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As duas mortes de um homem

As duas mortes de um homem

A morte é sempre algo que fere, que machuca e não cicatriza. Afinal, a morte é uma perda, e a dor de perder alguém é algo que nunca ninguém conseguirá explicar. Não importa o tempo que passar, a morte é sempre um corte que não cura, a ferida que mesmo fechada segue a doer.

É também esse sentimento o que reuniu na dor e na saudade neste domingo familiares e amigos na lembrança da memória do ex-prefeito de Bento Gonçalves Roberto Lunelli, morto há exatamente um ano em um trágico acidente rodoviário.

E eu lembro da tragédia aqui hoje, no mesmo espaço em que lamentei a perda de um homem a quem aprendi a respeitar como um político proativo, um professor admirado, um homem comum e do povo, no que de melhor isso representa.

E é por isso que, um ano depois, eu lembro de Roberto Lunelli e de sua morte. Porque, como eu disse há um ano, a morte de Lunelli não seria lamentada somente pelos familiares, amigos, alunos, correligionários e simpatizantes.

Se a morte deixa a quem ama mais pobres, há casos em que essa pobreza transcende a ligação afetiva. Por isso, a gente sabia ontem e confirma hoje que a morte de Roberto Lunelli nos deixou a todos mais pobres.

E não se trata aqui de concordar com as ideias ou perdoar os erros, mas de entender a falta que faz um homem que vivia com entusiasmo seus projetos e desejos de construir uma vida melhor para a cidade e, principalmente, para aqueles que menos podiam.

Hoje, é possível dizer que a morte de Lunelli deixou Bento Gonçalves mais pobre.

Porque a morte de Lunelli enfraqueceu o debate sobre os caminhos de Bento Gonçalves, e porque a morte dele é também a síntese de uma época tão incapaz de produzir homens públicos acima dos interesses comezinhos.

Mas, se em vez de extinguir, a morte transforma, se ela não aniquila, mas renova; e se não divorcia, mas aproxima, então talvez a morte tenha mesmo mais segredos pra nos revelar que a vida.

Um poeta já disse que um grande homem é aquele que morre duas vezes. Primeiro, como homem; e depois, como grande homem.

E é exatamente isso que faz hoje a memória de Lunelli.

Mas se você morre mesmo duas vezes, uma vez quando seu coração para de bater, e a outra quando as pessoas dizem seu nome pela última vez, então eu digo uma singela homenagem, Roberto Lunelli.