Política

Assessor do vereador Maurício Marcon é alvo de investigação na Câmara de Caxias do Sul

Assessor recebe R$ 5.230,29 para comparecer nas sessões da Câmara de Vereadores, mas edita vídeos em casa para o vereador.

Assessor do vereador Maurício Marcon é alvo de investigação na Câmara de Caxias do Sul
Foto: Especial Leouve

A diretoria da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul abriu sindicância, na última semana, para investigar o caso de um suposto funcionário atuando irregularmente no legislativo. A presidente da Câmara, Denise Pessoa, confirmou que a investigação foi instaurada sob sigilo, mas evitou revelar a identidade do funcionário.

Entretanto, a reportagem do Portal Leouve teve acesso as informações que apontam que o funcionário investigado é Marco Carbonera de Almeida, lotado no gabinete do vereador Maurício Marcon (Podemos).

Carbonera foi nomeado como assessor parlamentar (CC6), em dezembro de 2021, com remuneração de R$ 5.230,29, após a abertura de uma vaga de assessor para a bancada do Podemos, que passou a existir depois do ingresso do vereador para o partido.

A investigação está focada em esclarecer a falta do funcionário, principalmente nas sessões, uma vez que, de acordo com o levantamento da própria Câmara, Carbonera não havia comparecido na casa desde a contratação até o último dia 22 de julho, data em que a sindicância foi instaurada.

A Reportagem requisitou informações sobre o relatório de frequência do funcionário por meio do ponto eletrônico. A resposta foi dada pelo setor de Recursos Humanos da Câmara, que apontou que o controle da frequência dos cargos em comissão são apresentados por planilhas mensais assinadas pelos próprios vereadores.

O documento que a reportagem teve acesso aponta que, de janeiro a junho desse ano, o vereador Maurício Marcon assinou todos os registros de efetividade do funcionário, mesmo sem ele ter comparecido no local de trabalho.
Em consulta ao servidor de contas dos usuários de logins para o uso diário dos funcionários da Câmara, foi constatado pelo sistema de informática da Câmara de Vereadores que o funcionário apontado como fantasma jamais acessou o login criado para o trabalho.

“Consta em nossos sistemas que a conta de usuário do senhor Marco Carbonera de Almeida foi criada em 11 de fevereiro de 2022. E, em consulta ao nosso servidor de contas de usuários, não se localizou acesso à conta do senhor Marco Carbonera de Almeida desde a sua criação até o dia 15 de julho de 2022.”

O diretor Geral da Câmara de Vereadores, Ricardo Barazzetti, que foi quem encaminhou o pedido de investigação para a presidência, também confirmou que a sindicância foi instaurada com base em indícios de irregularidades. “Sim. Na semana passada foi aberta a sindicância para apurar a falta de um servidor da casa”, conta.

Quando questionado sobre o teor da investigação, o diretor disse que não pode revelar o tema, em razão do caso estar tramitando em sigilo de justiça. Já a presidente da Câmara de Vereadores, Denise Pessoa (PT), não entrou em detalhes em relação a sindicância, mas falou sobre o rito da investigação. “Em princípio um servidor, cujo o nome também será mantido em sigilo, tem 10 dias iniciar a investigação para emitir um parecer e depois disso vamos dar os próximos passos do processo”, revela.

A tentativa
Em ligação na manhã desta quinta-feira (04), dia de sessão, ao telefone central da Câmara de Vereadores para o ramal do gabinete do vereador Marcon, a reportagem foi informada por uma assessora do parlamentar que o assessor Marco Carbonera de Almeida não estava no local de trabalho que deveria estar, mas que, de acordo com assessoria, “não se encontrava hoje por estar resolvendo questões na rua”.

Carbonera, também foi procurado durante a tarde pela Reportagem do Portal Leouve para dar a sua versão sobre o caso, entretanto, ele atendeu apenas uma das ligações e disse que logo ligaria de volta, mas até o fechamento da matéria não retornou.

O contraponto do vereador
Em contato com o vereador Maurício Marcon via telefone, o parlamentar alega que já entregou todas as provas necessárias à sindicância para afirmar que Carbonera presta serviços para as redes sociais, mas que não consegue trabalhar no “computadorzinho” ofertado pelo Legislativo aos funcionários.

Sendo assim, trabalha todos os dias de um estúdio, e compareceria apenas as quartas-feiras na Câmara para reunião de equipe. Cabe salientar que nem mesmo nas datas em que supostamente Marco de Almeida frequenta a Casa para reuniões, o ponto eletrônico não é registrado.

Em vídeos compartilhados nos stories do Instagram, Marcon, erroneamente, afirma que a denúncia do “suposto funcionário fantasma” teria partido do Grupo RSCOM, detentor das marcas Rádio Viva e Portal Leouve. Porém, em nenhum momento, a denúncia partiu do veículo de comunicação.

Ainda durante o telefonema entre reportagem e parlamentar, Marcon afirma que “nós sabemos quem fez a denúncia”, ou seja, contradizendo o próprio vídeo publicado em sua rede social.

Em tom de ameaça, o vereador Maurício Marcon ainda afirmou em ligação para a reportagem do Portal Leouve ter “cuidado” ao divulgar as informações sobre o assessor, fazendo referência a um jornalista que foi demitido de um veículo de comunicação após uma matéria referente a “chás” que ele tomava na Câmara de Vereadores.

Marcon afirmou que assina as planilhas de ponto do assessor, sem que ele compareça à Câmara.

“O sonho é que não faça mais vídeos, discursos, que eu morra. Eu não vou morrer. Eu vou continuar fazendo meus vídeos. Ele (Marco) trabalha até fora do horário, até fim de semana, trabalha mais que assessores da Câmara, tem gente que trabalha até drogada. Teve um (jornalista) que colocou que eu tomava chá e hoje nem tá mais lá. Então tem que ter cuidado”, disse Marcon.

Quando questionado sobre o Cargo de Confiança nível 6 – o qual Carbonera ocupa – necessita trabalhar presencialmente na Câmara de Vereadores, Marcon não soube responder o questionamento. “Tá, beleza. Ele não presta (serviço na CV). Ele não faz isso, beleza. Ele trabalha do estúdio dele, não consegue fazer do computador da Câmara. Mas ele não está na Câmara, quer colocar que ele é um funcionário fantasma, pode colocar, depois vocês respondem. Eu sei quem fez a denúncia, tu (repórter) também sabe, sem mais delongas”, diz.

Confira a entrevista com o Vereador: