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Câmara aprova impeachment de Trump e caso vai para o Senado dos EUA

Manifestantes carregam cartaz contra Donald Trump em ato em frente ao Capitólio a favor do impeachment do presidente americano - Drew Angerer/Getty Images/AFP
Manifestantes carregam cartaz contra Donald Trump em ato em frente ao Capitólio a favor do impeachment do presidente americano - Drew Angerer/Getty Images/AFP

Em um dia histórico para a política americana, a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou nesta quarta-feira (18) o impeachment do presidente Donald Trump.

De maioria democrata, o plenário da Casa registrou 230 votos a favor e 197 contra a acusação de que o presidente cometeu abuso de poder ao pressionar a Ucrânia a investigar Joe Biden, seu principal adversário na eleição de 2020.
Ao menos dois democratas votaram pela permanência de Trump no cargo.

O presidente também é acusado de obstruir do Congresso ao atrapalhar as investigações depois que o episódio fora descoberto —a denúncia que será votada em seguida.

Eram necessários 216 votos para aprovar o impeachment —maioria simples dos 431 deputados em plenário— mas o resultado ainda não é suficiente para tirar Trump da Casa Branca.

As eleições nos EUA, no entanto, não se baseiam no voto popular, mas sim no sistema indireto de Colégio Eleitoral.
Justamente com o temor de ver o impeachment parar no Senado e ter que lidar com o fracasso político às vésperas de 2020, a cúpula democrata resistiu por muito tempo em avançar com o processo no Congresso.

No entanto, diante das informações de que Trump havia pressionado a Ucrânia a investigar Biden e o filho dele, Hunter, a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, precisou mudar de postura.

Em 24 de setembro, ela anunciou a abertura do processo de impeachment e deu início ao inquérito contra Trump.
A partir daí o Comitê de Inteligência da Câmara conduziu interrogatórios sobre as acusações com diplomatas, funcionários de alto escalão do governo e especialistas.

No fim de novembro, as audiências se tornaram públicas, em uma estratégia da oposição para angariar apoio popular à tese de que Trump atuou de forma irregular quando pressionou a Ucrânia.

E as testemunhas não decepcionaram. Em depoimentos transmitidos ao vivo pela TV, confirmaram que o presidente havia condicionado ajuda militar de US$ 391 milhões ao país do leste europeu a apurações contra os Bidens.
A contrapartida é um dos pilares cruciais da oposição para mostrar o desvio de conduta e abuso de poder de Trump em suas relações com a Ucrânia.

Em 3 de dezembro, o Comitê de Inteligência da Câmara divulgou seu relatório sobre o processo de impeachment.
Em seguida, foi a vez do Comitê Judiciário começar os trabalhos para deliberar se os atos do republicano se enquadravam nas definições do Artigo 2º, Seção 4 da Constituição dos EUA, que traça as regras para o impeachment.

A Carta estabelece que o presidente “deve ser removido do cargo através do impeachment se condenado por traição, suborno e outros altos crimes.”

O deputado democrata Jerry Nadler, presidente do Comitê Judiciário e responsável por redigir as acusações contra Trump, chegou a convidar o republicano a depor, mas ele se negou a ir ao Congresso.
Após a elaboração dos dois artigos —ou acusações— de impeachment, o processo seguiu para o plenário da Câmara, etapa concluída com a votação desta quarta-feira.

Trump nega qualquer irregularidade em sua relação com a Ucrânia e diz que o telefone com Zelenski foi um evento corriqueiro, sem pedidos com contrapartidas.

Na terça-feira (17), o presidente enviou uma carta de seis páginas a Pelosi dizendo que protestava de maneira “forte e poderosa contra o impeachment”, o qual ele descrevia como uma “cruzada” liderada pelos democratas.
Nos bastidores, porém, o presidente diz querer esticar ainda mais o processo —enquanto os democratas trabalharam para acelerá-lo nas últimas semanas— já que o tempo corre contra a oposição.

Dois dos principais pré-candidatos, Bernie Sanders e Elizabeth Warren, são senadores e estarão comprometidos no julgamento do Senado ao invés de se dedicarem à campanha nos estados, por exemplo.

Essa é a terceira vez na história americana que a Câmara aprova o impeachment de um presidente. Andrew Johnson, em 1868, e Bill Clinton, em 1998, sofreram impeachment na Câmara, mas foram absolvidos pelo Senado.
Richard Nixon renunciou antes da votação da Câmara em 1974, ao perceber que perdia apoio entre seus próprios aliados e seria removido do comando da maior potência mundial.

Fonte: Folha de São Paulo