
Imagine-se um homem, uma bola e a ideia de inserir uma cidade do interior do Rio Grande do Sul no mapa mundial do Vôlei. Afinal se o Brasil é multi-campeão da modalidade no cenário internacional, participar da maior competição do esporte no pais, significa realmente estar entre os grandes e abrir inúmeras oportunidades para atletas e profissionais.
Este homem obstinado era o professor de educação física Clemente Mieznokowski, 66 anos, que na manhã deste sábado perdeu a luta de mais de ano que vinha travando contra o câncer. Ele estava recebendo cuidados paliativos em Porto Alegre cercado pela família – a esposa Cenira, os filhos Vinícius, Vicente e Natália. Os atos fúnebres terão lugar nas capelas São José, a partir das 15 deste sábado.
Como professor de Educação Física Clemente logo optou que o vôlei seria o esporte capaz de integrar e disciplinar alunos que, sem esta opção, iriam todos acabar correndo atrás de uma bola. Começou com as categorias de base nas escolas onde lecionou. Daí a participar de competições fora do município foi um passo. Mas não era o suficiente. Os desafios seriam outros, maiores. Auxiliado pela popularidade que o vôlei alcançou ao conquistar medalhas olímpicas e título mundiais, Clemente foi dos principais responsáveis pela ascensão do vôlei na cidade.
Inicialmente jogando sob o manto do Clube Esportivo, foi a partir de 1998/99 que acabou colaborando com a criação da Sociedade Educativa e Cultural Poli-Esportiva Bento Gonçalves, logo conhecida e reconhecida como uma marca que ganhou notoriedade, o Bento Vôlei. Foram inúmeras participações na Superliga Nacional nos anos 2000. De todo este movimento restaram inúmeros atletas locais convocados para a seleção brasileira e prosseguindo carreira em outros clubes no Brasil e no exterior.
O professor conseguiu mobilizar empresários e agiu nos bastidores para que grandes incentivadores do esporte no país viessem conhecer o seu projeto
Graças aos contatos de Clemente Bento Gonçalves conviveu com nomes que faziam parte da elite do vôlei nacional: Jorginho, Paulão, o mineiro Cebola além do local Ponticelli e de gente que por aqui se radicou, como Fernando Rabello.
O hoje vereador Rafael Fantin, Dentinho, não tem dúvidas em apontar a importância do professor Clemente: “Participo de grupos de whats de ex-atletas e te asseguro que há uma comoção no meio. O Clemente foi um abnegado, um homem persistente que atuou com igual competência e dedicação desde a iniciação ao esporte de alto rendimento. É uma perda irreparável para a cidade e para o mundo do vôlei”.
Passagem pela Política
Em 2013 o treinador e supervisou ex- supervisor do Bento Vôlei se arriscou na política e com o auxílio do amigo Francisco Andognini e da turma do vôlei se elegeu vereador pelo PDT. O mais votado naquela eleição. Exerceu seu único mandato até 2016. Em 2019 seria nomeado Coordenador Geral do Departamento de Desenvolvimento e Acompanhamento de Políticas e Programas Intersetoriais de Esportes, Educação, Lazer e Inclusão Social em Brasília.
Clemente se despede deixando enorme legado ao esporte local e certamente transformou a vida muitos que se não chegaram à seleção, se tornaram pessoas melhores.