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Bem-vindos do inferno

Bem-vindos do inferno

Hoje, a gente dá os parabéns a um time gaúcho que sobe pra primeira divisão. E subir pra primeira divisão é mesmo uma façanha a ser comemorada. É chegar ao topo e estar entre os melhores ou voltar de onde nunca deveria ter saído.

Foi no ano do centenário da abolição da escravatura que o principal campeonato do país se livrava das correntes que o prendiam a longos anos de retrocesso e estabeleceu o rebaixamento.

E nunca caia na historinha de que o rebaixamento é bem-vindo para forçar uma reestruturação, talicoisa, porque ninguém precisa chegar ao fundo do poço para tomar uma atitude correta.

Sem falar que muitas vezes quem vai nem volta para contar a história, ou passa o resto da vida sofrendo com as chagas da derrocada.

Mas as lágrimas de mais ou menos 50 torcidas não foram em vão – ainda que isso não sirva de consolo para nenhuma delas – porque, afinal de contas, o Brasileirão ganhou credibilidade e virou produto depois de uma ou outra virada de mesa. Mas isso não vem ao caso.

E olha que, nessas 30 edições desde 1988, 90% das equipes que disputaram a primeira divisão já sentiram a dor da queda para a Série B. Então cai o pequeno, cai o menor, cai o médio e cai o grande, podicrê. O que faz a diferença é saber como eles voltam lá de baixo. Até hoje, dos que caíram, uns 30 fizeram o caminho de volta pelo menos uma vez enquanto outros 20 e tantos ficaram pelo caminho de volta.

E hoje a gente celebra especialmente que uma delas chegou. Um time gaúcho subiu pra primeira divisão.

Houve tempo em estaríamos falando do Juventude, do Caxias, até do Brasil de Pelotas…

Mas desde que o Grêmio provou que time grande cai lá em 1991, muitos clubes carimbados pagaram a sua cota de pecados e foram fazer uma visitinha ao inferno da segundona.

Mas, mesmo que não seja mais nenhuma novidade, o estrondo ainda é maior quando um dos grandes cai. Natural, porque são clubes de enorme tradição, donos de vários títulos e com grandes torcidas. E porque recebem as maiores cotas de TV e de patrocínio e que, por isso mesmo, precisam ser mais cobrados.

E daí é que vem a humilhação de jogar a Série B. Mas a verdadeira humilhação geralmente está no que derrubou o time, nos salários atrasados, na falta de investimentos em infraestrutura, na incompetência ao montar times medíocres ou a imperdoável capacidade de conseguir ficar atrás de times com bem menos capacidade de investimento.

E já foi o Grêmio duas vezes como outros enormes e agora, pela primeira vez na história, é o Inter.

E o acesso veio com duas rodadas de antecedência. Nada mais do que a obrigação, como era obrigação levar o título que deixou escapar pra esquecer a lembrança em algum canto escuro da sala de troféus.

Mas tudo bem, considerando o sofrimento, o futebol medíocre, a troca de treinadores e as contratações de emergência, o filme até podia ter sido pior. Porque quem sofre mesmo é o torcedor, que tem de aturar os memes e a gozação dos rivais, que parece que não terminam nunca, nénão?

Pois terminou. E agora você pode se renovar e regozijar porque o teu time voltou. Mas não se iluda, porque as vitórias insossas não servem como parâmetro. Não foi o acaso o que fez o  Inter cair, e parece que quase todos os erros do ano passado estão ali, intactos, à espreita pra atacar de novo.

Porque não é a visita ao inferno que salva. É preciso querer depurar, identificar as causas e se mexer pra mudar. Mas, pra isso, é preciso olhar pra dentro e remexer nas feridas com humildade.

Quem aprende segue adiante, se reconstroi e reconquista espaço. O Palmeiras, O campeão Corinthians e o próprio Grêmio são exemplos disso. Todos estão hoje entre os melhores do país.

No caso do Inter, agora começa uma nova etapa. Ainda não há soluções, nem esquema definido, nem dá pra dizer que Odair Hellmann merece mesmo ser efetivado, e nem dá pra garantir que nada disso mereça seguir.

É hora de estabelecer um projeto realista pra 2018. Agora, é alívio e estratégia.

Foi duro, o título nem veio, mas acabou. Parabéns amigos colorados. Sejam bem-vindos do inferno. Vocês passaram por isso.