O Instituto-Geral de Perícias (IGP) recebeu, até o momento, 141 corpos de vítimas da enchente, e já foram analisados pelo órgão. Do total, 131 tiveram a identificação concluída, porém nem todos foram entregues ainda às famílias. Na manhã de segunda (03), 16 ainda estavam nas mãos do Departamento Médico-Legal (DML) do IGP, e, em dez casos, faltava ainda a identificação. Os outros seis aguardam o contato com os familiares. Os dados são do diretor do DML, Paulo Barragan, perito médico-legista da casa, que comentou ainda a respeito do trabalho do órgão diante da maior tragédia climática do Rio Grande do Sul.
“Neste momento, nosso papel é identificar corretamente as vítimas, para que elas possam ser entregues às famílias e processados os sepultamentos. Estudamos caso a caso para o estabelecimento da causa da morte, e ainda montamos um grande grupo de apoio, tanto na parte psicológica, quanto nesta análise. O objetivo é dar o máximo de celeridade possível, desde a entrada do corpo, até a identificação e posterior entrega”, salientou ele. Questionado sobre a diferença deste dado com o número de óbitos confirmados pelo governo estadual, que era de 172 na manhã desta segunda, Barragan diz que este número é contabilizado pela Defesa Civil Estadual, a qual tem uma metodologia diferente do IGP.
Segundo o diretor do DML estadual, atualmente a maior luta é contra a desinformação. “Hoje, praticamente qualquer pessoa com o celular se acha no direito de fazer uma reportagem, e falar qualquer coisa. Isso é difícil, porque se criam falsas notícias, como que existiria um caminhão carregando corpos, ou uma escola com 50 crianças soterradas. É um absurdo, nada disto é verdadeiro”, prosseguiu, acrescentando que uma mentira disseminada dava conta de que um veículo com doações do Paraná, contendo materiais de uso do IGP, foi falsamente classificado como um caminhão repleto de corpos.
“A realidade é que não temos como mensurar. Baseamos nossas estimativas com o número de desaparecidos fornecido pela Polícia Civil, e que, em última análise, condiz com os boletins de ocorrência feitos pelas famílias”. Nesta segunda, 42 pessoas constavam como desaparecidas, conforme o governo. O IGP trabalha com três métodos tradicionais de identificação de corpos, pelas impressões digitais, arcadas dentárias ou DNA. Dado o período transcorrido desde o começo da enchente, o último método é o mais tecnicamente eficaz, comenta Barragan, mas, mesmo assim, desafiador.
“Quando alguém faz o registro de desaparecimento de um familiar, há o estímulo de que o informante faça a doação de DNA, que é inserido em nosso banco de dados. Eventualmente, comparamos com um corpo e localizamos a família”, explica o diretor. Ainda conforme Barragan, o IGP gaúcho tem condições de atender sozinho à demanda das inundações, em que pese o alto número de vítimas, com um número adequado de médicos, por exemplo. “Até declinamos alguns tipos de auxílio por conta disto”, afirmou o diretor. No entanto, a ajuda veio espontaneamente de outros estados, sendo agregados profissionais como papiloscopistas e peritos criminais.
“Também porque os corpos não aparecem todos de uma vez, vão chegando gradualmente. À medida que a água começa a baixar, principalmente em Canoas, na área do bairro Mathias Velho, inicia a limpeza e pode haver mais corpos aparecendo. Mas acredito que estarão dentro do universo de desaparecidos”. Sobre casos que o marcaram, ele cita o caso da bebê Agnes, uma das gêmeas de seis meses de idade falecida nas inundações em Canoas. “Crianças sempre mexem conosco. São mais indefesas que nós”. Ele também reforçou a importância da informação correta e checada com órgãos oficiais, e que só deve ser compartilhado o que for verdadeiro, “para não gerar mais pânico”. O IGP tem também um telefone para informações e orientações às famílias, que funciona 24 horas. O contato é o (51) 98682-9207.
*Via Correio do Povo