas para afastar sua imagem do nazismo quando a Agência AP divulgou imagens de um registro no nome do pai de Kast, Michael Kast, no partido nazista em 1942, auge da Segunda Guerra Mundial. “Além de um pedaço de papel, eu e toda a minha família abominamos os nazistas”, afirmou em entrevista a uma rádio local.
Para especialistas, o aceno de Kast ao regime de Pinochet é um dos motivos que impediram um maior avanço dele nas pesquisas. “Kast representa uma ala de direita bem agressiva. Ao longo da sua campanha, ele fez muitas menções ao governo autoritário de Pinochet. Isso acaba afastando muitas vezes o eleitorado da figura dele. O Chile teve uma ditadura muito perversa. Eles têm, inclusive, um museu na capital em memória disso e têm muito presente no cotidiano os anos da ditadura. Se por um lado temos aquele movimento conservador que começou nos países desenvolvidos e agora se localiza na América do Sul, no Brasil, na Argentina com a eleição do Javier Milei, o Kast afasta esse movimento e acaba criando repulsa de possíveis eleitores que não votariam no Boric justamente com essas menções [a Pinochet]”, lembra a professora da Universidade Federal de São Paulo, Regiane Nitsch Bressan. Apesar das polêmicas, o candidato reuniu até o momento o apoio de quatro legendas da direita para a sua eleição: a União Democrática Independente, a Renovação Nacional e o Partido Regionalista Democrata Independente.
Provocações e teste de drogas marcaram debates entre opostos
Um dos pontos polêmicos do último debate presidencial entre os dois candidatos ocorreu quando eles debatiam a legalização da maconha no país. Quando Kast, que já tinha insinuado em conversas anteriores que o seu concorrente usava drogas, falou que ambos deveriam apresentar um teste para detectar o uso de substâncias ilícitas, o candidato da esquerda sacou um documento que comprovaria sua idoneidade. “Sabia que você falaria sobre isso novamente. Trouxe o resultado porque não quero fazer parte de um show”, declarou. Boric também se queixou de uma foto divulgada pelo deputado do Partido Republicano do país, Gonzalo de la Carrera, que mostraria ele em uma manifestação violenta na Praça Itália, epicentro de protestos pró-constituinte em 2019. “Ali está o candidato Boric, mostrando como reformar o Chile. #KastOuComunismo”, falou o parlamentar. A imagem, na verdade, era uma montagem que usava o recorte de uma selfie tirada em 2016 por ele. Nos dias antes das eleições, ambos usaram as redes sociais para divulgar suas últimas promessas e atos de campanha. Enquanto Kast falava em fortalecer o Ministério das Mulheres e divulgava entrevistas feitas ao lado da filha, Boric falou que a educação pública seria uma prioridade do governo e voltou a chamar Kast de “pinochetista”.
*Com informações da Jovem Pan