
Cartel do gás em Caxias, cartel da gasolina em todo o país, roubo de cargas no Rio, justificativas para aumentos abusivos nas contas de energia elétrica e mais, explicações para uma inflação abaixo do piso. Mas aonde é que fomos parar?
A gente acorda com esta sucessão de más notícias e a vontade que dá é a de viver um dia de fúria. Pegar em panelas, piscar luzes, fazer passeata gritando palavras de ordem. Não, isto já aconteceu e não adiantou.
Pois este pequeno mosaico desenhado com cores de desespero e desencanto nos faz refletir sobre qual foi o momento, qual foi a esquina em que, décadas atrás fomos nos desprender da lógica pra enveredar por este caminho cheio de absurdos que, no mais das vezes, já nem nos assusta.
Vejam que a notícia e o vídeo com entrevista publicado no Leouvê sobre o cartel do gás em Caxias expõe de forma clara algo que se desconfia, mas que nunca é palpável. Agora parece ter saído do submundo e entrou na cozinha de todos nós. Como alguém pode resistir às pressões e ameaças de bandidos organizados e ante um sistema jurídico e penal que não funciona? É assim, afinal, que funciona o Brasil. Seremos um país fadado ao infortúnio? Entregue às milícias e a um Congresso que funciona como a Máfia e suas várias ramificações?
A conta da energia subiu muito em 2017 porque em anos anteriores havia sido represada, eram anos eleitorais. Opa, então cuidado. Este ano sobe menos e depois vem pesada. O presidente do Banco Central precisa se desculpar ou explicar porque é que a inflação oficial de 2,95% está tão baixa. Não. Ele teria que explicar porque é que no final do mês a inflação no bolso do cidadão de forma alguma é esta que o Governo descaradamente prega.
A gasolina a R$ 4,40 e o gás em inalcançáveis R$ 80,00 são punhais no pescoço do assalariado que teve o salário mínimo reajustado em R$ 17,00. E o que dizer da “classe média” que ao receber nababescos R$ 1.900,00 por mês precisa declarar imposto de Renda? Imposto este, aliás, cuja tabela nunca é corrigida. Já tivemos 88,4% de inflação corroendo nosso salário e a tabela do IR não muda. Isto é aumento de imposto ás avessas. Um descaramento governamental sem igual.
Gostaria de declarar às gerações mais novas que o Brasil não foi sempre assim. Tinhamos carências, éramos mais desdentados e se morria mais cedo. Mas, assalto de cargas era crime reprimido. Andar com fuzis nas ruas do Rio de janeiro, só se fosse milico reprimindo a democracia (e tem gente que prega esta solução à qual me oponho desde já).
Nos anos 70 o Brasil não era autossuficiente em petróleo. Os postos fechavam aos finais de semana (loucura) e viajar para o exterior era coisa pra milionário, já que tinha que fazer um depósito compulsório absurdo. Mas não se pagava tanto assim pelo litro e a Petrobrás era um orgulho para a Nação.
Desculpem, não é saudosismo que quero impregnar até porque o que passou, passou e lá também tínhamos coisas ruins a resolver. Mas é preciso lembrar que não podemos, por uma questão de cidadania, nos acostumar com tão más notícias e pensar que ainda vivemos neste país tropical de praias, carnaval e caipirinha. Aqui se mata no asfalto e no assalto. Aqui se perde a dignidade em macas de hospitais se condições de prestar atendimento e é neste Brasil que se impede o cidadão de progredir na vida quando quem faz empréstimo para pagar faculdade sai para a vida profissional com uma dívida impagável. Parece que tá tudo errado e vai ser difícil encontrar o nó da questão.