Em um cenário de crise econômica que parece não ter fim, os argentinos comparecem às urnas neste domingo (22) para escolher o presidente entre um de seus líderes tradicionais, o peronista Sergio Massa ou a conservadora Patricia Bullrich, e o disruptivo Javier Milei, um ultraliberal antissistema que abalou o tabuleiro político.
Com uma taxa de inflação de quase 140% em 12 meses e o aumento do índice de pobreza, que afeta mais de 40% da população, os eleitores chegam exaustos ao dia da eleição, que pela primeira vez em três décadas é disputada por três aspirantes competitivos, em vez de apenas dois nomes das grandes forças políticas.
A votação começou às 8h e prosseguirá até 18h (mesmo horário de Brasília). “Precisamos de uma mudança. O país é um desastre. Na verdade, entre a pobreza e a inflação, as pessoas estão em má situação”, declarou à AFP Gabriela Paperini, 57 anos, que trabalha como voluntária em um centro eleitoral em Buenos Aires.
Ela declarou voto em Bullrich, mas disse que sua filha votará em Milei. Com presença na política apenas desde 2021, quando foi eleito deputado, Milei, que completa 53 anos neste domingo, é o favorito nas pesquisas, após surpreender como o candidato mais votado nas primárias de agosto.
“A força que surge como disruptiva é a que ficou em primeiro nas primárias e a que tem maior capacidade de crescimento”, explicou à AFP Paola Zubán, diretora da consultoria Zubán, Córdoba e Associados. Com um discurso contra o que chama de “casta política ‘chorra'” (de ladrões), este economista de extrema-direita insiste que pode vencer a eleição no primeiro turno.
Embora as principais pesquisas apontem que Milei será o mais votado, nenhum instituto ousou afirmar que ele venceria no primeiro turno ou contra qual candidato disputaria o segundo turno, que está programado para 19 de novembro. Para vencer já neste domingo, um candidato precisa de 45% dos votos, ou 40% e uma vantagem de 10 pontos em relação ao segundo mais votado.
Contra o status quo
Milei pretende dolarizar a economia, acabar com o Banco Central, reduzir drasticamente os gastos públicos, eliminar o Ministério da Mulher e revogar a lei de aborto, entre outras propostas. Ele enfrenta na eleição o atual ministro da Economia, Sergio Massa, da coalizão União pela Pátria (peronismo de centro-esquerda), e a ex-ministra da Segurança Patricia Bullrich, da aliança de centro-direita Juntos pela Mudança.
Mas com participações nos governos que não conseguiram reverter a deterioração econômica do país – Bullrich no Executivo de Mauricio Macri (2015-2019) e Massa na atual gestão de Alberto Fernández (2019-2023) -, ambos enfrentam muitas dificuldades para atrair novos eleitores.
Juan Negri, cientista político da Universidade Torcuato di Tella, destaca que nem todos os eleitores de Milei são de extrema direita, “nem são todos favoráveis a dolarizar a economia ou a eliminar os subsídios. A adesão é mais uma declaração de princípios com a qual afirmam que estão fartos da classe política”.
Terceira maior economia da América Latina, historicamente a sociedade argentina tem orgulho de sua ampla classe média. Porém, a economia não cresce há mais de uma década. Em 2018, o país assinou um compromisso com o Fundo Monetário Internacional para um programa de crédito de 44 bilhões de dólares que exige uma redução significativa do déficit fiscal.
Além da presidência, os argentinos também definem neste domingo metade das cadeiras da Câmara dos Deputados e um terço do Senado. As pesquisas indicam que nenhum partido conquistará a maioria parlamentar. O novo presidente assumirá o cargo em 10 de dezembro para um mandato de quatro anos. O país tem 35,8 milhões de eleitores registrados.
Fonte: Correio do Povo