Opinião

Caxias e Bento/ Havan e Supermercado Nacional

Caxias e Bento/ Havan e Supermercado Nacional


A Havan chegou em Caxias, o supermercado Nacional saiu de Bento. Há movimentos de empresas que podem ser lidos como retratos três por quatro do momento de prosperidade ou de encolhimento da economia de uma região ou país. Mas este certamente não é o caso.

No marketing se aprende desde sempre que é preciso encontrar a oportunidade e o consumidor certo para o produto e o preço compatíveis – algo mais ou menos assim, algo como um casamento de oferta com necessidade por preço justo. Seria miopia dizer que as lojas do senhor Luciano Hang só estão bem assim porque ele conseguiu 115 anos para pagar a sua dívida milionária com o fisco. Não. A Havan é uma homenagem ao capitalismo, a começar pela réplica grandiloquente da estátua da Liberdade na frente de cada loja. Lá se encontra de quase tudo e mais, as coisas são feitas de maneira ao cliente se sentir realizando um bom negócio (provavelmente seja só ilusão).

Quem está por tás do negócio da Havan entendeu e aplica todas as lições do varejo moderno e o consumidor é livre para escolher se vai apenas visitar a loja ou sair cheio de coisas que precisa e até daquelas que nem são necessárias, afinal, fazer compras é prazeroso.

Cada vez que um gigante brasileiro ou mundial, como a Walmart, tropeça fico um pouco feliz. É a segunda vez que o Nacional tenta emplacar em Bento e não dá certo. A questão é saber se o fechamento do supermercado – até outro dia o maior em em metragem e número de check outs da cidade – diz mais sobre a Walmart ou sobre Bento e suas pessoas?

Histórias de sucesso ou fracasso no mundo corporativo costumam rechear palestras em congressos e simpósios de administração. A Walmart é a maior empregadora do setor supermercadista no Rio Grande do Sul. Mas esta não é a verdadeira dimensão da empresa. Ela, segundo a revista Fortune, é a maior empresa do mundo com faturamento anual de 482 bilhões de dólares e emprega 2,3 milhões de pessoas no mundo. Portanto o enxugamento em suas operações com fechamento de diversas unidades do Nacional no estado, fazem parte de uma estratégia e pouco afetarão o grupo.

Mas é preciso tentar entender porque numa cidade rica como Bento o Nacional não vingou: faltou entender as necessidades e anseios locais. Faltou atendimento personalizado – havia grande rotatividade no corpo funcional. As ofertas e o mix de produtos simplesmente não atendiam aos desejos do consumidor de Bento, que ainda prefere o Apolo, Grepar ou, veja só, a fruteira São Roque. A chegada do Caitá foi apenas a “pá de cal”, mas a saída aconteceria de toda forma no meu modo de entender. Note-se que a marca Caitá era completamente desconhecida no mercado local. Hoje é a maior loja física do município.

Há grande apreensão sobre o que acontecerá naquele valorizado ponto. Está à venda por R$ 21 milhões me informam fontes confiáveis. Mas há necessidade de uma reforma pela deterioração que elevaria o desembolso a 25 milhões. Vale o investimento? Com a palavra os empreendedores.

O certo é que Bento não é para amadores. Não basta ter marca e muito dinheiro para jogar no negócio. É preciso entender a alma e as necessidades do consumidor local. Aliás, não será assim em todos os lugares? Parece que não. Caxias é mais cosmopolita e rica e esta deve ser a diferença mais marcante entre as duas cidades de uma salutar rivalidade. Ganhamos um pouco aqui eles muito ali e cada cidade segue em frente cheia de orgulho e façanhas próprias. O mais recente êxito de Bento aliás é este: o Esportivo está de volta e no ano que vem poderá enfrentar o Caxias e o Juventude. Parabéns Alvi Azul.