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Casa Manzoni tem parte de sua estrutura demolida sem autorização e causa revolta na cidade de Monte Belo do Sul

Casa Manzoni tem parte de sua estrutura demolida sem autorização e causa revolta na cidade de Monte Belo do Sul

Umas edificações mais antigas de Monte Belo do Sul, a centenária Casa Manzoni sempre foi um marco da cidade. Junto da Paróquia de São Francisco de Assis, a história da imigração italiana mantinha-se viva na lembrança dos moradores e imaginário dos turistas. Desde sua construção quando os primeiros habitantes daquela região instalaram-se no local, até o final de outubro de 2021, quem fosse para o município veria a imponente residência. O verbo no passado indica a ruptura destas propriedades.

Além de habitação, a casa antigamente foi um comércio. Para Álvaro Manzoni, vereador da cidade de Monte Belo do Sul e,

Imagem: Arquivo Família Manzoni

principalmente, um integrante da família que lá vivia, a Casa representa a história da cidade. “Ela tem um significado extremamente importante aqui para a comunidade porque ali era um comércio forte, principalmente na época da imigração“, afirma. Naquela edificação, a fartura e prosperidade era tanta que até mesmo bancos procuraram ajuda. A sociedade, composta por imigrantes que trabalhavam com plantio, fazia ali a troca de sementes. Álvaro também destaca que na Casa Manzoni surgiu uma das primeiras vinícolas do estado do Rio Grande do Sul. A residência no centro de Monte Belo do Sul, foi um dos berços da indústria do vinho.

Na casa, gerações de uma família foram criadas. Crianças que brincavam no pátio cresceram e viraram adultos que trabalhavam para tornar Monte Belo do Sul uma cidade cada vez mais próspera. Empreendimentos surgiram, abriram as portas e seguiram seu rumo. Ciclos foram quebrados desde a decisão familiar de vender a propriedade. Investidores privados adquiriram o imóvel histórico no ano de 2020 e para o local, tinham outros planos, que não a manutenção da história e das lembranças da Casa Manzoni.

Demolição do imóvel

Segundo as fontes ouvidas pela reportagem do Grupo RSCOM, desde o princípio, os compradores do imóvel desejavam destruir completamente a casa. Seguindo as leis, pedidos para demolição foram encaminhados ao poder público, porém, não eram aceitos por conta do valor histórico da casa. Álvaro Manzoni, durante entrevista a equipe de jornalismo, afirma que a casa não poderia ser reformada, apenas restaurada dada sua antiguidade.

A Casa Manzoni é um prédio centenário. Tanto é que a única parte permitida para demolição foi a estrutura mais nova, cuja construção é datada na década de 60. Logo, esta parte mais recente da edificação tem pelo menos 52 anos. Este anexo, único construto do terreno que podia ser removido, não era original da casa.

Porém, no Feriado de Finados, nos últimos dois dias de outubro e primeiros dois de novembro, os proprietários do imóvel, contrariando as proibições e autorizações da prefeitura de Monte Belo do Sul, puseram um tapume ao redor da residência e demoliram parte da construção original. A atitude pegou a comunidade local de surpresa. As pessoas, relatou Manzoni, ficaram revoltadas com tal ação.

O Grupo RSCOM esteve no local para averiguar o que houve com o imóvel (imagem ao lado). Lá, restam apenas os destroços da construção centenária.

Medidas tomadas pelo Poder Público

A demolição foi um ato que contrariou as determinações da prefeitura de Monte Belo do Sul. Logo após a descoberta do que havia sido feito no imóvel, a obra (que caso tivesse continuidade, poderia resultar na Casa Manzoni demolida por completo) foi embargada pelo poder público. Além disso, o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, Artístico, Cultural, de Desenvolvimento e Turismo Sustentável (COMPHACDTUR), gerou um processo foi iniciado no Ministério Público do Rio Grande do Sul.

Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Monte Belo do Sul manifestou-se através de nota. Confira abaixo o documento na íntegra.

Em vista dos recentes ocorridos referentes à demolição de parte da Casa Manzoni,
construção histórica que faz parte do conjunto patrimonial da área central do município, a
Prefeitura Municipal de Monte Belo do Sul esclarece os procedimentos que foram seguidos
para que a situação fosse evitada e, consequentemente, devidamente responsabilizada.
O processo iniciou no dia 02 de julho, quando os proprietários do imóvel protocolaram o
primeiro pedido de demolição, por meio do processo nº 701/2021. A solicitação foi negada
pelo Município, amparado no parecer do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico,
Artístico, Cultural, de Desenvolvimento e Turismo Sustentável (COMPHACDTUR), pois o
pedido versava no desmanche de toda a parte lateral da casa, abrangendo uma
construção histórica, datada de 1888. Dessa forma, em 03 de setembro, houve o segundo
pedido, protocolado através do processo nº 935/2021. Nesse, foi solicitada a demolição
parcial do anexo lateral, fora do perímetro da construção histórica, além de pequenos
anexos na parte traseira da casa. O pedido, então, foi autorizado. Contudo, no final de
semana dos dias 30 e 31 de outubro desse ano, os proprietários desrespeitaram a
autorização e demoliram toda a parte lateral, incluindo a construção histórica, infringindo a
ordem municipal.
A partir disso, o Poder Público Municipal embargou a obra e notificou os proprietários.
Neste momento, Prefeitura e COMPHACDTUR estudam quais medidas cabíveis podem
ser aplicadas para que a infração seja devidamente punida e, assim, possa inibir situações
semelhantes. O setor jurídico do Município está analisando e revisando o conjunto de leis
municipais vigentes e, de forma conjunta, outras instâncias que possam corroborar para o
caso.
A Prefeitura Municipal reforça o empenho e o compromisso em zelar pelo patrimônio
histórico de Monte Belo do Sul, vista a riqueza cultural e arquitetônica do município. Ao
encontro disso, também será iniciado, em breve, um trabalho de inventariação de bens
históricos locais, com uma equipe de técnicos especializados no assunto. O intuito é
justamente salvaguardar essas construções e conscientizar a comunidade local sobre a
importância da preservação. “

Versão dos proprietários 

Os proprietários do imóvel foram procurados pela reportagem do Grupo RSCOM, porém não responderam as tentativas de contato.

E agora?

Justiça: Como citado, após o embargo da obra pela prefeitura, o COMPHACDTUR de Monte Belo do Sul, acionou o Ministério Público. Até o momento, a denúncia é uma “Notícia de Fato”, ou seja, é a etapa onde o MP avalia o cabimento da investigação a respeito do caso.

Empresários, moradores e autoridades demonstraram bastante descontentamento em relação a demolição de uma peça histórica da cidade. Muitos aguardam o que ocorrerá e esperam uma punição pelo desrespeito a uma determinação da prefeitura.

A casa: Como a casa foi construída há quase um século e meio, não existe uma planta baixa ou outros documentos referentes a maneira como foi projetada. Desta forma, uma reconstrução de sua estrutura de forma exata é praticamente impossível. Quem afirma isso é Marta Perin, presidente do COMPHACDTUR.

“A questão da reconstrução Eu acho impossível. Vou te dizer assim se fosse o caso de uma reconstrução tu teria que contratar um especialista em restauro. Como é que se faz isso? Qual o custo disso? Então, assim, para se ter uma noção do que é um patrimônio, não se tem noção do que custaria uma reconstrução… Mas isso já não tem mais como fazer porque sabe Deus o que fizeram com as esquadrias. Não se tem fotos internas… não tem como. Então é uma coisa que morreu para sempre”.